ANÁLISE-Impacto político do mensalão sobre eleições é incerto
27 de julho de 2012 | 16h 20
JEFERSON RIBEIRO - Reuters
O impacto político do julgamento do mensalão se diluiu
ao longo dos últimos sete anos desde que o escândalo veio à tona, mas a
oposição ainda acredita que a superexposição do tema na mídia em agosto
pode se transformar num trunfo eleitoral. O efeito dessa estratégia,
porém, não é garantido.
Essa será a primeira vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) se
debruçará sobre uma ação penal dessa envergadura, recolocando na ordem
do dia o mensalão, escândalo deflagrado após entrevista do então
deputado Roberto Jefferson em junho de 2005 sobre um suposto esquema de
compra de apoio parlamentar.
Para Jefferson, que era presidente nacional do PTB na ocasião e é
novamente agora, o julgamento será um "divisor de águas" para a classe
política.
"Tenho certeza que o Supremo será técnico. Não será político, mas
será severo, exemplar", disse à Reuters Jefferson, acusado de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.
De olho no possível impacto eleitoral, os dois principais partidos de
oposição ao governo, o PSDB e o DEM, veem no julgamento um trunfo
contra o PT nas eleições deste ano.
"(O mensalão) é uma coisa que certamente estará nas campanhas, mais
ou menos dependendo do local", disse o presidente do PSDB, deputado
Sérgio Guerra (PE).
"Tem muito paulista no mensalão, vão ter que justificar (a denúncia)
mais uma vez", disse Guerra indicando que os tucanos adotarão o
julgamento como estratégia eleitoral em São Paulo.
O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), não vê necessidade
de usar o julgamento como estratégia de campanha, mas também acredita
que o PT sofrerá abalos na disputa por conta da retomada do escândalo
pela mídia.
"O julgamento do mensalão vai reavivar na população o que o PT é. O
tempo apaga muita coisa e o povo tem memória curta, mas o julgamento vai
reavivar os métodos do PT", argumentou Agripino, que vê maiores
consequências para candidatos nos grandes centros urbanos.
"A discussão desse tema enfraquece o PT. No passado e agora de novo", insistiu Guerra.
EFEITO LIMITADO
A estratégia, porém, tende a não dar resultado, na avaliação do professor Roberto Romano, da Unicamp.
"Eu acho que efeito eleitoral será quase zero", avaliou o cientista
político. Segundo ele, os principais petistas envolvidos estão até
afastados das disputas eleitorais e, por isso, "a relação deles com o
eleitorado é cada vez mais distante", disse. "Então, usar isso na
eleição não terá consequências."
Apenas um réu do mensalão concorre a prefeito, o deputado João Paulo
Cunha, que disputa a prefeitura de Osasco (SP). Cunha, que deixara a
presidência da Câmara alguns meses antes do escândalo vir à tona, é
acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB),
concorda com Romano e diz que o "candidato atacado pode dizer que não
tem nada a ver com isso, que não era nem nascido naquela época",
brincou.
Fleischer discorda ainda do argumento dos partidos de oposição de que
a superexposição midiática do caso vai minguar os votos do PT. "O
eleitor vai ser forçado a lembrar, mas não será forçado a analisar e
levar o impacto para o voto."
Para o petista Cândido Vaccarezza (SP), ex-líder do governo na
Câmara, existe outro argumento para minimizar os possíveis impactos do
uso do julgamento pelos opositores: "eles não têm moral para assumir a
bandeira ética".
Quando surgiu o escândalo do mensalão, voltaram à tona denúncias
contra o tucano Eduardo Azeredo, que teria se envolvido com o empresário
Marcos Valério quando tentava a reeleição ao governo mineiro em 1998. O
mesmo Valério que foi chamado por alguns como "operador" do mensalão.
Já o outro grande partido de oposição enfrentou o que ficou conhecido
na mídia como o "mensalão do DEM" em 2009, após a divulgação de imagens
que mostravam o então governador do Distrito Federal, José Roberto
Arruda, e parlamentares recebendo dinheiro suspeito.
Para os petistas, a exploração do mensalão já foi usada, sem sucesso,
na eleição presidencial de 2006, no pleito municipal de 2008 e
novamente em 2010.
"Em 2006, todo mundo achava que o Lula não tinha chance e ele não
ganhou no primeiro turno por pouco", disse o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, que em 2005 ocupava a pasta do Planejamento. No segundo
turno, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito com
folga sobre o tucano Geraldo Alckmin.
"Se alguém está achando que vai ganhar eleição municipal com isso vai
dar com os burros n'água", acrescentou Bernardo.
Fleisher e Romano lembram ainda que tradicionalmente os brasileiros
não votam em partidos e privilegiam a personalidade do candidato na hora
da escolha.
Já Roberto Jefferson aposta que o resultado do julgamento terá
impacto eleitoral seja qual for o partido, e não vê o PT como único
prejudicado.
"Mesmo os inocentes vão sentir o efeito", avaliou.
(Edição de Alexandre Caverni e Eduardo Simões)