quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Folha e a nefasta campanha contra a universidade pública e a tentativa perene de levar a brasa para a sardinha privatista. Colocar o texto que agrada ao jornalão acima do que desagrada, é técnica visual muito banalizada e conhecida, desde a propaganda, no seu berço com a sofística. É tão ridículo quanto o "recebido em almoço" e o "suposto" sempre que os bravos redatores querem evitar processos. Klemperer ajuda muito a ler jornais...ou então aquele filósofo importante que dizia ""eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz...". Bom dia, São Paulo!


Índice geral São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2012Opinião
Opinião


Raul Abramo e João Barata

O ASSUNTO DE HOJE: USP

Entre a meritocracia e o aparelhamento
A população dá R$ 3,7 bi ao ano à USP, mas a falsa democracia interna pregada por militantes oportunistas só serviria a seus interesses sindicais e políticos
A universidade tem uma missão tríplice: educar as novas gerações, produzir conhecimento e promover sua ampla difusão. Essa é a matriz do sucesso social, científico, cultural e econômico de todas as sociedades que alcançaram alto grau de desenvolvimento.
As universidades que cumprem essa missão não são "gratuitas": somente em 2011 o Estado de São Paulo gastou mais de R$ 3,7 bilhões com a Universidade de São Paulo.
São os contribuintes de São Paulo que arcam com esses custos. Eles detêm o legítimo direito democrático de decidir como a USP e as demais universidades públicas estaduais devem ser dirigidas de modo a melhor servir-lhes.
Os pesquisadores da USP, que têm desempenhado um papel de enorme importância no desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil, defendem essa visão acadêmica da universidade pública e sua continuidade. Porém, a exemplo de outras maiorias silenciosas, eles são bem menos estridentes que certos grupos de oportunistas acadêmicos que, ornados de uma pseudointelectualidade a reboque da militância político-partidária, se arrogam o direito de representá-los.
Segundo essa militância, é a sociedade que deve servir aos seus interesses políticos e sindicais.
Assim, a universidade seria privatizada em favor de seus docentes, funcionários e alunos, que passariam a determinar "democraticamente" sua gestão, a despeito dos interesses maiores do país.
Essa visão néscia é popular entre entidades de autodesignados "representantes docentes", que há muito abdicaram de qualquer papel acadêmico, reduzindo-se à defesa de interesses sindicalistas, como questões salariais e trabalhistas, assim como às jogatinas das estruturas de poder.
O leitor não se iluda: as "eleições" desses representantes, assim como suas assembleias decisórias, reúnem uma parcela ínfima dos docentes.
Em particular, a ideia por eles difundida de que os "professores da USP" defendem a eleição "democrática" para reitor é uma farsa, por partir de entidades de representatividade questionável e por envolver uma distorção da noção de democracia.
Vale dizer, entretanto, que o atual processo de escolha do reitor da USP é talvez o segundo pior -só perdendo para a obtusa "eleição paritária" defendida pelos sindicalistas.
Como está hoje configurada, a eleição para reitor é uma sombra que recai sobre a USP, resultando, entre outras distorções, em um crescente aparelhamento dos órgãos acadêmicos, visando garantir votos para a eleição seguinte.
Como, então, proceder a essa escolha? As universidades de classe mundial resolveram há muito esse problema. Em quase todas o governo, a sociedade civil e as instituições que ajudam a financiá-las apontam os membros de um conselho, cuja missão é zelar pelo cumprimento de sua missão acadêmica.
Esse conselho escolhe, após rigoroso processo internacional de busca e seleção, o reitor da universidade. Trata-se de uma concepção oposta à de uma eleição direta, mas que garante a supremacia do profissionalismo e da eficiência em detrimento da politicagem.
O abismo entre uma universidade acadêmica e cientificamente forte, servidora da comunidade que lhe sustenta, e uma universidade corporativista e apegada aos sonhos de uma militância anacrônica tende a aumentar.
Nestes tempos, com exigências crescentes sobre as capacidades produtivas, de criação e de inovação das sociedades, as universidades públicas como a USP demandam reformas corajosas que venham ao encontro dos interesses da pesquisa e do ensino de qualidade.
A alternativa é seu sucateamento e o consequente empobrecimento geral do país.




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Opinião
Heloísa Borsari, César Minto e Elisabetta Santoro

O ASSUNTO DE HOJE: USP
A quem interessa o autoritarismo?
Na USP, há militarização e visão produtivista, que lança docentes à competição descabida. Além disso, o movimento estudantil e os sindicatos são perseguidos
Não obstante tudo que seus professores, funcionários e estudantes criam nas ciências e nas artes, a Universidade de São Paulo sempre foi, institucionalmente, uma das mais conservadoras universidades do país, dada a sua estrutura oligárquica e a anacrônica eleição indireta de reitores e diretores.
Além disso, ultimamente a reitoria da USP tem reavivado práticas dos tempos da ditadura militar: espionagem, incursões policiais e crescente militarização do espaço físico dos campi.
O combate a vozes dissonantes se baseia em instrumento do período autoritário, o decreto 52.906 de 1972, e se expressa em mais de cem processos disciplinares e ações judiciais, que têm resultado na expulsão de estudantes, no risco iminente de demissão de diretores do Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp) e na interpelação judicial de toda a diretoria da Associação dos Docentes (Adusp).
Em 2011, a entrada da Polícia Militar se deu sob a alegação de garantir a segurança na Cidade Universitária, mas até hoje a reitoria sequer instalou iluminação adequada dos campi. A contratação de três coronéis para chefiar a recém-criada Superintendência de Segurança, bem como a anunciada instalação de cancelas e de guaritas elevadas, tendem a isolar cada vez mais o campus Butantã do restante da cidade.
O comportamento da reitoria vincula-se ao projeto de sucessivos governos para o ensino superior, com vistas a submeter as universidades a interesses privados.
Daí decorrem a intenção de descaracterizar a universidade pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada; a necessidade de atacar os sindicatos e perseguir o movimento estudantil; bem como o processo em curso de ampla terceirização de funcionários técnico-administrativos.
Tal projeto é, ainda, a fonte da complacência dos gestores universitários com a liberdade de atuação das fundações privadas ditas "de apoio" e com outras ações que desfiguram a função social da USP, como os fundos privados de captação de recursos (endowments).
A situação é grave e não se restringe à USP, apesar de nela atingir o nível mais agudo. Tanto é que a Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo realizou, recentemente, uma audiência pública sobre o financiamento das universidades estaduais e a criminalização dos movimentos sociais que nelas atuam.
Na USP, as reformas iniciadas ou completadas na atual gestão, tais como o novo Regimento da Pós-Graduação, as diretrizes para a Criação de Cursos e a Carreira Docente, refletem a concepção produtivista e mercantil predominante, que tantos danos vêm causando ao ensino superior no país.
Todas elas realizadas sem efetiva discussão com os interessados, lançando professores numa competição descabida, em vez de estimular a docência, a pesquisa, a extensão de qualidade.
Assim procedendo, a reitoria da USP não só coloca em risco a qualidade social do tripé ensino-pesquisa-extensão. Ao optar pela intolerância e por criminalizar os movimentos sindical e estudantil, deixa de cumprir o papel de instituição exemplar para o conjunto da sociedade.
Afinal, a quem servirá uma universidade pública em que o pensamento crítico, o direito de opinião e as liberdades políticas são ameaçados cotidianamente?