Como digo desde longa data, não existiu ditadura militar. O que se deu foi uma ditadura civil e militar, sendo que os militares, não raro, serviram de "mão de gato"para ardilosos civis. Em minha Aula Magistral para a Unicamp, sobre Democracia e Razão de Estado, insisto em tal ponto.
Endereço da aula que dei na Unicamp, sobre o assunto : http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/76B3RH83KYNO/
Comissão da Verdade vai apurar ida de civis ao Dops
Deputados estaduais querem investigar relação entre visitas de representantes da Fiesp e do Consulado dos EUA a centro de repressão
17 de fevereiro de 2013 | 16h 20
Roldão Arruda, de O Estado de S. Paulo
A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva quer
investigar as possíveis relações entre os serviços de repressão e a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no período da
ditadura militar. O anúncio oficial da investigação deve ocorrer nesta
segunda-feira, 18, durante uma audiência pública programada para as 14
horas, no Auditório Paulo Kobayashi, na Assembleia Legislativa.
Arquivo/AE
A decisão da comissão foi tomada dias atrás, após o Arquivo Público
do Estado tornar público o conteúdo de uma série de livros com o
registro de pessoas que entravam e saíam da ala de delegados e diretores
do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Aqueles
documentos revelam que um dos visitantes mais assíduos era Geraldo
Resende de Mattos, identificado pelos funcionários que faziam as
anotações nos chamados livros de portaria como representante da Fiesp.
De acordo com levantamento feito pelo Estado publicado ontem,
em sua fase mais ativa no Dops, entre 1971 e 1976, Mattos realizou mais
de 200 visitas à sede da instituição, no Largo General Osório, no
bairro da Luz. Seu nome aparece em todos os seis livros divulgados no
site do Arquivo Público, que cobrem o período entre março de 1971 e
janeiro de 1979.
O Dops de São Paulo era um dos principais centros de
investigação e repressão de dissidentes políticos no regime militar. Era
o palco de operações do delegado Sérgio Paranhos Fleury Filho, apontado
por pesquisadores daquele período como o agente público que levou para a
área de repressão políticas métodos que eram empregados contra
criminosos comuns.
Embora ampla, a cobertura dos livros de portaria que foram
tornados públicos é precária, com lacunas. Quem consultá-los (estão
disponíveis na internet) vai constatar, entre outras falhas, que não há
informações sobre 1977.
Negativa. Procurada pela reportagem, a Fiesp informou que
Mattos nunca fez parte do seu quadro de funcionários. Em nota pública, a
entidade de representação do empresariado industrial paulista também
enfatizou que sua atuação tem se pautado "pela defesa da democracia e do
Estado de Direito, e pelo desenvolvimento do Brasil". Ainda segundo a
nota, "eventos do passado que contrariem esses princípios (democráticos)
podem e devem ser apurados".
A Comissão Estadual, segundo seu presidente, Adriano Diogo
(PT), também vai investigar as relações entre o Consulado dos EUA em São
Paulo e o Dops. "Queremos saber por qual razão o senhor Claris
Halliwell, que aparece identificado nos livros como cônsul americano, ia
tanto ao Dops", diz o deputado.
Pelo levantamento divulgado pelo Estado, Halliwell frequentou
o Dops durante mais de três anos. Em 1971, a média de suas visitas
chegou a duas por mês - o que era incomum para representantes
diplomáticos. O presidente da comissão, que pediu a ajuda de um
colaborador nos Estados Unidos para investigar o passado de Halliwell,
não descarta a hipótese de que ele tenha assessorado os serviços de
repressão.
"Queremos esclarecer os fatos, tendo em vista que a CIA, o
serviço secreto americano, assessorou regimes autoritários na América
Latina", diz ele.
O Consulado dos EUA informou não ter registro de antigos
funcionários e, por isso, não poderia confirmar a presença de Halliwell
em São Paulo, o cargo que ocupava nem o motivo de suas idas ao Dops. A
assessoria de comunicação observou que quase todos os representantes
diplomáticos costumam se apresentar como cônsul.
Segundo um parente próximo de Geraldo Resende de Mattos, que
pediu para não ser identificado, ele era ligado ao Serviço Social da
Indústria (Sesi) e havia se especializado na análise de informações do
movimento sindical.
A audiência de hoje é a primeira de uma série que a Comissão Estadual deve realizar no mês.