quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sobre a tortura, de Fernando Mario de Oliveira Filho, uma excelente reflexão.



Sobre a tortura, sempre ligada à razão de Estado, veio-me à mente um ensaio de Jacques Maritain que, infelizmente, nunca vi ninguém trazer ao debate. Imagino que o senhor o conheça, trata-se de um ensaio chamado "The End of Machiavellianism", contido no livro "The Range of Reason" (tenho o livro em inglês e acredito que tenha sido escrito em inglês, não sei se há traduções).

Eu acho particularmente interessante a seguinte idéia: muitas vezes, governos/sociedades tomam medidas imorais/injustas pensando em sua própria preservação. Assim justificam-se guerras, torturas, etc. E muitas vezes temos a impressão de que isso tudo é bom e funciona! Maritain diz que isso é, na maioria das vezes, ilusório: só ficamos com essa impressão pois não conseguimos viver tempo o bastante para ver como de tais ações brotam inúmeros problemas. Aliás, hoje em dia diria que, mais e mais, conseguimos viver tempo o suficiente para ver que, geralmente, a injustiça não compensa. E veja-se o que ocorre agora com a Primavera Árabe, etc.

Em particular, acho que o ensaio é interessante contra os que invocam o realismo para justificar de tudo, como alguns dos articulistas que o senhor menciona no blog! Sempre que alguém fala em "realismo", fico já com um pé atrás, pois há sempre de se entender o que o sujeito pensa que seja a realidade. E, se a realidade for de fato como a descrita por Maritain, então os verdadeiros realistas diriam que torturas não devem ser aceitas.



Fernando Mário de Oliveira Filho