quarta-feira, 11 de junho de 2014

Midia News, via Portal Unicamp

Política / COMPORTAMENTO
08.06.2014 | 00h30 - Atualizado em 07.06.2014 | 16h23
Tamanho do texto A- A+

Região Sul do Brasil concentra cerca de 100 mil simpatizantes do neonazismo

Em oito anos, País recebeu mais de 228 mil denúncias de sites com apologia ao crime

DO R 7
Imagens da suástica, adoração ao ditador alemão Adolf Hitler, crença na superioridade da raça ariana. Essas expressões parecem retiradas dos livros de história, mas o nazismo ainda encontra eco no mundo atualmente. Os neonazistas extrapolaram os limites da Europa e têm milhares de representantes, inclusive no Brasil.

A novela Vitória, que estreou nesta segunda-feira (2) na Record, tem o neonazismo como um dos pontos polêmicos da trama. Em tempos de intolerância de alguns setores da sociedade, os personagens Paulão (Marcos Pitombo), Enzo (Raphael Montagner) e Priscila (Juliana Silveira) interpretam cenas sobre o assunto, como crimes contra negros e homossexuais.

Com um impressionante número de 45 mil pessoas, Santa Catarina é o Estado brasileiro com a maior concentração de simpatizantes do nazismo. Somados os Estados do Rio Grande do Sul e Paraná, a região Sul soma hoje cerca de 100 mil pessoas que apoiam essas ideias. Os números estão em um estudo realizado pela antropóloga e pesquisadora Adriana Dias, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 2013.


Um monitoramento da internet feito pela pesquisadora, que estuda o assunto há mais de dez anos, revelou o número de internautas que baixam um volume expressivo de arquivos de sites nazistas. Aqueles que fizeram mais de 100 downloads e não são pesquisadores são considerados simpatizantes.

De acordo com Adriana, os grupos neonazistas eram predominantes no Sul do País, mas nos últimos anos têm crescido no Distrito Federal (8.000 internautas), em Minas Gerais (6.000 simpatizantes) e em São Paulo (29 mil).


O número de denúncias de neonazismo no Brasil expõe uma realidade alarmante. Em oito anos, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, recebeu e processou 228.962 relatos anônimos a respeito de 21.921 sites sobre o tema, com imagens, textos, vídeos, músicas e outros materiais de apologia. As páginas são escritas em sete idiomas — inclusive o português — e foram encontradas em 32 países.

Considerado um crime, o neonazismo é caracterizado pela publicação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda da suástica (também conhecida como cruz gamada) para divulgar ou incentivar o nazismo.

Para denunciar esse tipo de conteúdo, o internauta deve acessar o formulário de denúncia apresentado na Safernet e colar o endereço do link suspeito. O registro é anônimo.

A quantidade de sites em todo o mundo destinados a esse conteúdo cresce expressivamente, na marca de 170%: se em 2002 havia 7.600 endereços, em 2009 o número saltou para 20.502.

O mesmo fenômeno de expansão foi observado nas 250 redes sociais que a antropóloga analisou, já que 91% delas possuem comunidades neonazistas, antissemitas e negacionistas. A pesquisa mostrou também que o número de blogs sobre o assunto cresceu mais de 550%.

Neonazismo na prática

Além das informações disponíveis e de apologia ao crime, o neonazismo também se manifestou na prática em cidades como Botucatu e Belo Horizonte, por exemplo.

Em outubro de 2013, foram encontradas pichações com símbolos nazistas, como a suástica, e ofensas contra homossexuais em pelo menos 12 locais de Botucatu, a 238 km de São Paulo.

Em Belo Horizonte, um jovem de 25 anos, supostamente participante de organizações neonazistas, foi acusado de agredir um catador de materiais recicláveis com uma corrente na Savassi, região centro-sul da capital mineira, e fazer apologia ao nazismo. Ele postou a foto da agressão no Facebook.

Segundo a antropóloga Adriana Dias, não há uma única maneira de entrar no movimento neonazista, mas é comum a história do jovem que, em busca de uma causa, acaba sendo recebido pelo grupo, que o convence de que o negro ou o judeu tomaram o espaço no mercado de trabalho ou na universidade.