A UNE
NÃO ERA ATRELADA...NOS VELHOS TEMPOS
J. R. Guedes de Oliveira
Velhos tempos que
deixaram marcas, mas, também, exemplos edificantes. Um destes posso muito bem
dizer, pois que, na década de 60, líder estudantil, admirávamos e seguíamos a
cartilha da UNE – União Nacional dos Estudantes, mesmo sendo secundaristas.
Sonhávamos e
discutíamos, opinando sobre os rumos do nosso Brasil, ante uma década
conturbada, principalmente aqui na América Latina. Havia Francisco Julião, Cheddi Jagan, Douglas Bravo,
Coronel Caamano Denno e tantos outros que fizeram história – uma enorme lista
de figuras que a juventude estudantil observava atentamente, desejando entender
a cada perfil e a cada ação movida pelos mesmos. Na Europa, a juventude, aqui,
observava o que Daniel Cohn-Bendit desejava.
Mas a nossa UNE era
sagrada. Nem é preciso dizer dos seus presidentes que tiveram força, brio e
dignidade. Mas, acima de tudo, nunca foram atrelados a nada, a não ser na
defesa da educação, do estudo, da honestidade de dirigentes e no desejo de um
gigante país.
Não me lembro de
receber, a UNE, benesses, gratificações, valores corrompidos. Era entidade de
lisura e transparência que, pelos seus grandes vultos, empunhara a bandeira de
luta, como um soldado pronto a defender a Pátria. Não havia mordaça consentida
ou “tapa-boca”.
Velhos e saudosos
tempos!
A UNE já não é mais a
mesma: agora, um amontoado de esquisitas figuras, mais voltadas aos interesses
governamentais e, o que é mais perigoso e vergonhoso, atrelados ao sistema.
Perdeu ânimo; recuou desejos; afinou-se aos mandatários e, sem esboçar qualquer
palavra, vê-se perdido no tempo e no espaço. Que presente inglório! Que passado
retumbante!
A UNE que conheci, de
Aldo Arantes a Luís Travassos (Marcos Brant, José Serra, Altino Dantas, Jorge
Luís Guedes – destemidos, sempre!), era algo indescritível, coisa de se
orgulhar pelo que estes fizeram em prol da vida estudantil e pelas diretrizes
mais altas do país, em permanentes manifestações.
Soube que a UNE ganhou
terreno em Brasília, avolumou o seu caixa e, por grande tristeza, baixou a
crista, sentando ao lado dos dirigentes e voltando as costas para os seus mais
sagrados compromissos: a educação.
Onde estão estes
dirigentes que deveriam seguir em frente nas manifestações por uma educação
melhor? Onde estão eles, para batalhar em favor dos professores e melhores
condições do exercício em sala de aula? Onde estão eles, para gritar,
esbravejar, empunhando cartazes e tudo o mais, contra os corruptos e desonestos
de um Brasil melhor? Onde estão eles, que poderiam até ter a cara pintada?
Pasmem! Há muito tempo a
UNE está nas mãos de um partido político (PCdB), que determina, sem a menor
sombra de dúvidas, o que ela deve ou não fazer. Atrelados, amarrados, atados –
acorrentados, pois, - não é nem sombra da grandiosidade do seu passado. É
triste ver uma entidade que não cumpre o seu papel histórico e, mais ainda, se
demonstra de total apatia por qualquer movimento reivindicatório. Nadar em
dinheiro, das chamadas benesses institucionais palacianas, é de uma total falta
de legitimidade.
Quando a UNE voltará a
ter brilho próprio? Pago para ver!