PT faz ‘ajuste fiscal’ interno para não quebrar após escândalo da Petrobrás
Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
03 Abril 2015 | 23h 03
Com caixa avariado devido à falta de doações de empresas, que se retraíram com denúncias de corrupção na estatal, partido de Dilma Rousseff adota contenção de despesas em seus diretórios, que inclui corte de pessoal e de passagens aéreas
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Demissões, cortes de gastos, aperto orçamentário. Não é apenas
o ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff que tem incomodado
o PT. Em meio a uma queda brutal de arrecadação provocada pela redução
das doações privadas desde que o tesoureiro João Vaccari Neto passou a
ser investigado pela Operação Lava Jato, o partido está enfrentando um
ajuste drástico em suas próprias contas.
Depois de mais de uma década de bonança, o partido está sendo
forçado a economizar por falta de dinheiro, mesmo diante de um forte
aumento do Fundo Partidário neste ano – o Congresso aprovou a elevação
de R$ 289,56 milhões pagos em 2014 para R$ 867,56 milhões.
O uso de passagens aéreas por dirigentes foi limitado,
diretórios regionais demitiram funcionários, o aluguel de espaços para
eventos foi otimizado e até o uso de telefones foi restrito.
Integrantes da Executiva Nacional do PT, órgão responsável
pela administração direta do partido, tiveram a verba de telefonemas
reduzida de R$ 500 para R$ 100. Muitos deles preferiram trocar de
celular, optando por operadoras mais baratas.
Verbas com táxi, combustível, alimentação, serviços técnicos
de terceiros, advogados e gráficas também foram contingenciadas. Segundo
a direção do partido, a única área que não foi afetada é a de
comunicação, para onde são direcionados todos recursos economizados em
outras despesas. Apesar disso a implantação da TV PT está atrasada em
quase um mês.
Na reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com
presidentes estaduais e dirigentes, na segunda-feira passada, quase toda
a executiva petista viajou com passagens pagas do próprio bolso ou
compradas com pontos acumulados em programas de fidelidade.
Desde o início deste ano, o único dirigente que tem autonomia
para reservar passagens aéreas sem pedir autorização é o presidente
nacional do partido, Rui Falcão. Depois dos gastos com pessoal, que em
2013 somaram R$ 13 milhões, as viagens são o principal item de despesas
do PT, com R$ 7 milhões.
No aniversário de 35 anos realizado em Belo Horizonte, em
fevereiro, dirigentes de outros Estados que participaram de um seminário
de formação política pagaram as despesas do próprio bolso. Vários deles
percorreram centenas de quilômetros de automóvel e fizeram vaquinhas
para pagar o combustível. Alguns se hospedaram de favor nas casas de
amigos ou correligionários.
A festa contrastou com a época das vacas gordas, quando
dezenas de convidados eram hospedados nos melhores hotéis das cidades
com todas despesas custeadas pelo partido. O evento, que nos primeiros
anos do PT no governo incluía shows musicais, jantares, bancas de
charutos e produções hollywoodianas, este ano contou apenas com um ato
político no Minas Centro. A música ficou por conta de um violeiro
solitário.
Estados. Embora tenham relativa autonomia
financeira em relação ao diretório nacional, os diretórios estaduais do
partido também estão fazendo ajustes. O partido não tem números fechados
mas estima que mais de 30 pessoas foram demitidas nos escritórios
estaduais do partido este ano. Os mais afetados foram Rio Grande do Sul e
São Paulo que, além de perderem o apoio nacional, tiveram os repasses
do fundo partidário suspenso por erros de contabilidade.
Em 2013, ano do último balanço disponível, a direção nacional
repassou R$ 92,5 milhões para estados e municípios, dos quais cerca de
R$ 35 milhões são frutos de doações privadas – o restante saiu do Fundo
Partidário.
A crise financeira do PT está diretamente ligada à Operação
Lava Jato. De acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Federal,
empresas que prestavam serviços à Petrobrás repassavam parte da propina
ao PT por meio de doações oficiais ao partido. Segundo eles, o operador
do esquema era Vaccari, que é réu na ação que julga os desvios na
estatal. Embora tenham sido feitas dentro da legislação eleitoral, com
recibos e registros contábeis, as doações são investigadas como dinheiro
de corrupção. Isso afugentou outros doadores. Vaccari tem dito que as
doações privadas ao PT simplesmente acabaram.
De acordo com a prestação de contas ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) relativa a 2013, as contribuições de pessoas jurídicas
foram o principal item de receitas do PT, responsável por R$ 79,7 dos R$
170 milhões recebidos pelo partido. Em segundo lugar vem o Fundo
Partidário, com R$ 58,3 milhões e em terceiro o “dízimo” cobrado dos
filiados que ocupam cargos eletivos ou comissionados em administrações
petistas, de onde saíram R$ 32,6 milhões.
Vaccari diz que não há porcentual específico para o ajuste,
mas confirma a contenção. Segundo ele, as atividades fundamentais do PT
serão preservadas.