De quem é a culpa da repressão aos professores no Paraná?
por Danillo Ferreira
30 abr 2015
Atuar em manifestações populares é um dos maiores desafios
operacionais para um policial. É muito difícil, para não dizer
impossível, manter total controle dos movimentos coletivos na rua, dada a
variedade de intenções (tanto de integrantes das manifestações quanto
de infiltrados que, muitas vezes, tem intenções políticas ao causar
algum distúrbio num movimento a princípio pacífico).
O ideal é atuar de maneira pontual, cessando cirurgicamente a prática
de alguma violência, reagindo apenas contra o responsável por ela. Mas
isso é o ideal. Nem sempre há treinamento e equipamento para isso. Às
vezes simplesmente não é possível identificar responsáveis. Às vezes
falta paciência, preparo psicológico e controle das emoções.
Considerar todos esses elementos é essencial para analisar qualquer
atuação policial em manifestações, como a que ocorre agora em Curitiba,
onde mais de 200 manifestantes (a maioria professores) já foram feridos
por conta da ação policial no Paraná. Os professores estão se opondo a
um pacote de austeridade do Governo Estadual, suprimindo direitos
trabalhistas e previdenciários.
Para quem não lembra, o atual Governador do Paraná é o mesmo que, ano passado, declarou que
“uma pessoa com curso superior muitas vezes não aceita cumprir ordens
de um oficial ou um superior, uma patente maior”, se opondo à exigência
de curso superior para os policiais militares.
Na operação para reprimir a manifestação dos professores, o efetivo utilizado é maior que o aplicado na capital curitibana diariamente!
Para ter uma noção do clima que se encontra a cúpula do Governo
paranaense com a repressão aos professores, segue um vídeo divulgado
pelo Blog do Esmael, recebido de um integrante do primeiro escalão do executivo estadual, onde o clima de “oba oba” é escandaloso:
Sobre as condições de trabalho em que se encontram os policiais
militares, o Abordagem Policial recebeu algumas manifestações de
PMs reclamando dos turnos de trabalho e das instalações a que estão
submetidos. Em um caso específico, a própria imprensa divulgou que policiais
militares do interior convocados para atuar na capital foram expulsos
de um hotel por falta de pagamento das diárias por parte do Governo.
PMs punidos por se recusarem a atuar
Não bastassem todos esses detalhes que mostram como a situação está
sendo conduzida com o fígado, e não com o cérebro, adiciona-se o fato de
policiais militares estarem presos por se recusarem a participar do cerco contra professores.
Outra fonte informa que cerca de 50 policiais militares teriam sido presos.
De quem é a culpa?
Está claro que há uma orientação política irresponsável do Governo
para a utilização do aparato policial (composto por trabalhadores) para
reprimir trabalhadores se manifestando. Aliás, é o que parece,
desrespeitando até mesmo condições básicas para a atuação dos policiais.
Estando os policiais subordinados a um Governo que se comporta desta
forma, é preciso ter muita inteligência e moderação para conduzir esse
tipo de ação, pois não é o governador que responde objetivamente pelo
tiro disparado, pelo bastão lançado e pelo agente químico utilizado.
Todo policial sabe que entre a ordem e a execução existe a capacidade
de ser razoável no cumprimento da missão. Depois não adianta dizer que
“só estava cumprindo ordens”, ainda mais em uma operação para conter
professores, colegas de funcionalismo público, reivindicando direitos.