Ao comentar, ontem à noite, o post do Blog It's about nothing sobre o caso da brasileira na Suiça, disse que desconfiava da imprensa e de boa parte da própria Suiça. Pois bem, hoje a Folha traz a "novidade"abaixo, que deveria deixar muito colunista "isento de ideologia" com a pulga atrás da orelha. Repito: criticar ideologias é tarefa difícil e que traz consequências desastrosas para o crítico. Quem critica a esquerda seletivamente fica indignado quanto a direita é criticada, e vice versa. Acho anacrônica a designação espacial que definiu a política desde a Revolução Francêsa. Mas não sou tolo o bastante para achar que a antiga esquerda (que há bom tempo chamo de ex-querda) sumiu e que nada sobrou da antiga e também rançosa direita. Sentir orgasmos quando a exquerda comete das suas e se calar quanto a direitona reitera o que sempre praticou não é mister do crítico, mas do apologista disfarçado com a máscara da isenção. Insisto na leitura do linguista Jean Pierre Faye (Théorie du récit, uma análise da lingua totalitária) existe uma "ferradura na lingua", palavras e noções que brotam na esquerda seguem o caminho da comunicação e, de repente, são apropriados pela direita. E o caminho inverso também ocorre. É assim que nasceram f'órmulas hediondas, em ocasiões idem, por exemplo no Tratado entre URRS e Alemanha nazista. Naqueles dias foi cunhada a frase que refletiu bem a natureza dos regimes tratantes: "nacional-bolchevismo".
RRSão Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Revista que cita suposta farsa é ligada a partido DO ENVIADO A ZURIQUE A revista semanal suíça "Die Weltwoche", que noticiou a versão de que a brasileira Paula Oliveira confessou ter mentido à polícia suíça, tem claros laços ideológicos com o partido ultranacionalista SVP (Partido do Povo Suíço), cuja sigla foi escrita com um objeto cortante na pele da brasileira. Considerada há uma década a publicação preferida da elite intelectualizada de esquerda da Suíça, nos últimos anos ela começou a se inclinar para a direita, e hoje sua linha editorial é alinhada com a ideologia do SVP. A guinada se consolidou com a compra da revista, em 2006, pelo empresário conservador suíço Roger Köppel. Até hoje persistem os rumores, não comprovados, de que o semanário é financiado pelo magnata Christoph Blocher, um dos homens mais ricos do país e que está entre os principais dirigentes do SVP. Na guerra de mídia em que se transformou o caso Paula Oliveira, com ataques constantes na Suíça ao comportamento do governo e da imprensa brasileiros no episódio, a reportagem do "Die Weltwoche" assume um tom de que desvendou a farsa montada pela brasileira. Mas em nenhum momento cita a fonte de suas informações. Para muitos suíços, o primeiro indício de que Paula estava mentindo foi a associação entre o SVP e neonazistas, que lhes parece exagerada. Mas não faltam imigrantes para dar exemplos de xenofobia na Suíça, alguns violentos. "Fui agredido por homens de cabeça raspada, só por ser estrangeiro", contou o mecânico brasileiro Warley Alves Pinto, 19, que mora em Dübendorf, perto de Paula. "Me falaram que aqui não é meu país e começaram a me bater." (MN) |