| Jornal O Tempo": (17/02/09). | |
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Resposta a José Dirceu
Roberto Romano
Na semana passada, um jato de ódio me atingiu, emitido por certo político cuja mai or virtude é ter sido cassado por não manter o decoro parlamentar. Após ler a entrevista concedida por mim ao jornal O Globo (8/2/2009), José Dirceu afirma que o pior, na citada matéria, seria o trecho seguinte: “‘Que avaliação faz do Congresso, que optou por manter nomes da velha política?’ Romano: ‘Se existe legislatura abaixo de qualquer expectativa positiva, podemos falar da atual. Assuntos de interesse coletivo, como a crise na economia, os problemas de ciência e tecnologia, a segurança pública, a saúde etc., passam ao largo dos debates no Congresso’”. O condenado por falta de decoro avança que o meu enunciado é “Mentira das grossas, só difundida para achincalhar e avacalhar o parlamento, e ampliar o papel político da mídia (...) É uma mentira que pode ser comprovada com as leis e medidas aprovadas na área de ciência e tecnologia, e principalmente na de segurança pública, nas duas casas do Congresso. Trata-se de uma afirmação grave que engana os leitores dos jornais, mas serve aos propósitos de desmoralizar o parlamento que já tem seus erros e defeitos que não precisam ser ampliados com inverdades como essa”.
“Avacalhar”, “mentira das grossas” e vocábulos do mesmo calão, próximos da sarjeta, desqualificam toda pessoa que se queira digna de viver em sociedade. Emporcalham ainda mais indivíduos que tiveram nas mãos a vida nacional. Nos bas fonds da marginalidade tal jargão é corriqueiro, mas ainda não se tornou idioma de Estado. É certo que Dirceu e seus amigos tudo fazem para gerar tal efeito. O cassado, por não mostrar decoro, se acostumou aos insultos que intimidam faltos de inteligência ou oportunistas. Ele se alienou da vida civil e não percebe o nojo pelo fedor da boca podre, sentido entre pessoas cujo hábito é respeitar a dignidade alheia.
Uma das causas para que ele fosse ejetado do cargo, segundo o relator do processo que o condenou (Julio Delgado, PSB-MG) reside na sua ignorância “das limitações. (...) Faltou-lhe o sentido do que poderia e deveria fazer e do que não poderia fazer em nome do povo brasileiro e representando a Casa". A cassação foi decidida por 293 votos, algo relevante em casos parlamentares. Persiste o vezo apontado pelo relator, pois Dirceu ainda hoje imagina possuir o direito de caluniar quem enxerga a política por lentes diversas das suas. A grosseria habitual na Casa Civil (lembro as gargalhadas dos deputados, quando na CPI ele proclamou não ser arrogante) não foi corrigida. Passa o tempo e mais ele ataca o que resta da frágil decência política e bajula os que o expulsaram do Congresso. Estratégia bem tosca, digna de alguém que sempre levou seus liderados ao desastre, de Ibiúna ao caso Waldomiro Diniz. Ainda em 28/1/2009, o Ministério Público reiterou ação de improbidade administrativa contra o ex-ministro e assessor. Sempre que os seus adeptos iam para a rua da amargura, Dirceu encontrou confortáveis avenidas. Ontem Cuba lhe deu sossego, hoje é a consultoria a empresários, o aprendizado do inglês talvez para ser deputado nos EUA. Afeito aos disfarces da clandestinidade, o petista modelo ataca os inimigos das máscaras, os que dizem as coisas sem torcer enunciados ou dobrar o joelho diante dos palacianos.
Ao reagir com truculência (usada no PT para domar militantes e políticos sem espinha), Dirceu me acusa de “deitar falação” sobre a vida brasileira e o Congresso. Dias atrás, o Senado cortou milhões da pesquisa científica e tecnológica, causando a grita dos pesquisadores brasileiros. Mentira da grossa? Um dono de empresa privada de segurança é posto fora da corregedoria da Câmara. Mentira das grossas o problema não encaminhado da segurança? E assim vai.
Para defender o PMDB (na verdade, o PT mancomunado com a pior facção daquele partido), ele solta sua baba de ódio contra mim. Na Veja , logo depois, Jarbas Vasconcelos repete o que eu disse, piorando as cores. Voltarei ao caso, podem esperar.