Lula vai manter em evidência a candidatura de Dilma, dizem cientistas políticos
Plantão | Publicada em 19/05/2009 às 19h30m
SÃO PAULO - Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai manter em evidência a candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência, mesmo assistindo a disputas alimentadas pelo problema de saúde que acomete a pré-candidata. Fernando Abrucio, professor de Política da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que Lula aposta na ministra como a pessoa com maiores chances de vencer o segundo turno das eleições e, por isso, não vai abrir mão da candidatura. Para ele, a base governista, inclusive, não tem nenhum nome forte que compense a saída da ministra do páreo. Já o professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, afirma que a doença de Dilma pode acender o fogo amigo. Ele diz que o governo sairá no prejuízo se a ministra se afastar nesse momento.
A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, trata um câncer linfático e foi internada na madrugada desta terça-feira no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com dores nas pernas. Segundo os médicos, as dores foram causadas por um quadro de miopatia, que é uma inflamação muscular. Os dois cientistas acreditam que se ela atravessar o período com tranquilidade, sua campanha se fortalece.
- Em uma situação como essa, a faca do PMDB pode ser colocada na barriga de Lula. Evidentemente a candidatura Dilma sofreu perda com essa doença. É difícil saber se o tratamento será tranquilo ou doloroso, mas se a ministra passar por esse momento de forma serena, ela se fortalece - diz Romano.
Para o professor da Unicamp, o fato de a base aliada não ter um nome de abrangência nacional para suceder Lula é ponto positivo para a manutenção do nome de Dilma. Ele lembrou que a ministra estava subindo nas pesquisas e já chegava a 12% das intenções de voto, o que significa que não poderá se afastar muito do eleitorado, "deixando o tabuleiro parado em um momento tão importante da sucessão presidencial". Outro problema, segundo ele, é o afastamento de Dilma de suas funções de ministra chefe da Casa Civil. No cargo, Dilma tem total centralização de poder e de condução das políticas do governo Lula.
- É estilo do presidente Lula dar ao chefe da Casa Civil poder nas decisões. Quando perdeu José Dirceu, Lula teve dificuldade de dar andamento às ordens no Planalto. Dilma conseguiu recuperar o baque sofrido pelo presidente. Agora, o afastamento dela do governo pode gerar uma disfuncionalidade. Esse é o problema de um governo centralizador. O que é sabido é que Guido Mantega e nenhum outro ministro têm condições de suprir essa necessidade do presidente - avalia Romano.
O cientista político Rubens Figueiredo, da Cepac, empresa de pesquisa e comunicação, diz que Dilma Rousseff vinha, sem dúvida, subindo nas pesquisas com a exposição em eventos do governo federal. Para ele, a doença tira a mensageira de boas notícias, de investimentos no PAC e do pré-sal, por exemplo, dos acontecimentos positivos, e isso pode refletir nas pesquisas. Figueiredo afirma que um licenciamento da ministra não seria uma boa medida nesse momento, pois a tira da posição estratégica dentro do governo.
- É ela quem toca o PAC, que é o programa de maior visibilidade do governo Lula. Não há ninguém com a visão dela. Embora o PAC seja um fiasco, não há ninguém que conduz o programa com muita energia como Dilma - diz Figueiredo.
Ele diz que se a ministra se licenciar do cargo e voltar depois com boa aparência, pode emplacar uma boa candidatura.
- Dilma vinha formando a imagem de uma mulher forte, que enfrenta todo o tipo de coisa. O tratamento, no entanto, a deixa debilitada. Isso passa uma idéia de fragilidade. Nós vivemos na sociedade da imagem, do espetáculo. Uma pessoa debilitada em praça pública não é trunfo para a candidatura de ninguém. Se ela sair e voltar com boa aparência, pode emplacar novamente uma boa candidatura - afirma.