segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

It´s about nothing, com o meu pleno apoio e aplauso!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Reflexos de nosso tempo







Estou muito preocupado com os rumos desta nação. Não me refiro apenas ao lixo que toma conta da política deste país, mas ao nível de grande parte da população brasileira.

Ao andar pelas ruas de qualquer grande cidade (São Paulo e Campinas, por exemplo, onde sempre transito) a sensação reinante é a de que os bons modos, boas maneiras, educação e cortesia são artigos de luxo, mais do que isto, quando alguém demonstra qualquer atitude que preze por estes princípios é retribuído com o espanto ou mesmo com o escárnio por parte dos outros que não apenas desconhecem tais gestos como também os despreza completamente. Principalmente as pessoas mais jovens (me refiro a crianças, adolescentes e jovens adultos).

Basta olhar rapidamente para as ruas e patrimônios públicos de nossas cidades: pichações em paredes, prédios, monumentos e estátuas, praças constantemente vandalizadas e destruídas, ruas imundas e pessoas descartando qualquer objeto nas ruas, até mesmo de carros e ônibus. Esta semana dirigindo o meu carro em uma movimentada avenida de Campinas tive que desviar de uma lata de refrigerante que vinha em direção de meu pára-brisa atirada por uma menina aparentando ter pouco mais de quinze anos da janela de um ônibus. Não é a primeira vez que flagro pessoas atirando papéis, embalagens e recipientes pelas janelas de carros e ônibus com a maior naturalidade e sem se preocupar sequer se a lata ou garrafa plástica atingirá alguém. O descaso não é apenas com a limpeza da cidade (quando entopem as bocas de lobo em tempestades vociferam contra o poder público) e com as boas maneiras, mas também com o bem estar e segurança alheios.

Noto uma raiva e uma fúria incontroláveis nestes jovens, muito disto deve-se a total ausência de educação e disciplina reinantes na sociedade brasileira (e ocidental) não vou enumerar os motivos e os responsáveis (começando pelos pais em casa). Mas prefiro relatar três fatos que denotam bem a época em que vivemos.

Ontem fui a São Paulo prestar uma prova para o concurso público de analista fiscal da receita federal (you know. Estabilidade, bons salários o nirvana da classe média assalariada nacional) em pinheiros na escola estadual Fernão Dias Paes ao chegar ao local fiquei surpreso com o nível do prédio. Uma construção antiga (certamente algum tipo de casarão) muito bem conservada confesso que até achei estranho este prédio ser destinado para abrigar uma escola estadual. O encanto durou minutos, assim que entrei na escola vi o retrato da grande maioria das escolas estaduais: vidros quebrados, portas quebradas, paredes rabiscadas nos corredores e na sala de aula (com um detalhe: existiam duas pichações na sala de aula). Os banheiros em pior estado, totalmente pichados com bolas de papeis higiênicos forrando os tetos.

Basta imaginar que são “crianças” de 7 a 14 anos que estudam nesta escola e já demonstram total descaso e falta de respeito e um nível absurdo de vandalismo e indisciplina. Sequer dão valor algum de estudar em uma escola estadual diferente dos padrões no estado que mais se parecem com presídios.

Aliado a tudo isto vem à doutrinação ideológica (principalmente dos idiotas que se dizem de esquerda. Por mais que eu não compactue ou concorde com as visões de mundo da esquerda há uma diferença gritante entre uma pessoa que preza ou acredita nestes valores e manipuladores acéfalos que geralmente sequer pegam em um livro). A prova ontem, em especial a de português (ver a prova "1", gabarito "3") parecia um misto de panfletão comunista, daqueles bem sem vergonha, com um informativo publicitário do governo Lula. Havia textos de Emir Sader demonizando o capitalismo e a imprensa livre e privada. A prova organizada pela Esaf (Escola Superior de Administração Fazendária de Brasília) dava a impressão que para trabalhar no governo você deve adotar determinada visão de mundo.

O grau de falta de senso destas pessoas não possui limites, utilizar uma prova para um concurso público nacional para fins meramente doutrinários extrapola qualquer limite.

O terceiro fato é uma tolice, mas vale à pena registrar para fechar onde quero chegar: hoje pela manhã fui ler jornais (já que ontem não deu) e me deparo com a notícia da morte da atriz norte-americana Brittany Murphy aos 32 anos. Mortes assim sempre causam algum tipo de comoção em mim, afinal alguém morrer nesta idade já se trata de um fato triste, principalmente de ataque cardíaco. Nos comentários me deparo com este excremento mental escrito por alguém que se identifica como Eduardo:

“ADORO QUANDO NORTE AMERICANO MORRE, QUALQUER UM, ELES ADORAM MATAR NÃO É MESMO, A D O R O O O O O O O O O O O O O O.”

Isto é a soma da falta de boas maneiras, bons modos, educação e instrução que são os alicerces e as colas que mantém uma sociedade, no mínimo, tolerável. Isto impede que nos matemos ou agredirmos fisicamente por qualquer bobagem (por exemplo: tomar uma fechada no trânsito, torcer por um time diferente, discordar politicamente ou religiosamente ou que se enfie 40 agulhas em uma criança de dois anos para se vingar da amante). Impede que se alimente o total desprezo pela vida, principalmente quando se encontra uma espécie de “elo” como o autor do comentário acima para se dar vazão: é o que eu odeio, então está ótimo. Não canso de repetir as lembranças de pessoas conhecidas comemorando os atentados de 11 de setembro.

Agora pegue uma pessoa que despreza as outras (boa parte da má educação advém do total desprezo e indiferença pelo próximo) adicione arrogância e prepotência juntamente com a falta de conhecimento ou com conhecimentos parcos adquiridos facilmente e superficialmente a um clique de dedos. Insira este indivíduo para ser disputado por várias seitas (partidos políticos, movimentos sociais, instituições financeiras disfarçadas de religião, agremiações – e elas podem ser de esquerda, direita, nazistas, comunistas, fascistas, neo qualquer coisa e etc.) e por fim acrescente os dois ingredientes principais: uma boa dose de covardia e anonimato: Pronto você tem comentários burros e cheios de ódio como este proliferando pela internet. Quando este filhote sai de sua casa ele suja e depreda tudo por onde passa, desconhece as palavras “com licença”, “por favor”, “por gentileza” e “desculpe”, tromba nas pessoas na rua, joga o seu carro sobre pedestres, atira seu lixo em qualquer lugar, dá vazão aos seus excrementos mentais em paredes, muros, praças públicas e etc. (lhe foi ensinado a escrever, mas não onde e quando, no mínimo)

A internet (demonizada, sobre tudo nestes tempos como um dos males do mundo) não ensina ninguém a ser mau, ignorante, preconceituoso, pervertido ou mal educado, ela apenas revela estas pessoas que dada à democratização do meio e a certo anonimato expõe suas facetas, ora reprimida, oculta, ora explícita.

Tenho em conta que a internet vale um interessantíssimo estudo social, psicológico e filosófico das sociedades e do mundo contemporâneo, nela se encontra as verdadeiras crenças e pensamentos das pessoas de nosso tempo. Sem disfarces, sem máscaras e sem encenações. Se há muito lixo na internet é porque há muito lixo no mundo. É hora de repensarmos as estruturas de nossas instituições de nossas sociedades.