Mendes é criticado por ligar caso ao da Escola Base
Publicado por Adriana Vandoni em 12/12/2009 às 11:00 hs. Acompanhe as respostas pelo RSS 2.0.
Para especialistas, o presidente do STF ’se repete’ e faz comparação ”infeliz” e ”descabida”
Por Roldão Arruda no Estadão
Na opinião de estudiosos de questões relacionadas à atividade da imprensa, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), errou ao tentar estabelecer comparações entre o episódio da Escola Base, de 1994, e a proibição imposta ao Estado de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica. Na quarta-feira, Mendes argumentou que os dois casos estariam relacionados à violação da intimidade ou ofensa à honra de alguém.
No episódio da Escola Base, diretores e professores foram acusados pela polícia de abusar sexualmente dos alunos e a imprensa deu ampla cobertura à história. Mais tarde verificou-se que o inquérito fora mal feito e que as acusações eram falsas.
O jornalista e escritor Alberto Dines, diretor responsável do Observatório da Imprensa, considera que no caso da escola a polícia errou e arrastou a imprensa. “Foi um erro generalizado. Mas não se trata de um pecado eterno, pelo qual se deva pagar sempre”, observou. “O Gilmar Mendes já usou esse mesmo argumento no parecer que deu contra o diploma de jornalista. Ele é tão monocórdio que começo a duvidar de sua cultura jurídica. Fica repetindo coisas para justificar sua posição censória. A imprensa erra, mas tem seus próprios meios para corrigir. Não deve ser punida com a censura.”
Para o professor de ética Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, a comparação feita pelo presidente do STF é “desproporcional e infeliz”. No caso da escola, recordou, houve cumplicidade entre polícia e imprensa.
“Já fizemos a autocrítica e reconhecemos o erro. O caso de agora é diferente”, afirmou. “O imbróglio envolve de maneira direta uma figura pública, o presidente do Senado, e é dever da imprensa publicar as informações relevantes.”
O professor Eugênio Bucci, da Escola de Comunicação e Artes da USP, qualificou a comparação de “descabida e diversionista”. E justificou: “A Escola Base era uma instituição de porte pequeno, que se viu totalmente indefesa frente aos holofotes e ao erro gravíssimo da condução do inquérito policial. No caso da censura que se abateu sobre o Estado, o lado fraco é o jornal e os direitos do cidadão à informação, agredidos com essa medida. A imprensa está investigando o poder, não está bisbilhotando a vida de ninguém.”
Ainda segundo Bucci, “está na moda o uso de recursos retóricos e demagógicos por meio dos quais os poderosos tentam se passar por cordeiros indefesos”.