PT comemora desistência de Aécio e PSDB busca solução para a chapa presidencial de 2010
Publicada em 17/12/2009 às 23h51m
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Ao anunciar sua decisão de não disputar mais a sucessão presidencial de 2010, o governador de Minas, Aécio Neves, causou surpresas em setores da oposição e comemorações quase generalizadas entre governistas. Preocupados com a possibilidade de que a saída de Aécio tire do PSDB os votos dos eleitores mineiros, aliados do governador José Serra (SP) começaram a pregar na quinta-feira mesmo a ideia da chapa puro-sangue . Eles deverão intensificar a pressão nos próximos dias para que o mineiro aceite ser vice na chapa.
Serra elogia Aécio e vê 'grandeza' em desistência de candidatura
Com a desistência de Aécio, quem deve ser favorecido em 2010?
Quem deve ser o vice da chapa tucana? Vote
Já os petistas vislumbram a possibilidade de a candidata Dilma Rousseff ampliar suas alianças partidárias e crescer em Minas.
- A decisão de Aécio abre um grande espaço para a nossa campanha em Minas, além de ampliar nosso potencial de aliança em favor da ministra Dilma. Com o Serra candidato, a campanha agora fica com a cara do PSDB e do governo de Fernando Henrique Cardoso. E tudo que queremos é comparar o nosso governo com o dele, e mostrar que fomos muita mais competentes - comemorou o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP).
" Com o Serra candidato, a campanha agora fica com a cara do PSDB e do governo de Fernando Henrique Cardoso. E tudo que queremos é comparar o nosso governo com o dele "
Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), os petistas deveriam conter esse otimismo. Ele acredita que o gesto de Aécio o transforma no principal articulador da campanha de Serra:
- Falta o Mercadante dizer isso para os 40% dos brasileiros que apoiam Serra e os 40% que rejeitam o nome de Dilma.
Como o próprio Serra, seus aliados no Congresso evitaram muitas declarações, mas, nos bastidores, demonstraram apreensão com a recusa de Aécio de ser vice. Minas é o segundo colégio eleitoral do país, e os tucanos consideram que os votos do estado só irão para Serra se Aécio for o vice ou se se empenhar na campanha. Mas ontem o mineiro não deu mostras disso.
Ainda assim, a primeira avaliação dos serristas é que o anúncio de Aécio foi positivo, pois consolidou definitivamente a candidatura de Serra.
- A chapa Serra-Aécio será muito forte. O vice será o resultado de um processo político, mas temos tempo para construir isso - disse o tucano Arnaldo Madeira (SP).
" A chapa Serra-Aécio será muito forte. O vice será o resultado de um processo político "
Para o PT, a tentativa de Serra de "camuflar"a candidatura, só se lançando em março, não vai mais funcionar.
- O Serra não vai poder dizer que não é mais candidato. Foi uma surpresa, mas é tudo o que nós queríamos: essa polarização foi estabelecida. Pelo jeito, o Aécio resolveu dar um presente de Natal para o Serra - disse o presidente eleito do PT, o ex-senador José Eduardo Dutra.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, disse considerar que foi uma "jogada competente" de Aécio deixar Serra sozinho na disputa pela Presidência. Para Berzoini, o mineiro ainda não saiu do páreo:
- Foi uma resposta de Aécio Neves a essa postura de Serra de ignorá-lo no processo interno. Mas ele ainda não fechou a porta. Pode ser que, caso Serra desista da disputa, no ano que vem, sob muita insistência do PSDB, Aécio volte como candidato. Isso o fortaleceria.
Para o petista, a desistência do mineiro força Serra a se posicionar como pré-candidato a presidente, o que tem evitado.
Avisado previamente da decisão pelo próprio Aécio, o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), que preferia a candidatura do mineiro, não expressou grande entusiasmo:
- Agora Serra é o candidato e vamos trabalhar para que suas chances de vitória aumentem.
Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO disseram acreditar que o governador Aécio Neves desistiu de concorrer à Presidência porque se viu diante de pelo menos três obstáculos. Além de patinar nas pesquisas entre os menos cotados para suceder ao presidente Lula, Aécio não encontrou apoio dentro da legenda e ainda perdeu a chance de se aproximar do PMDB - considerado seu plano B - depois que o governo federal saiu em defesa do partido em meio ao escândalo que envolvia o senador José Sarney, nos últimos meses.
- A decisão do Aécio de desistir da corrida não passa de um segredo de polichinelo. As pesquisas mostravam que a viabilidade dele era pequena - avalia o cientista político Marco Antonio Villa, para quem o mineiro sustentou sua decisão em cima da falta de apoio em de seu nome dentro do próprio PSDB:
- Soma à falta de apoio o fato de ele (Aécio) ter construído sua carreira, embora de êxito, com um foco muito regional.
Para o professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano, Aécio ainda foi "vítima" de uma estratégia do governo federal, que cooptou o PMDB para além da base aliada, com vistas para a eleição de 2010.
- O Aécio teve um instante de lucidez quando percebeu que, efetivamente, tanto ele como o PSDB perderiam se forçasse seu nome. A decisão é tardia, ainda mais porque o Lula já passeia com a Dilma há um ano.