quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Analistas apontam baixa posição de Aécio nas pesquisas como motivo da desistência

17/12 - 18:03 , atualizada às 18:58 17/12 - iG Brasília

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), decidiu nesta quinta-feira (17) abrir mão de sua pré-candidatura à presidência da República. Com isso, o político deixou o caminho livre para José Serra, governador de São Paulo, lançar sua candidatura dentro do partido. Cientistas políticos e analistas consultados pela reportagem do iG destacam a baixa posição de Aécio nas pesquisas e a falta de tempo para consolidar a candidatura como motivos da desistência.

Para Roberto Romano, professor de ética e política da Unicamp, em termos de estratégia de campanha, o gesto de Aécio Neves "vem tarde". "Os tucanos perderam todo este ano com luta interna e não produziram uma estratégia de campanha. Política é o tempo certo", afirmou.

Segundo o professor, vai ser difícil para o PSDB juntar os cacos e colocar a "campanha na rua", como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz com a da sua ministra-chefe da Casa Civil, a presidenciável Dilma Rousseff.

O cientista político Murillo de Aragão, da Arko Advice, afirma que a saída de Aécio da disputa pode ser encarada por três pontos de vista. O primeiro é que o nome do governador mineiro não vinha bem nas pesquisas. De acordo com um levantamento da consultoria, Aécio foi o único entre os pré-candidatos a ficar estacionado na preferência do eleitorado. José Serra também teve uma variação mínima, mas ainda assim conseguiu subir um pouco. A ministra Dilma Rousseff, no entanto, subiu muito. “A preferência por ele sempre foi muito difícil”, analisa Aragão.

Um segundo aspecto a ser considerado, talvez o mais importante, é que Aécio tentava alavancar a candidatura de seu sucesso ao governo de Minas Gerais, o atual vice Antônio Augusto Anastásia. “Para o Aécio, neste momento, é muito mais importante manter Minas nas mãos, por meio do Anastásia, do que embarcar numa corrida que ele sabia que não teria chances”, diz o cientista político. Por essa análise, a eleição para o Senado – e Aécio tem dado todos os sinais de que irá disputar – está garantida.

A preferência de Serra por adiar para fevereiro a definição do candidato tucano é considerada, por Aragão, como o terceiro motivo pelo qual Aécio saiu da disputa. As pesquisas mostram uma tendência de queda do governador paulista e uma ascensão de Dilma. Para Aécio, seria inviável manter-se no cenário presidencial em meio a essa dura batalha. “O nome dele já apareceu e é um cara jovem”, contemporiza Aragão. “Ele está, sem dúvidas, credenciado para ser o próximo presidente pelo PSDB”.

Jogo perdido

O professor de ciência política da Universidade de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo considera que Aécio Neves desistiu de disputar a Presidência porque sabia que suas chances seriam pequenas. “Nessa altura, o jogo estava perdido”, afirma. “Ele não tinha forças”.

Segundo ele, a única chance que Aécio tinha para ser candidato era a realização de prévias nacionais para saber a opinião do partido. Em carta, o governador chegou a lamentar a falta de consultas. “Não as realizamos seja por dificuldades operacionais de um partido de dimensão nacional, seja pela legítima opção da direção partidária pela busca de outras formas de decisão. Ainda assim, acredito que teria sido uma extraordinária oportunidade de aprofundar o debate interno”, afirmou. Para Ranulfo, ficou claro que as lideranças do partido não quiseram as consultas. “A direção do PSDB é pró-Serra”, afirma.

O cientista político, porém, não acredita que a desistência de Aécio fará com que Serra se antecipe no lançamento de sua candidatura. “Ele está muito bem nas pesquisas. Está estável. Não vejo razão para se precipitar”, afirma, acrescentando que próximo ao Natal e Ano Novo não é uma época adequada para lançar candidatura. “Antes do Carnaval não funciona no Brasil. Na situação em que ele está não precisa sair correndo”.

Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu, a desistência de Aécio Neves em concorrer à presidência pode empurrar a definição da candidatura do PSDB para as vésperas da convenção do partido, em junho do ano que vem.

"Por liderar as pesquisas de opinião, Serra quer que a campanha seja a mais curta possível. Não tem pressa de assumir a candidatura, porque não há outro candidato. A possibilidade de se desgastar é muito grande, por isso ele deve empurrar a definição", assinala Tadeu.

O presidente do IBPS afirma que a decisão de Aécio fermentará as articulações políticas nos Estados.

"Antes havia um impasse entre os grupos pró-Aécio e pró-Serra, o que impedia que as negociações políticas avançassem nos estados. Agora, a oposição está livre para estabelecer uma estratégia de campanha eleitoral", conclui.

Lula e FHC

Para o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Francisco Fonseca, a desistência de Aécio Neves favorece a polarização Lula X FHC nas figuras de Dilma e Serra, durante a disputa eleitoral de 2010. “A princípio, acho que o governo deve estar comemorando, porque [a decisão] permite aprofundar a polarização entre os governos Lula e Fernando Henrique. Serra é muito identificado com o FHC. Certamente será a estratégia do atual governo”.

Fonseca entende que, apesar de Serra ter melhores resultados nas pesquisas de intenção de voto, o governador de São Paulo “aparentemente tem mais dificuldade para fazer alianças do que o Aécio”. Para ele, “a questão agora é saber se o Aécio vai se empenhar na candidatura do Serra”.

O professor emérito da UFMG Fábio Wanderley vê um cenário negativo para o PSDB. “O governo Lula tem grande apoio popular e internacional, e a perspectiva de Serra, apesar de estar à frente nas pesquisas, é de incerteza. Além disso, a disputa foi resolvida de forma negativa. A carta de Aécio nem cita o Serra! Serra vai ter que assumir [a candidatura] num cenário de desgaste”.

Para o professor, “Aécio está fazendo a coisa certa. Não tem porque se associar com Serra, sendo que não se beneficiaria dos ganhos e ainda seria atingido pelos eventuais resultados negativos durante as eleições”.

Wanderley entende que a candidatura de Serra favorece o PT. “A decisão é boa para a Dilma. Mineira, diante da insatisfação com o Aécio, pode capitalizar o eleitorado anti-paulista. Para o PT, acho que a candidatura de Serra é melhor. Facilita o enfrentamento que opõe o PSDB - com referência a FHC - ao PT. Ele pode ser mais facilmente associado a FHC e tem menos possibilidade, ao menos virtual, de compor alianças”.

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleisher o movimento do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é “estratégia de mineiro” que só mudará o cenário a curto prazo. “Por enquanto, é uma estratégia para inglês ver, numa mistura de pressão para o governador José Serra (SP) e reação contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de julgá-lo”, disse Fleisher, referindo-se à decisão do TRE anunciada ontem de reabrir processo contra Aécio por abuso de poder.

De acordo com Fleisher, Aécio pode voltar a colocar o nome na mesa no ano que vem. “Dilma está subindo e Serra caindo a cada pesquisa. Ano que vem, Serra pode abrir mão da candidatura”, avalia. “Não duvido que Aécio lance, nesse cenário, uma chapa com Ciro Gomes.”

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