domingo, 13 de dezembro de 2009

Entrevista polêmica, mas acima do medíocre governo federal. Note-se o realismo no fim: não "escolhemos com quem dialogamos"...Feio, ministro!

13/12/2009 - 07h00

Fico irritado com esquerda que simpatiza com Ahmadinejad, diz ministro dos Direitos Humanos de Lula

Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
O ministro Paulo de Tarso Vanucchi, responsável pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo Lula, afirmou que fica "muito irritado" quando agrupamentos políticos de esquerda simpatizam com o líder iraniano Mahmud Ahmadinejad. Ahmadinejad realizou, no final de novembro, uma polêmica visita oficial ao Brasil.

"Fico muito irritado quando vejo agrupamentos de esquerda simpatizando com Ahmadinejad", disse ele. "Lá não existe agrupamento de esquerda, marxista. Eles estão aniquilados", afirmou, lembrando o processo da revolução iraniana, de 1979.

Na revolução iraniana, após um primeiro ano de convívio entre a esquerda e os religiosos, grupos políticos de esquerda passaram a ser perseguidos pelos fundamentalistas. "Então me incomoda ver agrupamentos de esquerda no Brasil que se alinham acriticamente com Ahmadinejad", repetiu.

Durante a entrevista ao UOL Notícias, o ministro, no entanto, defendeu a vinda do presidente iraniano. "A visita é contraditória, porque ele é a figura que eu condenarei sempre no que envolve o revisionismo em relação ao Holocausto." Porém, para Vanucchi, na diplomacia não se pode "conversar só com quem pensa igual à gente".

Segundo Vanucchi, em conversa como Lula, o presidente brasileiro afirmou que o Brasil, neste momento, pode ser um interlocutor nas negociações com o Irã.

"O presidente Lula pensa muito diferente do [ex-presidente dos EUA George W.] Bush, e teve [com ele] um relacionamento que falavam até em química, de aproximação... [Mas] discordou da guerra do Iraque", citou.

Brasil terá Comissão da Verdade sobre tortura durante a ditadura

O anúncio da decisão será feito no dia 21 de dezembro. Em entrevista ao UOL Notícias, ministro disse esperar que Supremo decida que Lei de Anistia exclui acusados de tortura.

Vanucchi disse ainda que o principal problema com Ahmadinejad não está na suspeita de fraude nas eleições que o reconduziram ao cargo, defendidas por Lula com o argumento de que as denúncias eram queixas de quem perdeu. "A mesma imprensa que fez o seu diagnóstico de que as eleições do Irã foram ilegítimas rapidamente diz que as de Honduras fora legítimas. Aí não dá, isso é ideologismo do jornalismo, da imprensa."

Em seguida, completou: "O que dá para condenar cabalmente são as declarações sobre o Holocausto, pondo em dúvida a existência do massacre de 6 milhões de judeus e de campos de concentração como Auschwitz."

O ministro lembrou que, pouco antes da visita de Ahmadinejad, vieram ao Brasil o presidente de Israel, Shimon Perez, e o líder palestino Mahmoud Abbas. Vanucchi comparou a visita de Ahmadinejad com a de Perez, que, para ele, também não pode ser visto como "uma grande liderança democrata".

"Não se trata de criticar a comunidade judaica. Ela incorpora figuras como Freud, Marx, Einstein. Mas o Estado de Israel não é a comunidade judaica. Israel já teve vários tipos de governo. O governo atual nasce de um ataque a Gaza, de um morticínio de Natal", afirmou. "A vinda de Shimon Perez também não é propriamente a vinda de uma grande liderança democrata. É de alguém que não pediu desculpas pelo ataque a postos da ONU e mortes de crianças."

Veja a íntegra da entrevista com Paulo Vanucchi