sábado, 9 de abril de 2011
Tal pai, tal fio!
"Portugal não é um País é um Puzzle" (do autor). E o filhotão bobão dele, também! Sábado, 9 de Abril de 2011
O puzzle
A desgraça das oposições em Portugal vai da esquerda à direita e da direita à esquerda. Pelo caminho, quer num sentido quer noutro, a meio, encontramos o Governo (este ou outro) encaixando num conjunto quase harmonioso; só a cor é diferente para o distinguir das oposições. (Vemos isso no Brasil mais claramente desde que o PT entrou em Brasília).
Mas, notem, o Governo também é oposição: ao que se fazia antes e ao que virá depois, ele é sempre oposição da Oposição. (e nessa semana não oucimos o Aécio criticar a Dilma?)
Em Portugal todos são da Oposição: a Oposição opõe-se ao Governo e o Governo à Oposição. Pelo meio fica o País, encaixando bem no conjunto, embora de cor diferente para se saber que é o País. E formando também uma harmonia, algo desarmónica, digamos assim. (Aqui também, até o DEM é opozissão).
Porque o País também é oposição: ao que se faz e não faz, ao feito e ao por fazer. Está sempre contra tudo: seja bom ou mau, inteligente ou estúpido, evitável ou inevitável.
À custa de ser enganado, de ir atrás de ideias feitas, de andar mal informado e gostar disso, criou uma desconfiança granítica e uma maledicência imbatível. Que desmoraliza e nos é fatal; mas não há azar! ( na política miúda eu vi uma colega apoiar uma chapa para a reitoria e aceitar um cargo para a oposizão).
E assim, a Oposição desgoverna o Governo e o Governo desgoverna a Oposição. E o País desgoverna uns e outros e é desgovernado por ambos. Quer num lado quer no outro; seja na esquerda, seja na direita; fora do Governo, a entrar nele, ou a sair para a Oposição. ( o importante são os cargos).
Desgoverna a Oposição boicotando e destruindo; desgoverna o Governo com decisões erradas, reformulações inúteis, burocracias anestesiantes e teimosias assassinas.
Em suma, desgovernamo-nos estupidamente, masoquisticamente. Se analisarmos as oposições nestes trinta e sete anos de Democracia, percebemos que a sua constante tarefa tem sido estar contra tudo o que vem dos Governos. Não há uma medida correta, justa ou útil.
E mesmo que, por hipótese remota, parte da Oposição a considere boa, outra a considerará má; e se outra parte ainda a achar oportuna, logo a restante a considerará inoportuna. O Governo (este e os outros) deseduca porque começa e não acaba, porque anda ao sabor das pressões corporativas, dos ciclos eleitorais e dos clientes partidários; porque não tem ideias para grandes planos, nem tempo para estratégias continuadas, nem engenho e vontade de as avaliar.
Basta entrar outro governo para deitar tudo abaixo, porque nada estava bem, e voltar tudo ao princípio, para ser destruído pouco depois. E assim a deseducação alastra e a desordem cresce. E com muita comunicação social a ajudar, é bom não esquecer. E como reina e reinará o compadrio e raramente promovemos os melhores, o nosso desprezo pela competência só acrescenta a miséria e a desordem. E nós, que tanto precisamos de quem nos ensine a ser organizados, persistentes, rigorosos e críticos; e a ter brio, e a reconhecer o valor, somos empurrados para não respeitar nada nem ninguém. (cumpadres, cumpradas, confrarias).
Pelos governos, que fazem hoje para desfazer na legislatura seguinte, pelas oposições, que não precisam da legislatura seguinte para desfazer já, e pelo próprio País em geral (todos nós), que sofrendo dos mesmos males, desprezamos os que trabalham, e chegamos a fazer guerra a quem é eficaz e honesto.
Somos muito eficazes a promover a ineficácia, essa é que é essa. E nem sequer falta, / para o quadro estar acabado, / um Presidente da Nação / sem jeito, chutando ao lado.
Portugal não é um País é um Puzzle.
João Boavida