Briga generalizada em festa clandestina na Unicamp termina com morte de estudante de 21 anos
TRAGÉDIA
Jovem é assassinado em festa dentro da Unicamp
Briga generalizada em festa clandestina na Unicamp termina com morte de estudante de 21 anos
21/09/2013 - 09h58
| Kátia Camargo e Patrícia Azevedo
Foto: Arquivo Pessoal
Denis Casagrande
Uma festa clandestina dentro do campus da Unicamp, no distrito de
Barão Geraldo, em Campinas, terminou em tragédia durante a madrugada
deste sábado. Um estudante de 21 anos morreu após ser esfaqueado no
peito durante uma briga generalizada, provocada por ciúme. Um segundo
rapaz também foi esfaqueado, mas passa bem. Denis Papa Casagrande, teria
recebido quatro facadas e foi socorrido pelo Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (SAMU) por volta das 3h30, mas não resistiu aos
ferimentos e morreu. Denis cursava Engenharia e Controle de Automação e
era de Piracicaba, mas morava em uma república em Campinas. Ainda em
choque, o pai dele, Celso José Casagrande, não deu entrevistas à
imprensa. Disse apenas que recebeu uma ligação às 4 horas para informar
que o seu filho havia sido esfaqueado e veio para a cidade. Um grupo com
cerca de 20 punks participava da festa, promovida por uma rádio
clandestina, perto do Ciclo Básico. O segundo ferido na confusão é o
atendente Anderson Marcelino Ferreira Mamed, de 20 anos, integrante do
Movimento Punk. Ele foi atingido por facadas na perna e não corre risco
de morte.
Uma das testemunhas afirma que o atendente agrediu Denis de forma covarde. O rapaz, identificado apenas como G.B, foi até a festa para vender cerveja e estava a 10 metros do local onde a briga começou. "O rapaz que sobreviveu (Anderson) pegou um skate e acertou um golpe na cabeça do estudante (Denis) por trás", afirmou.
Denis, que estava sentado próximo aos punks, tentou levantar e caiu de lado. "Ai o punk chutou a cabeça do garoto, que caiu desmaiado. A gente tentou apartar a briga, mas o cara parecia um pitbull", afirmou.
G. disse que frequenta todas as festas da Unicamp e que nunca tinha visto nada igual. "Ele não queria parar de bater no menino", narrou. Segundo o seu relato, Denis não teve como se defender das agressões.
Depois que o estudante foi socorrido, G. ouviu Anderson comentar com um amigo que o motivo da briga seria ciúme. "Ele contou que a sua namorada foi ao banheiro e que o estudante a seguiu", afirmou a testemunha.
Outras testemunhas corroboram a versão de que a briga teria começado porque o universitário teria se interessado pela namorada de Anderson. Nenhuma das testemunhas ouvidas pela reportagem, no entanto, viram quem foi o autor dos golpes de faca que mataram Denis.
A namorada de Anderson, Maria Teresa Alexandrino Peregrino, nega que o rapaz tenha ferido o estudante e disse que Anderson só tinha o documento e uma bombinha de asma no bolso. A moça contou que há muito preconceito com contra os punks e afirma que os dois não se envolveram na confusão. Ela afirmou que estava indo embora quando soube o namorado foi atingido, mas reforça que não presenciou a agressão. "Não saímos de casa para brigar, saímos para nos divertir", afirmou a namorada de Anderson.
Invasão
A Unicamp informou, por meio de nota enviada à imprensa, que o campus foi invadido pelos participantes da festa, "que avançaram com seus carros sobre as barreiras colocadas nas portarias 1 e 4 e sobre os vigilantes que tentaram barrar sua passagem”.
A Vigilância do campus solicitou apoio à Polícia Militar e à Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). “Mas ambas as solicitações não foram atendidas, apesar da insistência da Vigilância Interna.
A Emdec afirmou que não foi ao local porque não tem jurisdição dentro do campus. A assessoria de imprensa da Emdec afirmou que, para que pudesse atuar no local, seria preciso firmar um convênio com a Unicamp.
A Polícia Militar negou que tenha sido acionada pela Unicamp por volta das 23 horas. "Nós só fomos acionados por volta das 4h para atender ao caso de um esfaqueado e as providências foram imediatas", afirmou o major da PM Marci Elber.
Sem autorização
A Unicamp informou, por meio de nota enviada à imprensa, que a festa no campus não foi autorizada. Segundo a universidade, em 2009 o Conselho Universitário aprovou deliberação determinando que a realização de festas no campus está sujeita a autorização prévia. “O texto também deixa explicito que o descumprimento das normas sujeitará os responsáveis à aplicação de penalidades disciplinares, nos termos dos Estatutos e do Regimento Geral da Unicamp”.
A Unicamp afirmou que irá tomar providências administrativas para apurar as circunstâncias do ocorrido e identificar os responsáveis pela festa realizada sem autorização da instituição bem como a participação de pessoas estranhas à comunidade acadêmica.
“A Unicamp lamenta profundamente a perda do estudante Denis Papa Casagrande, aluno do cursos de Engenharia e Controle de Automação, da Faculdade de Engenharia Mecânica, e se solidariza com sua família”, diz ainda a nota.
Sobre a rádio clandestina que opera na Unicamp e teria promovido a festa, a Unicamp afirma que não apoia e nem tem participação alguma na rádio. "A Unicamp acompanha o andamento das providências tomadas pelo Ministério Público Federal, que instaurou Inquérito Civil Público para apurar as responsabilidades pela rádio e adotar as medidas cabíveis", diz nota enviada à imprensa.