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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDFCampinas, 02 de dezembro de 2013 a 08 de dezembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 585
O Sol como aliado
Estudo aponta que usinas solares podem gerar empregos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa
Caso
já estivessem em operação, os 13 projetos contemplados pela Chamada
Estratégica Nº 13 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que
objetiva fomentar a instalação de Usinas Solares Fotovoltaicas (USFs) no
Brasil, teriam evitado a emissão de 6.285 toneladas de carbono
equivalente (tCO2eq) em 2011 e de 11.229 (tCO2eq) no ano posterior,
considerando a capacidade máxima de geração de energia elétrica das
plantas. Além disso, a iniciativa também teria gerado 454 empregos
diretos com a instalação das USFs. As projeções fazem parte da tese de
doutorado do engenheiro agrônomo Davi Gabriel Lopes, defendida
recentemente na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, sob a
orientação da professora Carla Kazue Nakao Cavaliero.
De acordo
com Lopes, os resultados obtidos pelo estudo, o primeiro realizado sobre
a Chamada 13, indicam que a maior participação da geração fotovoltaica
na matriz elétrica brasileira pode trazer importantes benefícios
socioambientais para o país. “Além de não emitir gases de efeito estufa
[GEEs] depois de instalada, a usina solar pode colaborar para a criação
de empregos e a geração de renda, fatores mais que desejáveis para um
país em desenvolvimento como o Brasil”, destaca o pesquisador, que
contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da
Educação (MEC).
O autor da tese explica que antes do lançamento da
Chamada 13, em 2011, o Brasil contava, praticamente, com painéis
fotovoltaicos operando somente em sistemas isolados. Ou seja, os
equipamentos, instalados em residências, por exemplo, não estavam
interligados à rede de distribuição. A ação da Aneel pretendeu
justamente estimular tanto as empresas públicas quanto privadas que
atuam na geração, distribuição e transmissão de energia a investir na
construção de USFs que pudessem ser conectadas à rede. Os recursos têm
origem no montante que essas empresas são obrigadas a aplicar em
programas de eficiência energética e em pesquisa e desenvolvimento
(P&D).
Conforme Lopes, cerca de 100 projetos foram
apresentados para participar da Chamada 13, mas somente 18 foram
aprovados pela Aneel. Desses, entretanto, cinco desistiram de dar
sequência às propostas. Dos 13 que sobraram, somente a CPFL Energia
colocou a sua usina em operação. Inaugurada no final de dezembro de
2012, a unidade instalada na Subestação Tanquinho, em Campinas, exigiu
investimentos da ordem de R$ 13 milhões, para produzir 1.090 MW.
Participam do empreendimento, além da empresa proponente, pesquisadores
da Unicamp – Lopes entre eles – e três empresas colaboradoras: Hytron,
Eudora Solar e Instituto Aqua Genesis. Os demais projetos aprovados
ainda estão em fase de planejamento ou os seus responsáveis estão
providenciando licitações para a aquisição de equipamentos e contratação
de serviços.
Para desenvolver a pesquisa, o engenheiro agrônomo
baseou-se nas normas estipuladas pela Aneel e também nas informações
obtidas por meio de um questionário que ele enviou às responsáveis pelos
13 projetos contemplados. Nem todas, porém, enviaram respostas. “Apenas
a CPFL (já em operação) e a CESP, que deu início ao processo de
licitação para a instalação da sua planta, responderam ao questionário.
Para suprir a falta de dados das outras usinas, eu recorri às
informações disponibilizadas pela Aneel, que promove reuniões periódicas
com as empresas para acompanhar a evolução dos projetos. Mesmo assim,
ainda ficaram faltando alguns elementos importantes para fazer as
projeções acerca da não emissão de gases de efeito estufa. Para
contornar essa deficiência, usei os indicadores da planta da CPFL, que
serviu de referência para todo o trabalho”, esclarece Lopes.
Assim,
para estipular a quantidade de toneladas de carbono que teriam deixado
de ser lançadas na atmosfera pela operação dos projetos participantes da
Chamada 13, o pesquisador partiu inicialmente da capacidade de energia
gerada pelas usinas, que é de 25.619 MWh/ano, suficientes para abastecer
algo como 125 mil residências por 12 meses. Depois, ele se baseou na
metodologia adotada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (UNFCC, na sigla em inglês) da Organização das Nações
Unidas (ONU). Os parâmetros obtidos serviram para alimentar o software
PVsyst (versão 6.1.0) que simula a energia elétrica gerada de Sistemas
Fotovoltaicos Conectados à Rede (SFCR).
MDL
As
usinas fotovoltaicas, acrescenta Lopes, podem ser incluídas no conceito
de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), instituído pelo Protocolo
de Quioto para auxiliar as iniciativas voltadas à redução das emissões
de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. Cada tonelada de
CO2 equivalente deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera se
transforma em uma unidade de crédito de carbono, chamada Redução
Certificada de Emissão (RCE), que tanto pode ser negociada no mercado
mundial, como se fosse uma ação, como também diretamente vinculada a um
país desenvolvido que investiu em projetos de MDL em países como o
Brasil, China e Índia. Os principais compradores desses papéis são os
países desenvolvidos, que desejam reduzir as emissões de GEEs de uma
maneira mais barata que investir em projetos em seu próprio território.
Entretanto,
observa o pesquisador, a redução das emissões constitui apenas um fator
que a ONU exige para classificar um projeto como MDL. “Além disso, ele
também precisa atender a outras exigências, como contribuir para o
desenvolvimento sustentável, criação de emprego, geração de renda e
transferência de tecnologia”, diz Lopes. Ao todo, segundo o autor da
tese de doutorado, a Chamada 13 deverá envolver investimento da ordem de
R$ 300 milhões. Ocorre, no entanto, que praticamente dois terços desse
valor serão destinados à compra de equipamentos importados.
Ainda
assim, cerca de R$ 90 milhões deverão ficar no país, referentes aos
custos para instalação, operação e manutenção das usinas fotovoltaicas.
“Isso evidencia que, ao serem multiplicadas, as plantas podem contribuir
para incrementar diversos setores industriais que fazem parte da cadeia
de geração de energia solar fotovoltaica. Nesse sentido, é recomendável
que o Brasil adote políticas públicas consistentes que possam fomentar
esse setor”, entende o autor da tese, que acrescenta: todos os
equipamentos usados na geração fotovoltaica são passíveis de reciclagem.
Ótimas condições
O
Brasil é um país privilegiado em termos de insolação. De acordo com o
Ministério do Meio Ambiente (MMA), que considera os dados do relatório
“Um Banho de Sol para o Brasil”, elaborado pelo Instituto Vitae Civilis,
o país recebe energia solar da ordem de 1.013 MW/h anuais, o que
corresponde a cerca de 50 mil vezes o seu consumo anual de eletricidade.
Os Estados brasileiros recebem, em média, entre 3 e 8 horas por dia de
insolação. O Nordeste é a região de maior radiação solar, com média
anual comparável às melhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola,
no deserto do Sudão (África), e a região de Dagget, no Deserto de
Mojave, na Califórnia (EUA).
Apesar
de todo esse potencial, reconhece Lopes, o país tem um número
praticamente inexpressivo de equipamentos que convertem energia solar em
elétrica quando comparado ao que ocorre, por exemplo, em alguns países
da Europa. Isso é decorrência, entre outros fatores, dos altos custos
dos equipamentos. “Como a nossa matriz elétrica está fortemente baseada
na hidroeletricidade, que é barata e renovável, o país nunca chegou a
investir fortemente em outras fontes igualmente renováveis, como a
fotovoltaica. Na Europa, essa lógica se inverte. Como a produção de
eletricidade a partir das usinas térmica e nuclear é muito cara e
acarreta sérios impactos ambientais, a alternativa da energia
fotovoltaica torna-se economicamente viável”, esclarece o autor da tese.
Com
a crescente cobrança por parte da sociedade brasileira, que tem exigido
cada vez mais a incorporação de fontes “limpas” na matriz energética
nacional, essa tendência começa a mudar no país. “E é importante que
mude mesmo. Nos períodos de estiagem, o Brasil tem usado cada vez mais
as termelétricas para suprir o consumo da população. Isso tem feito com
que as emissões de gases causadores de efeito estufa dobrem de um ano
para outro em relação ao MWh gerado, o que já nos obrigando a acionar um
sinal de alerta”, analisa Lopes.
Publicação
Tese: “Análise de sistemas fotovoltaicos conectados à rede no âmbito do mecanismo de desenvolvimento limpo: estudo de caso dos projetos da Chamada Estratégica Nº13 da Aneel”
Autor: Davi LopesOrientadora: Carla Kazue Nakao CavalieroUnidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)Financiamento: Capes