terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Voltar ao pretérito é sofrer duas vezes. Aqui vai um artigo antigo, sobre declaracões desastradas do Grande dentre os Grandes


Correio Popular de Campinas, 24/05/2005, na coluna de Roberto Romano

Publicada em 24/5/2005






A cara do presidente


O sr. Luiz Inácio da Silva, perguntado se a CPI dos Correios não o preocupa, respondeu assim: “Olhem para a minha cara e vejam se estou preocupado”




Roberto Romano


O sr. Luiz Inácio da Silva, perguntado se a CPI dos Correios não o preocupa, respondeu assim: “Olhem para a minha cara e vejam se estou preocupado”. O semblante presidencial guarda muita tranqüilidade porque a coroa da moeda falsa cujo nome é PT ainda não se revelou totalmente. Apenas a cara surge diante dos brasileiros enganados.

A falta de vergonha diante do que foi prometido e do que é feito pelo ex-governo angélico espanta olhos e ouvidos castos do País. Hoje sabemos que o PT não reúne a vanguarda republicana, mas partilha a cara de outras agremiações, no bloco da farinha do mesmo saco. A cara de tacho petista causa vômitos nos que acreditaram em suas petas. A sua cara dura, quando se tratou de arrancar direitos da “classe trabalhadora”, só tem igual à máscara ostentada quando os banqueiros foram presenteados. Leiam a notícia: “O presidente do Bradesco e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Márcio Cypriano, resumiu numa frase o humor do sistema financeiro em relação à sucessão presidencial de 2006: ‘Lula está fazendo tudo que a gente quer. Cypriano diz não ver dificuldades na reeleição do presidente Lula. Se a eleição fosse hoje ele já estaria reeleito’”. (Valor, publicado em 3/05/2005.)

O que é o PT ? Além de ser o Partido da Boquinha, é auxiliar da Banca. Se a dignidade nele imperasse, a cara dos seus membros seria encabulada. Nadinhas! Vi na TV Senado uma parlamentar petista, na trilha da cara de tacho de Mercadante, berrar que o seu líder (“operário, sim!”) é perseguido “porque optou pela ajuda aos pobres”. Que vergonha, companheira! Os donos do partido imaginam que bastam o berro e a cara amarrada para mentir impunemente. Um partido que surgiu com a cara e a coragem, hoje dispõe de milhões ofertados pelos bancos para pagar os milhões exigidos por Duda Mendonça, inventor de lorotas como o Fura Fila e o Lulinha Paz e Amor. O militante que no PT fica com a cara no chão face à mendacidade oficial, sai do partido ou é expulso. Acostumado a se pensar ético, de repente ele dá de cara com Roberto Jefferson, o da tropa collorida. Com a cara cheia de slogans mentirosos, ele não tem cara para se desculpar aos colegas e parentes. Ele afiançou mil vezes que só o PT acabaria com a corrupção. Militantes sentem ganas de ensaboar a cara e as ventas dos seus líderes, mas desanimam. A imaculada corte petista fugia dos improbos, mas faz boa cara aos amigos dos recursos públicos em bolsos privados. Outrora, num orgulho luciferino, os militantes perseguiam quem discordava de sua retórica “honesta”. Hoje, livram a cara dos cínicos. Dirigentes do partido metem a cara e se lambuzam de realismo, hipotecam solidariedade aos que ontem cobriam de insultos. A política petista desmascarava adversários e agora espiona, via Abin, quem diz o que pensa na cara dos poderosos. Outrora virgens da moral pública, os senhores do PT deixam-se passar na cara pelos trezentos picaretas e outros mais.

Os petistas assumiram os trejeitos dos que mandam no Brasil oligárquico. Sua cara de tacho surge sob rotas vestes republicanas, de fancaria. Os jacobinos do PT ficaram com a cara no chão. Agir como petista hoje é livrar a cara da “base aliada”. Os realistas do partido antes precisavam ter duas caras, hoje assumiram uma só, a de pau. Durante anos as belas almas do petismo incomodaram o povo com arengas do moralismo piegas. A sua fachada mostra conforto no trato amigável com os donos do poder. A pinta de malandro aparece quando petistas são pegos com as fuças meladas pela traição dos seus ideais mentirosos. Antes, eles tinham cara de pedir votos em nome das grandes mudanças, hoje lhes cai bem a carita usada para definir políticas favoráveis aos bancos, os seus aliados. As acepções de “cara” postas acima, saem do Dicionário Houaiss.

Há um outro sentido ignorado pela governança do PT. “Cara”, senhor presidente, ostenta quem nada produz e perde a cidadania. Um presidente só pode, por exigência do decorum, ostentar rosto, face, personalidade, jamais uma “cara”. Ao rebaixar sua face, o senhor pisa a dignidade presidencial e escancara, por isto mesmo, plena inépcia para a função. Mesmo acolhendo o inaceitável – que o senhor tenha uma “cara”, algo vulgar e próprio ao lumpensinato – o semblante oferecido à Nação deve ostentar angústia se V. Excia. merecer, de fato, o cargo. Um magistrado alegre com o que vemos na imprensa e no Parlamento não entende a peça representada ou gera o espetáculo. Se não liga para a agonia da República e só enxerga os seus objetivos pessoais, trata-se de imensa cara de pau que merece repulsa dos contribuintes. As intenções de votos recolhidas nas pesquisas de opinião por V. Excia. amorteceram a sua pele, olhos, ouvidos, tato? Continue, presidente, sem respeitar os brasileiros. Breve, nem os donos de banco salvarão o seu partido, ontem ainda devoto das CPIs e que hoje foge delas, como o diabo da cruz.