Análise: Movimentos por moradias devem se alastrar em São Paulo
Pauta do MTST é própria e não se trata de um movimento de oposição, mas, se ele não encontra diálogo, tende a sair às ruas para protestar
11 de dezembro de 2013 | 19h 19
Roberto Romano
FELIPE RAU/ESTADÃO
Integrantes do MTST fazem manifestação no centro
Enquanto o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra diminui a força
estratégica na medida em que o governo federal realiza, bem ou mal, com
avanços ou retrocessos, o assentamento e a reforma agrária, os
movimentos sem-teto vem ganhando força no país.
No caso de São Paulo, trata-se de uma cidade imensa com áreas
absolutamente carentes de habitações populares e uma faixa da população
que não foi totalmente incluída no mercado de trabalho, como era a
propaganda do Governo.Ou se assume uma política agressiva de produção de
moradias populares com realismo, ou simplesmente, movimentos como o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) irão se alastrar.
São questões de ordem permanente e de difícil resolução. O partido
dos trabalhadores deveria aprender de vez que segurança, transporte e
habitação são temas complexos que se apresentam como grandes desafios
para todas as administrações. Não basta, nas eleições, fazer promessas
mirabolantes como o Arco do futuro, prometido pelo prefeito Fernando
Haddad.
A pauta dos sem-teto, se fizermos uma cronologia, está presente
desde antes da gestão de Luiza Erundina. Desde aquela época, São Paulo
passou por administrações conservadoras, progressistas e a questão
continua. Não é um problema da ideologia assumida pelas administrações, e
sim de infraestrutura urbana. A pauta do MTST é própria e não se trata
de um movimento de oposição, mas, se ele não encontra diálogo, tende a
sair às ruas para protestar.
O prefeito Fernando Haddad tem demonstrado inabilidade em dialogar e
seus atos indicam falta de análise concreta do município que dirige. Os
protestos significam a insatisfação e a frustração dos movimentos que
criaram expectativas em relação ao seu governo, cuja propaganda foi
impulsionada pelo ex-presidente Lula. Administrar São Paulo desafia
qualquer político. Mas se o referido dirigente não tem experiência, deve
procurar conselheiros que o ajudem a a prender no cotidiano. Haddad
mostra pouca disposição para o aprendizado, desde que assumiu o cargo.
A quantidade de erros táticos e estratégicos que já acumulou (o IPTU
é um deles), deve alertar os seus partidários. Afinal, a eleição de
2014 depende bastante do sucesso na capital paulista.
ROBERTO ROMANO É CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA UNICAMP