Segunda, 02 de dezembro de 2013
Médicos e enfermeiros ajudaram CIA a torturar presos
Um relatório produzido em parceria entre a Open Society Foundations e o Institute on Medicine as a Profession, nos EUA, em novembro, mostrou mais um episódio controvertido da guerra ao terror. Segundo o documento Ethics Abandoned
("Ética abandonada", em tradução literal), médicos e outros
profissionais da saúde acobertaram e até auxiliaram práticas de tortura
em Guantánamo e em outras prisões da CIA.
"Depois do 11 de Setembro, o Departamento de Defesa e a CIA exigiram
que médicos e psicólogos desenvolvessem métodos de tortura para
conseguir informações dos presos. Eles adotaram uma rotina de
interrogatório que envolvia alimentação forçada e deixar os interrogados
presos em uma cadeira. A obrigação desses profissionais no tratamento
de seus pacientes foi deixada de lado", diz Leonard Rubenstein, jurista na Universidade Johns Hopkins e um dos autores do relatório.
A reportagem é de Fernanda Simas e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-12-2013.
Segundo o documento, os médicos auxiliaram militares em
"interrogatórios cruéis e degradantes" e ajudaram a implementar práticas
de isolamento que deixavam os detidos desorientados e ansiosos. Os
profissionais de saúde participaram da aplicação de métodos de
afogamento e alimentação forçada de presos em greve de fome.
A equipe analisou durante dois anos documentos públicos, informações
de advogados e de grupos de direitos humanos e documentos de
instituições como a Cruz Vermelha. Os autores não
conversaram com médicos que atuaram nas prisões citadas. "Não temos
permissão para falar com eles. Um médico militar e um enfermeiro, porém,
estavam no grupo que elaborou o relatório", explica Rubenstein.
Os casos de abusos por parte de militares, espiões e outros
funcionários do governo americano nessas prisões já eram discutidos, mas
não se tinha conhecimento do envolvimento de médicos e enfermeiros.
Investigação
Rubenstein afirma que a maioria dos casos de abuso foi relatada em Guantánamo
e em prisões da CIA. Para ele, os métodos de tortura diminuíram, mas
ainda ocorrem. "O Departamento de Defesa parou de usar a maioria dos
métodos e o governo Obama tem uma comissão para rever
essas práticas, mas ainda há a alimentação forçada." A CIA não mantém
mais detentos sob sua custódia, segundo relatos oficiais. Rubenstein espera que o governo americano investigue as denúncias a partir do relatório.
"Nós pedimos que isso seja investigado, é muito importante." A CIA nega as acusações. O porta-voz da agência Dean Boyd,
em entrevista a agências internacionais, afirma que o relatório tem
"conclusões erradas" e enfatiza que o programa de detenção e
interrogatório da CIA foi encerrado com o presidente Obama, em 2009.