quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Correio Popular de Campinas, 18 de agosto de 2009

Cooperativismo de crédito

A criação da primeira cooperativa, assim reconhecida, aconteceu em 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), onde 27 tecelões e uma tecelã fundaram a “Sociedade dos Probos Pioneiros”, com o resultado da economia mensal de uma libra de cada participante durante um ano. Tendo o homem como principal finalidade, aqueles tecelões buscavam uma estratégia econômica para atuar no mercado, frente ao capitalismo que os submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças, que chegavam a trabalhar até 16h por dia, diante do desemprego crescente advindo da revolução industrial.

A formação da pequena cooperativa de consumo mudaria os padrões econômicos, dando origem ao movimento cooperativista. Tal iniciativa foi motivo de deboche por parte dos comerciantes, mas logo no primeiro ano de funcionamento o capital da sociedade aumentou para 180 libras e cerca de dez mais a experiência já contava com 1.400 cooperantes. O sucesso dessa iniciativa passou a ser exemplar para outros grupos. Assim o cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social.Por seus pressupostos, o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como fórmula democrática para a solução de problemas socioeconômicos. O cooperativismo de crédito é um dos seus campos. Atualmente, o Brasil está entre os 20 países com maior expressão no cooperativismo de crédito.

A rede de atendimento das cooperativas representa atualmente 13% das agências bancárias do País enquanto que os ativos totais administrados representam menos de 3% do total. Tais números demonstram o desafio a ser superado pelas cooperativas brasileiras que possuem potencial muito grande para crescimento. Exemplos atuais reforçam a viabilidade desta experiência creditícia. É o caso da Cooperativa de Crédito dos Servidores da Unicamp, fundada em 1996, com 25 sócios-fundadores, tendo hoje centenas de associados, entre funcionários e docentes da universidade, experiência comprovadamente bem-sucedida. Um dos exemplos que validam o incentivo ao esforço para que outros segmentos profissionais constituam a sua cooperativa.Para isso, inicialmente, é muito importante o apoio das empresas ou instituições, garantindo os descontos em folha, espaço físico para atendimento. Algumas dessas necessidades iniciais logo são supridas pelo natural processo de autonomia inerente a cada cooperativa.

Há no mercado bancário brasileiro atualmente uma forte tendência de concentração de bancos decorrente dos processos de fusão. Tal fator ressalta a importância do cooperativismo de crédito como alternativa diferenciada e solidariamente diferenciadora. Contando com a poupança mensal dos seus cooperados, recursos financeiros que formam seu capital social, o cooperativismo de crédito cumpre papel importante para os cooperados, em condições mais favoráveis que a maioria dos bancos. Há exemplos de cooperativas que também investem em outros projetos sociais, como construção de moradias, crédito educacional e linhas de atendimento social em situações que acometem os associados.

Tudo isso evidencia o relevante aspecto social do cooperativismo creditício. Defender e divulgar essa modalidade de crédito é importante em qualquer tempo, especialmente em momentos em que os sinais da economia são contraditórios e desafiam que se busquem alternativas. O cooperativismo em seu sentido mais abrangente tem mostrado caminhos. E o cooperativismo de crédito é uma experiência viável, mas que requer gestão séria, eficiente e atenta. Caso da experiência na Unicamp, entre outras.

**********
Ronaldo Santana, é funcionário da Unicamp e atual presidente da CooperUnicamp. Edison Cardoso Lins, funcionário da Unicamp e professor da rede estadual, é do grupo dos sócios-fundadores da CooperUnicamp