domingo, 23 de agosto de 2009

Direto da Redação, Claudio Lessa, cita Roque Sponholz, com sentido de Kayrós.

Publicada em:23/08/2009


PT SAUDAÇÕES



Brasília (DF) - Agora é #irrevogável, como se escreve no Twitter: o Partido dos Trabalhadores assumiu a sua verdadeira identidade: é o ParTido do Lulla. E o Lulla, como se sabe, nunca foi trabalhador. Sempre foi um esperto falastrão, rápido no olfato de uma boa oportunidade, de um bom encosto. Rápido nas contas, viu que um mindinho a menos lhe renderia uma aposentadoria; uns dias na cadeia lhe renderiam, down the road, mais alguma grana permanente. Eram investimentos que valiam a pena – era só ter paciência e, principalmente, se agarrar a um mantra qualquer, que não pudesse ser contrariado. Deu certo.

Deu tão certo que ele acabou virando o garoto-propaganda de um partido formado para ser uma oposição “consciente e intransigente” que visava despejar as “elites” de seus castelos. O mantra repetido à exaustão, tal como água mole em pedra dura, o levou ao posto máximo do Executivo federal. Foi a glória para o semi-analfabeto esperto, de raciocínio rápido: ele conseguira mentir para quase todos durante um longo período de tempo.

Surgiram, no entanto, alguns desvios no percurso. Os companheiros de primeira hora foram justamente os primeiros a cair fora, de Hélio Bicudo a Ricardo Kotscho, passando pelo padre doidinho que ora para Jesus enquanto lê a bíblia de Marx. Em seguida, veio a expulsão dos autênticos – Heloísa Helena, etc – que não se conformaram com a guinada ideológico-oportunista então batizada de estelionato eleitoral. Mais adiante, a revelação do esquema do mensalão tratou de desnudar o rei e seu herdeiro presuntivo, o hoje despachante de luxo José Dirceu. O regra-três não durou muito: enrolado até hoje no Supremo Tribunal Federal (o que neste país sem lei não quer dizer muito, é preciso reconhecer), o todo-poderoso ministro da Fazenda foi apanhado com as mãos, os pés e o pescoço no episódio do caseiro Francenildo. A invenção de Lulla para 2010, a ex-terrorista Dilma Rousseff (também conhecida como “poste”), além de intratável, revelou-se uma mentirosa contumaz – e ruim de serviço. Depois de falsificar diplomas, veio o não-assunto com Lina Vieira, que desapareceria com um mero “sim, nos reunimos, mas não falamos sobre este assunto.”

A cereja podre deste sundae com sabor de lama, no entanto, só viria a ser posta recentemente, e justamente para comemorar o fim do PT, numa demonstração de sua substituição pelo ParTido do Lulla. A festa de arromba de Sarney, Collor e Lulla – com Renan Calheiros e outros bichos batendo palmas, enquanto Marina Silva e Flavio Arns caem fora – mostram o que uma fera paranaense, Roque Sponholz, escreveu com muita propriedade: “mercadantes na história desse país um presimente revogou o irrevogável e as más disposições em contrário”, apenas para encurtar a narrativa e ir direto ao mais vexatório, o mais constrangedor acontecimento político recente envolvendo o líder que não lidera, e que tantas piadas rendeu no twitter e em blogs espalhados internet afora (inclusive os deste escriba, @claudiolessa e www.claudiolessa.com).

Mais uma vez, saíram perdendo todos aqueles que, durante anos e anos e anos sonharam com algum movimento ético, transparente, defensor da honestidade e das boas práticas, que levasse o país adiante. Especialmente lamentável porque ao agir assim, Lulla e sua gangue (que elle agora mais e mais ignora, desistindo de tentar mentir para todos os tempo todo e revelando-se quem verdadeiramente é) mostraram que são exatamente esterco do mesmo pasto, igualzinho ao grupo a que se opôs tanto no passado e jurou contrariar, com o objetivo de “consertar” o país.

E... se segure, leitor(a), porque o caminho a percorrer ainda parece ser bem longo: 70% dos entrevistados numa pesquisa do Ibope reconheceram ter cometido algum ato antiético; 75% deles disseram que participariam de corrupção política, se tivessem a chance. Qualquer semelhança desses índices com os 80% de aprovação dados a Lulla não são mera coincidência.

Garbage in, garbage out”, ensinam os nossos irmãos do Norte, aqueles lá da terra de Obama, a quem deveríamos prestar mais atenção.