sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Globo

Após desistir de renúncia

Mensalão do DEM: especialistas veem cenário caótico para Paulo Octávio

Publicada em 19/02/2010 às 00h01m

Carolina Benevides e Marita Boos

RIO - O desejo do governador em exercício do Distrito Federal (DF), Paulo Octávio, de "ser um facilitador para a normalização política e administrativa de Brasília" não vai se concretizar, na opinião de Marcelo Simas, cientista político do CPdoc, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ele, Paulo Octávio não tem legitimidade política para evitar que Brasília fique estagnada.

- Todos sabem que existem indícios de que o então vice-governador fazia parte do mensalão do DEM e, por isso, ninguém quer se associar a ele. Sem aliados, Paulo Octávio não conseguirá nada enquanto estiver no governo. Além disso, o DEM pensa em expulsá-lo da legenda. Sem partido, então, ficará mais difícil.

O governador interino recuou e anunciou na tarde desta quinta-feira, em pronunciamento, que não vai deixar o cargo , apesar da crise política instalada no DF. Com decisão, porém, Paulo Octávio perdeu os últimos apoios no DEM, e ainda na noite desta quinta-feira, Arruda comunicou a integrantes da cúpula da legenda que irá pedir a desfiliação do partido nesta sexta-feira.

Professor de ciência política da Universidade de Brasília(UnB), David Fleischer também acredita que Paulo Octávio não terá condições de manter a governabilidade:

" Brasília só voltará ao ritmo normal quando o próximo governador assumir, em 2011 "

- Muita gente já recusou participar do governo. Se essa ingovernabilidade continuar, será um sinal para que o Supremo Tribunal Federal decida pela intervenção.

Segundo Simas, mesmo que haja intervenção federal no DF, a chance de a política brasiliense não ficar estagnada até que um outro governador seja eleito é pequena.

- Se o presidente do Tribunal de Justiça, por exemplo, assumir o governo, ele também não terá aliados. Talvez consiga promover auditorias, talvez faça com que as contas do governo sejam mais transparentes e até consiga racionalizar os gastos. Mas daí a fazer com que o Distrito Federal não fique estagnado é complicado. Acredito que Brasília só voltará ao ritmo normal quando o próximo governador assumir, em 2011.

Professor de Ética e Política da Unicamp, Roberto Romano concorda com Simas.

- O interventor dificilmente conseguirá produzir muito em dez meses, além de governar sem ter sido escolhido pelos eleitores. No entanto, devemos lembrar que o fato de Arruda ser preso é um marco importante para o país.

" Nem o carnaval deixou o assunto cair em esquecimento "

Para a historiadora Isabel Lustosa, o escândalo do mensalão do DEM deve servir para que o governo repense a autonomia do DF:

- O Rio foi capital federal e nunca teve a mesma autonomia política que o DF tem. Acho que o Distrito Federal deveria representar o país - disse Isabel, que também vê uma mudança no Brasil com a prisão de Arruda: - Nem o carnaval deixou o assunto cair em esquecimento. As pessoas foram às ruas, o sentimento de indignação prevaleceu.

David Fleischer, da UnB, diz que o povo de Brasília está decepcionado.

- O brasiliense já perdoou o Arruda uma vez, quando ele era senador. A decepção é grande, mas a memória é curta. O Joaquim Roriz, por exemplo, está à frente das pesquisas para o governo, apesar de ter tido que renunciar ao Senado para não ser cassado.