quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CONTAS ABERTAS, 11/02/2010.

"Prisão de Arruda foi absolutamente merecida”, diz Roberto Romano

A prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), nesta tarde de quinta-feira, surpreendeu muita gente por todo o país. Para o filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano, a prisão de Arruda - em meio à cultura da impunidade no país – é, por enquanto, um desfecho inusitado para o caso. “A prisão foi absolutamente merecida. Mesmo que o governador seja declarado inocente, os atos cometidos pela sua administração e, sobretudo, pela sua polícia [repressão contra manifestantes anti Arruda em frente ao Palácio do Buriti], merecem a mais forte reprovação ética”, afirma.

Veja a entrevista na íntegra:

CA: O desfecho do caso Arruda, por enquanto, é surpreendente?

Romano: De certo modo sim. O Brasil está vindo de uma série de decisões da Justiça que tendiam a aceitar procedimentos ilícitos. Basta lembrar a decisão do ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há quatro dias, dizendo que o presidente Lula não fazia propaganda eleitoral antecipada [julgamento do caso de discursos do presidente Lula durante inauguração de obras]. Há uma série de medidas do próprio TSE e de outras instâncias da Justiça que favorecem esse tipo de comportamento. Basta pensar também na censura ao jornal Estado de S. Paulo, determinada por um juiz que notoriamente tinha conflito de interesses. Há um certo desencanto com a Justiça, sobretudo no campo político. Isso me leva a dizer que a decisão de hoje foi, não diria surpreendente, mas inusitada.

CA: O desfecho do caso é um marco para o combate à corrupção e impunidade no país?

Romano: Vai depender do que ocorrer a partir de agora. Vamos esperar o habeas corpus ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). Nós já tivemos vários casos de prisão (Maluf, Pita, etc.) que não resultaram em quase nada. Eu diria que é preciso prudência e manter a indignação acesa para que essas medidas acertadas da Justiça voltem a se repetir. Aí nos teremos dado início ao combate à corrupção.

CA: A população brasileira pode comemorar, pelo menos neste caso, o fim da impunidade?

Romano: A população pode comemorar sim. É um passo significativo. Mas não é uma garantia, porque amanhã as coisas podem ficar piores. A corrupção existe no mundo inteiro, em todos os estados políticos. Mas a impunidade aqui no Brasil é campeã. Nós somos campeões internacionais de corrupção e impunidade.

CA: Por todas as imagens do esquema de pagamento de propina em Brasília divulgadas e por tudo que surgiu desde o começo do caso, a prisão de Arruda foi merecida ou justa, do ponto de vista ético?

Romano: Absolutamente merecida. Mesmo que o governador do Distrito Federal seja declarado inocente, os atos cometidos pela sua administração e pela sua polícia, sobretudo, merecem a mais forte reprovação ética. Quem viveu no período da ditadura só se recorda de ato tão violento da polícia contra cidadãos indefesos naquele período. Mesmo assim, apenas em alguns momentos da ditadura. Naquele período, ocorriam manifestações imensas, como as Diretas Já, mas que não tiveram esse tipo de repressão [ato da polícia de Brasília contra manifestantes contra Arruda em frente ao Palácio do Buriti]. Desde que o poder voltou aos civis, tanto no governos Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula, não houve ação truculenta da polícia como aquela. Do ponto de vista ético, o governo do DF perdeu toda a razão e legitimidade, porque quem usa como argumento a chantagem, a compra de testemunhas, bombas, cacetetes e até espadas, como nós vimos, já perdeu a ética há muito tempo.

CA: Daqui para frente, as punições em torno de casos de corrupção podem ser mais severas, a partir do exemplo do caso Arruda?

Romano: Deveriam ser, mas não sei se serão. Daí a minha prudência. Deveriam ser cada vez mais severas. O primeiro fato para reduzir a impunidade seria o fim do privilégio de foro, um atentado à Constituição Brasileira e aos direito humanos. Atenta contra o princípio da igualdade dos homens. É um mecanismo repelente que acontece aqui no Brasil e garante a impunidade.

CA: O que governador Arruda deveria fazer a partir de agora?

Romano: Sendo bastante cruel e irônico, ele deveria convidar todos os seus amigos e rezar para Jesus. Levantar as mãos e agradecer a possibilidade de se arrepender do que fez até hoje, Não é a primeira vez que Arruda faz a cidadania de palhaço. A outra foi no caso do painel. Quando ele era apenas uma espécie de comediante da política, tudo bem. Mas ele virou um comediante perigoso. É um comediante que usa polícia para bater em quem protesta contra seus desmandos. Em alguns filmes americanos, existem os palhaços maldosos. O governador Arruda é um governador Coringa [inimigo do herói Batman]. Muito malvado. Desse ponto de vista ele precisa rezar muito.

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Leandro Kleber

Do Contas Abertas

11/02/2010