sábado, 18 de setembro de 2010

Cara Marta Bellini, comentando o artigo que publico hoje, sobre os favores.


Professor Romano: isso acontece também nas universidades públicas. Muitos fazem do recurso público uma privataria. Usam coisas públicas na maior cara de pau. E o silêncio das otoridade é notório. Existem pais nos governos e pais nas universidades. Ah, ele usou a verba, mas tem um curriculo Lattes maravilhoooso. Taí!

Cara Marta Bellini: se fossemos falar da universidade, nem uma edição inteira de jornal poderia dar conta dos "favores" entre indivíduos, grupos, seitas, igrejonas e igrejinhas que grassam nos campi... Tenho muitos "causos" que reuní, está no meu HD, preparado. Quando me aposentar, sairá um bonito volume com nomes, números, etc. Um aperitivo eu dei na entrevista à Caros Amigos. Só o aperitivo me valeu o corte da bolsa do CNPq, o corte de bolsas de alunos, a negação de projetos de pesquisa antes aprovados com louvor. E tudo no sigilo tíbio. Vez em quando um integrante das seitas, travestido de militante político, me ataca a pretexto de assuntos alheios, porque não deixei de apontar para os sete dedos das seitas nos dinheiros públicos. O negócio funciona assim: "eu dou um parecer favorável e super elogioso para seu projeto,tu me retornas com um parecer mais entusiástico ainda, sobre o meu". Ou então: eu aprovo teu aluno nos exames (mestrado, doutorado, ou seja lá o for) e tu aprovas o meu, em condições similares ou ainda melhores. E o corolário: nós dois desaprovamos os alunos e os recursos daquele infeliz que não pertence à nossa grei. Os intelectuais? Na sua grande parte são dignamente retratados por Diderot no Sobrinho de Rameau (bem entendido por Goethe e por Hegel, este último na Fenomenologia do Espírito) : "um monte de mendigos desonrados, parasitas melancólicos, tímida matilha que tenho a honra de comandar com bravura. Parecemos alegres; mas, no fundo, somos todos rancorosos e especialmente ávidos. Lobos não são mais famintos; tigres não tão cruéis". (Citado por Robert Darton, Boemia Literária e Revolução). É com base em tal declaração, obscena mas verdadeira sobre o mundo intelectual, que Hegel inventou a expressão "reino animalesco do Espirito" para se referir à "comunidade acadêmica". Lembro sempre que o mesmo Hegel, ao falar das Universidades italianas sob Napoleão, o invasor, cita um "responsável" pelos campi: "Nós os toleramos, como os bordéis". A accountability universitária, no entanto, só poderá surgir, quando todas as contas públicas forem...publicadas e quando os governantes forem de fato responsabilizados pelos assaltos aos cofres públicos. Pelo visto, estaremos todos no reino celeste, porque, como dizia Weber ou Schumpeter, talvez ambos, "em longo prazo, todos estaremos mortos".
Um forte abraço e bom final de semana!
RR