segunda-feira, 27 de setembro de 2010
A economia ótima do país das maravilhas
São três matérias da Folha em sequência. Não preciso dizer muito basta fazer a conexão dos fatos. Agora com base nestes fatos pense na dívida interna brasileira, o governo Lula já deixará um rombo de 90 bilhões para o sucessor.
Fiado dá lugar ao cartão em mercados
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO
O velho hábito de comprar fiado está sendo substituído na periferia das capitais nordestinas pelo uso do cartão de crédito. Instituições financeiras da região criaram cartões "private label" (de marca própria) que estão sendo usados em pequenos mercados e em mercearias da região.
O público-alvo são pessoas de baixa renda, sem conta em banco ou sem cartões de grandes bandeiras. O Banco Gerador, o único privado com atuação nacional sediado no Nordeste, lançou em junho o cartão Banorte. A emissão é gratuita e não há cobrança de anuidade.
Desde julho, ele é testado em três mercados da região metropolitana de Recife, onde dois terços dos clientes não tinham cartões de grandes bandeiras. "Nossa meta é atingir 4.000 mercados e mercearias em três anos", afirma Pedro Dalla, presidente do Banco Gerador.
A estratégia é levar o cartão Banorte a comércios de loja única, que não integram redes, localizados no interior dos Estados ou na periferia das capitais e com faturamento anual entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.
"As empresas precisam de capital para repor seus estoques e aproveitar o forte crescimento econômico do Nordeste. Quando o lojista vende fiado, fica sufocado. Com o cartão, ele pode antecipar o recebimento", observa Dalla.
FIDELIZAÇÃO
José Batista da Silva, dono do mercado Boa Opção, em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, aderiu ao Banorte com a expectativa de fidelizar a clientela. Ele espera elevar em 20% seu faturamento de R$ 1,4 milhão por ano.
Outra vantagem, diz Silva, é que não será mais preciso cobrar dívida de porta em porta. Dos cerca de 800 clientes, até agora 220 fizeram o cartão, usado em 6% das vendas do mercado.
Cliente do Boa Opção há seis anos, a dona de casa Josicleide Campos usa desde junho o cartão Banorte do marido, Uiraquitan Xavier, para pagar as compras. O limite é de R$ 200, um terço da renda da família. Ela já pagou três faturas, em dia e no próprio mercado.
"O cartão facilita bastante. Nem sempre eu tinha dinheiro para comprar. Quero fazer o Hypercard, que é aceito em todas as lojas", diz ela.
Há seis anos, o grupo Oboé emite o Oboé Card, usado em 46 mercados da periferia de Fortaleza e em 18 da de São Luís do Maranhão.
O número de cartões deve passar de 160 mil hoje para 210 mil em 2011. Até 2012, a meta é levar o cartão para Salvador, Recife e Natal.
Imagine a inadimplência, se a pessoa que possui o cartão não tem sequer uma conta em banco, qual é a renda. Não é direcionado para quem recebe bolsa família e vive de bicos?
Governo autoriza crédito de até R$ 30 bilhões ao BNDES
MÁRIO SÉRGIO LIMA
THAIS BILENKY
DE BRASÍLIA
O governo autorizou nesta segunda-feira a concessão de crédito num montante de até R$ 30 bilhões ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União", por meio da Medida Provisória 505, que trata de fonte adicional de recursos ao banco.
As condições contratuais e financeiras serão definidas pelo Ministério da Fazenda. Pela MP, a União fica autorizada a emitir em favor do BNDES títulos do dívida pública mobiliária federal, para a cobertura de crédito. O Ministério da Fazenda fica responsável por definir as características dos títulos.
Financiamentos do BNDES concentram crédito em 12 empresas
BNDES infla números de ganhos com empréstimos, dizem críticos
O Tesouro Nacional fará jus à remuneração com base no custo da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), hoje em 6% ao ano. O BNDES poderá recomprar da União a qualquer momento os créditos, desde que mantida a equivalência econômica.
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não soube informar se o crédito adicional se soma aos empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional ao BNDES desde o ano passado, que somam R$ 180 bilhões.
GRUPOS
Levantamento feito pela Folha no mês passado apontou que as chaves do cofre bilionário do BNDES estão nas mãos de dois gigantes estatais e um punhado de grupos privados que nos últimos anos se associaram a projetos de interesse do governo.
O levantamento feito pela com base nas operações divulgadas pelo banco e revelou que a Petrobras, a Eletrobras e dez grupos privados ficaram com 57% dos R$ 168 bilhões destinados a transações contratadas de 2008 até junho deste ano.
Além dos repasses que receberam diretamente do banco, alguns grupos foram beneficiados também como sócios de empreendimentos na área de infraestrutura e de companhias de outros grupos que conseguiram empréstimos da instituição.
Na avaliação do BNDES, a elevada concentração de sua carteira reflete o que se vê fora do banco: a taxa de investimentos do país é relativamente baixa e grandes empresas como a Petrobras são responsáveis pelos principais projetos em andamento.
Mas os críticos que se incomodam com o favorecimento de grandes grupos acusam o BNDES de usar seu poderio para fortalecer empresas com amigos em Brasília em detrimento de concorrentes e dos consumidores.
Principal fonte de financiamento de longo prazo disponível no país, o BNDES virou objeto de controvérsia por causa da expansão acelerada que sua carteira sofreu com a crise financeira internacional, quando o governo decidiu reforçar os cofres dos bancos públicos para combater a recessão. O BNDES recebeu R$ 180 bilhões. Como o Tesouro pagou juros elevados para levantar esses recursos e o banco cobra de seus clientes taxas inferiores às praticadas no mercado, a operação tem custo alto para a sociedade, hoje difícil de calcular.
Será que uma economia vai mesmo bem quando o governo financia apadrinhados em empresas privadas e estatais? Qual empresa pega 30 bilhões (que seja 10 ou 20 bilhões) em empréstimo? Coloque este montante a 6% de juros e veja se alguma empresa consegue pagar. Pesquise e veja qual empresa teve um faturamento de 30 bilhões neste ano, principalmente situada no Brasil.´
No governo Lula, Presidência concentrou poderes e multiplicou cargos e verbas
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
Ao longo de seus oito anos de mandato, Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma multiplicação sem precedentes de estruturas, cargos, verbas e poderes da Presidência da República, o que também ajuda a explicar por que escândalos se concentraram no Palácio do Planalto.
O orçamento da Presidência e dos órgãos sob seu comando direto somava, em valores já corrigidos pela inflação, R$ 3,7 bilhões no final do governo FHC. No final da administração petista, são R$ 8,3 bilhões --ou R$ 9,2 bilhões se contabilizado o Ministério da Pesca, que tem orçamento separado, mas é vinculado à Presidência.
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A expansão, de 126% no cálculo mais comedido, superou com folga a do restante da máquina federal --de lá para cá, as verbas de ministérios, autarquias, fundações, Legislativo e Judiciário tiveram juntas aumento de 70%.
Mas é na distribuição interna dos recursos que estão os exemplos mais eloquentes da superpresidência de Lula.
Só o gabinete presidencial teve seus recursos multiplicados por cinco. Na classificação orçamentária, é onde está o núcleo central do poder palaciano, incluindo a Casa Civil da qual saíram José Dirceu, acusado de comandar o mensalão, Dilma Rousseff, para a campanha, e Erenice Guerra, após a revelação de que havia um esquema de facilitação de interesses privados no ministério.
É ainda onde foram concentradas todas as verbas da publicidade oficial, antes distribuídas entre os ministérios e hoje a cargo da Secretaria de Comunicação Social, entregue em 2007 ao jornalista Franklin Martins, que ganhou status de ministro.
Naquele ano foi criada uma estatal subordinada a Franklin, a Empresa Brasil de Comunicação, que substituiu a Radiobrás e tem hoje orçamento --separado do gabinete presidencial-- equivalente a quase o quádruplo do contabilizado em 2002.
A cargo da secretaria e da empresa está o programa "Democratização do acesso à informação jornalística, educacional e cultural". Trata-se, principalmente, da produção e distribuição de reportagens sobre o governo.
Além de mais dinheiro, há mais gente no entorno presidencial. Sob Lula, o quadro de pessoal da Presidência aumentou acima dos 250%, enquanto no restante do Executivo civil a taxa foi de 13%.
É verdade que a maior parte desse aumento se deve à Advocacia-Geral da União, que, além de contratar novos funcionários por concursos, absorveu procuradores antes distribuídos em outros órgãos. Desconsiderada a AGU, o contingente cresceu 150%, para 7.856 pessoas em maio.
No gabinete do presidente, a grande maioria ocupa cargos e funções de confiança, sejam os de livre nomeação, sejam os reservados a servidores requisitados de outros órgãos --eram os casos, respectivamente, de Vinícius Castro e Stevan Knezevic, que deixaram a Casa Civil na esteira do caso Erenice.
A Presidência também cresceu com a criação de novas estruturas e a absorção de órgãos que anteriormente estavam em ministérios. No governo Lula, o Planalto passou a incluir as secretarias especiais de Portos, Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Igualdade Racial.
A Controladoria-Geral da União ganhou orçamento próprio. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) saiu do Planejamento, teve mais verbas e fez o maior concurso de sua história.
Agora some os fatos: um país que gera crédito para potenciais inadimplentes, afinal pegar bilhões em empréstimo significa duas possibilidades: ou você é um gigante prestes a entrar em falência ou pretende aplicar um golpe. Neste mesmo país todas as instituições financeiras operam com taxas astrônomicas de juros e investem cada vez mais em pessoas de baixa renda ou sem renda alguma fixa, ou seja, grau de risco enorme. Neste mesmo país o governo incha a máquina pública com cargos, ministérios e comissionados, além de distribuir verbas sem critérios específicos, a não ser o de apadrinhamento político e esquemas de corrupção. Como um governo com instituições fracas, aparelhadas e extremamente corrupto que não controla o gasto público, ao contrário, mantyém taxas de juros altas e opera com operações de altíssimo risco pode manter uma economia saudável?
A economia brasileira é maravilhosa apenas nas propagandas.