Aécio, o PSDB de MG e o "esclarecimento".
A pergunta e a resposta
O senhor tem um alto índice de popularidade, não se sente um pouco decepcionado em não ter conseguido ser candidato a Presidente?
Meu nome foi apresentado ao partido, o partido num determinado momento tomou um outro caminho, que eu respeito, em torno de um nome muito sério que é o do governador Serra, e nós temos que pensar no futuro, vamos trabalhar em Minas Gerais para que o governador Anastasia vença as eleições. Minas tem que continuar avançando, nós temos hoje os melhores resultados econômicos e sociais dentre todos os estados brasileiros e o governador Anastasia é a garantia de que isso não vai ser interrompido. Uma eventual derrota de Anastasia seria a vitória de interesses externos a Minas Gerais e talvez a derrota do projeto de Minas. Eu acho que nós podemos pensar assim num projeto nacional para Minas Gerais no futuro, mas projeto nacional, até mesmo do governo federal, passa pela eleição de Anastasia agora em outubro.
A nota de esclarecimento
À noite, Aécio divulgou nota onde nega que tenha vinculado a vitória de Anastasia a um projeto pessoal de eventual candidatura à Presidência, com foi noticiado. "A eleição de Anastasia, por si só, garante o peso de Minas no cenário nacional. Esse é o grande projeto que Minas apresenta hoje ao Brasil e que conta ainda com a minha candidatura e a do presidente Itamar Franco ao Senado. Temos um candidato à Presidência, José Serra, em quem confiamos e apoiamos e que representa os melhores valores da política brasileira".
Mas no artigo de Vittorio Medioli publicado em 16 de agosto de 2010, há uma outra iluminação da cena política mineira, no sentido de Eric Auerbach (Mimesis).
Vittorio Medioli militou no PSDB mineiro desde 1989. Em 2005, no seu quarto mandato de deputado federal, desfilou-se do partido.
Tucano não se esquece
Se Hélio Costa não perde oportunidade para falar de Dilma Rousseff, a candidata do PT, Anastasia e Aécio não falam de José Serra de jeito nenhum, candidato do partido deles, o PSDB. Medo, vergonha, esquecimento, cálculo? Os quatro juntos?
Se os caciques não se lembram de Serra, a tribo de candidatos e cabos eleitorais se calará, como calada está.
Passando pelo bairro Belvedere, um tripé luxuoso mostra a cara do deputado Gustavo Valadares, do DEM - filho de Ziza Valadares, ex-deputado do PSDB, ex-presidente da Cenibra e da CBTU por nomeação de Fernando Henrique. Certamente, foi um que se esbaldou enquanto durou o reinado tucano. Na tábua de Gustavo se enxergam as faces sorridentes de Aécio e Anastasia. Nenhuma citação a José Serra, apesar dos transcursos felizes do pai e ainda do vice-presidente indicado pelo DEM.
Em caso de vitória de Serra, provavelmente estarão lá em Brasília para cobrar mais uma CBTU de favores. E por que, agora, esquece-se de Serra? A atitude é até inconsequente, entretanto, não são exceções. Encarnam a regra desde o governador até o deputado estadual, todos omitindo o candidato presidencial.
Para gáudio máximo de Dilma, e não de Hélio Costa, no último fim de semana foi disparada uma operação de telemarketing eleitoral com alvo numa dezena de milhares de residências de Belo Horizonte e de municípios de Minas. Provavelmente, milhões de telefonemas serão gastos para permitir que a voz firme e cordial de Aécio Neves lembre os avanços de seu governo e peça apoio para seu ungido Anastasia. Durante o minuto que dura a ligação não se ouve uma citação a Serra.
Observe-se: tivesse do alto de seu prestígio se lembrado de Serra, o que era fácil, o candidato à Presidência pelo PSDB, além de Anastasia, teria recebido um empurrão de milhares de votos a custo zero. A omissão soa quase condenação.
Não se encontram santinhos citando Serra. Em compensação, o sorriso amarelo de Dilma acompanha "religiosamente" as propagandas dos candidatos petistas.
O PSDB, por essa entre outras, mostra-se como uma frente de interesses patologicamente pessoais. A nobreza de um Montoro e o desprendimento de um Covas já se foram, a inteligência e o trabalho de estruturação de Fernando Henrique, que abriu uma era de prosperidade para o país, nunca foram defendidos pelos tucanos de segunda geração. FHC foi abandonado às feras.
O sentido de "pátria", a "utopia", ou desprendimento, desapareceu para dar lugar a assíncronos e secundários como um "choque de gestão", ode ao tributarismo estrábico - aquele que não tem noção de economia de escala, das vantagens da inclusão social e até dos maiores recursos para o erário.
Uma campanha eleitoral começa e o PT se une acreditando que a vitória para presidente será a vitória de todos os filiados. O PSDB (de Minas) não, calcula que esquecer seu candidato é melhor.
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