Índice | Comunicar Erros VALE-TUDO: O LEITOR É QUEM PERDE
AO LONGO da semana que passou, Dilma Rousseff e José Serra viraram coadjuvantes na cena eleitoral. Os holofotes se voltaram para o presidente Lula e a imprensa, engalfinhados em um confronto do qual nenhum sairá vencedor. O presidente vem acusando os principais meios de comunicação de venderem uma neutralidade mentirosa e de "inventarem coisas o dia todo". Arrematou com a promessa de "derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos". A imprensa reagiu rapidamente, com editoriais contundentes, que afirmavam, por exemplo, que "o destampatório [de Lula] representa mais uma etapa da marcha para a desfiguração da instituição sob a sua guarda, com a consequente erosão das bases da ordem democrática" ("O Estado de S. Paulo"). A Folha já havia dito, em editorial, que "é preciso estabelecer limites e encontrar um paradeiro à ação de um grupo político que se mostra disposto a afrontar garantias democráticas e princípios republicanos de forma recorrente". Na sexta-feira, o jornal popular "Extra", do Infoglobo, fez uma capa sui generis: um rei de baralho, com o título "Lula é bonito" e a explicação "essa é a manchete para quem acha que o papel da imprensa é bajular os donos do poder" (veja acima). Para engrossar o caldo, um grupo de 59 personalidades divulgou um "manifesto em defesa da democracia" e, do outro lado, sindicatos e políticos convocaram um "ato contra a mídia golpista". Os oposicionistas, que incluem dom Paulo Evaristo Arns e Hélio Bicudo, afirmam que "é preciso brecar essa marcha para o autoritarismo". A retórica dos que repudiam a mídia não ficou atrás. "A manipulação grosseira [das notícias] objetiva castrar o voto popular e (...) deslegitimar as instituições democráticas", dizia o convite para o ato, encerrado por Luiza Erundina (PSB). Excitados pela possibilidade de um segundo turno, os dois lados exageram e confundem. Não há tentativas golpistas nem em Lula nem na imprensa. Os críticos à Folha têm razão quando afirmam que o noticiário está mais negativo a Dilma do que a Serra -embora seja preciso considerar que ela é a favorita. Algumas denúncias surgiram com força e depois se perderam em um certo vazio, como o escândalo da quebra do sigilo fiscal. No afã de esmiuçar a biografia da candidata do governo, fatos sem importância ganharam destaque indevido. Tudo isso é verdade, mas o que os lulistas não explicam é o fato de "factoides", como as denúncias de abusos na Casa Civil, terem derrubado a sucessora de Dilma. Referindo-se a Erenice Guerra, Lula disse que as "pessoas até podem enganá-lo por um dia, mas não enganam todo mundo todo o tempo". Poderia ter completado: graças à imprensa. O presidente -e os "petistas éticos"- deveriam agradecer à mídia por colocar freios na corrupção que atinge setores do governo. Quem perde com esse debate turvo é o leitor não militante, que gostaria de saber um pouco mais sobre o que pensam os candidatos e o que pretendem fazer. Um balanço do noticiário desde que foi criado o caderno Eleições, em 5 de setembro, mostra que foram publicadas apenas três reportagens principais (que abriram páginas) discutindo propostas -no mesmo período, foram 64 sobre escândalos e troca de acusações entre partidos. A disputa eleitoral pelo governo de São Paulo foi praticamente esquecida, assim como o Legislativo. Apesar de 66% dos eleitores não saberem em quem votar para deputado federal, saíram só seis textos de algum fôlego sobre o assunto. O caderno "Olho no Congresso" mostrava o funcionamento e as crises da Câmara e do Senado, mas nada sobre propostas ou candidatos. O professor de história Antonio Eduardo Santos, 50, que escreveu pela primeira vez a um jornal, resumiu bem: "Não é com este clima de "TPM jornalística" que acrescentaremos algo à opinião pública". |
domingo, 26 de setembro de 2010
Existe algum erro na matéria. O nome do articulista não é a da Ombudswoman, mas de João Santana, o verdadeiro autor. Veja o que ponho em azul.
São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010