Edição do dia 23/09/2010
24/09/2010 00h47 - Atualizado em 24/09/2010 01h00
Veja como funciona a tecnologia das urnas eletrônicas
Um complicado sistema de comunicações - 100% - nacional vai garantir a realização das eleições de outubro. Neste ano, um milhão de eleitores vão experimentar uma novidade, que vai acompanhar a urna eletrônica.
São 135,8 milhões de eleitores. Quatrocentos e oitenta mil urnas eletrônicas projetadas, programadas e fabricadas no Brasil. As urnas zero quilômetro saem de uma fábrica em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. Todas devidamente testadas, é claro.
Depois, na linha de montagem, é hora de juntar teclado, circuitos e lacrar tudo. Depois de montada, cada urna passa por seis horas de teste e depois ainda tem mais. As urnas vão ser distribuídas pelo Brasil inteiro. Elas têm que estar preparadas para uma viagem muitas vezes longa e difícil. Por isso, foi desenvolvido um teste de resistência que é feito em laboratório. É mais ou menos assim: um técnico pega uma urna dentro da caixa em que ela vai ser transportada e simula uma queda, da altura de um metro. “A recomendação é que a pessoa - todas pessoas que forem transportar essa urna -- transporte com cuidado pra que no dia da eleição ela esteja totalmente em condições de uso”, explica o gerente técnico do TSE, Ivanildo Soares Pereira. Prontas, testadas e embaladas, as urnas começam a viagem rumo à seção eleitoral. As urnas que irão para os recantos mais distantes do país vão acompanhadas de computador e antena -- para que os votos sejam transmitidos via satélite. A principal novidade desta eleição é o leitor biométrico. Mais de um milhão de eleitores terão o privilégio de votar identificados apenas com o dedo. Quando o eleitor encosta o polegar no sensor, ele é ativado e escaneia a impressão digital. É como se tirasse uma foto de alta qualidade. Depois, ele compara essa foto com a impressão armazenada na urna. Se as duas forem iguais, o voto é liberado. O TSE tem o maior banco de dados do Governo Federal. E no futuro -- quando todos os eleitores estiverem cadastrados -- será possível votar sem o uso de documentos. No dia 3 de outubro, quando você entrar na cabine, escolher seus candidatos e apertar a tecla confirma, o voto começa uma longa viagem. Cada urna eletrônica é um computador sofisticado, com componentes de última geração. Ela traz na memória o cadastro dos eleitores daquela seção onde é instalada, a lista de candidatos e os programas, todos desenvolvidos pelo próprio TSE. O voto é uma informação bem pequenininha: são apenas quatro bytes. Como esse ano teremos seis votos, cada eleitor vai ocupar 24 bytes da urna. Eles percorrem os circuitos na velocidade da luz e ficam guardados dentro do cartão de memória, que funciona como um armário, cheio de escaninhos e depois que o último eleitor votar o mesário tira o cartão de memória de resultado - que esse ano vai começar a substituir o disquete - e o leva até um dos seis mil pontos de transmissão em todo o Brasil. Os votos dos candidatos locais são enviados para os tribunais regionais eleitorais. Já os votos para presidente da República vão para um supercomputador, que fica protegido em uma sala-cofre no Tribunal Superior Eleitoral. Ele soma os votos do Brasil inteiro. No pico da apuração, será capaz de contar até 300 mil votos por minuto. É uma mega operação tecnológica. Uma corrida contra o tempo feita sob ataques ferozes de hackers do mundo inteiro. “Nós temos em dia de eleição a impressionante marca de 400 mil tentativas de ataque por minuto ao nosso site ou a nossa rede”, diz o secretário de tecnologia do TSE, Giuseppe Janino. Para enfrentar esse exército, o TSE monta uma estratégia de defesa com dezenas de barreiras tecnológicas. A urna tem lacres físicos e eletrônicos. Os programas travam se forem alterados “Não tivemos ainda nenhum registro de fraude ou tentativa de fraudes”, fala Giuseppe. No ano passado, o tribunal desafiou hackers de todo o país a violar a urna eletrônica. Depois de uma semana de tentativas, ninguém conseguiu alterar o resultado. Mas há quem desconfie, mesmo assim.
“A urna eletrônica é obviamente segura contra ataques de fora. Mas não é segura contra ataques de dentro. Ataques cometidos por funcionários ou por pessoas contratadas, terceirizadas, contratadas pela Justiça Eleitoral pra programar, fabricar, operar a urna eletrônica”, diz o doutor em ciência da computação e professora da Unicamp, Jorge Stolfi. O TSE diz que isso não seria possível, dada a quantidade de gente que trabalha em cada etapa do processo. “O que se faz então é aumentar fortemente o custo associado a essa quebra de segurança. E nesse sentido eu posso afirmar com certeza que o custo associado à quebra de segurança do sistema de votação brasileiro é extremamente alto fazendo com que esse custo seja tão alto que é inviável fazer essa quebra”, afirma Sérgio de Lima.
Apesar de tudo isso, a partir de 2014, a lei determina que a urna terá de imprimir o voto para uma eventual recontagem. Um cuidado a mais para acalmar os críticos, mas que para quem defende a urna eletrônica parece estar na contramão da democracia da era digital.