Folha de São Paulo.
São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011
"Expulsa" após casar, ex-diplomata tenta voltar ao Itamaraty
Cecília Prada, 81, diz que precisou abandonar a carreira no começo, ao se casar com colega, em 1958. Na época, segundo ela, o instituto exigia que, em caso de casamento entre funcionários, a mulher pedisse exoneração
Silvia Zamboni/ Folhapress
A jornalista e ex-diplomata Cecília Prada, 81, em seu apartamento, em Campinas
LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO
Uma das primeiras mulheres a entrar no Instituto Rio Branco, a jornalista e ex-diplomata Cecília Prada, 81, tenta há dez anos na Justiça ser reintegrada ao Itamaraty. Cecília entrou no instituto em 1956, dois anos depois que o concurso passou a ser aberto a mulheres. Mas teve que abandonar a carreira em 1958, para casar com o também diplomata Sérgio Paulo Rouanet (ex-secretário de Cultura da Presidência, que deu nome à Lei Rouanet).Na época, segundo ela, o Itamaraty exigia que, nesses casos, a mulher pedisse exoneração. "Ou eu saía ou não me casava. Saí prejudicada por ser mulher." Após quinze anos, Cecília se separou. Depois, tentou voltar à carreira diplomática por um processo administrativo, mas não conseguiu.
Em 2001, ingressou na Justiça com uma ação pedindo a reintegração ou indenização.Se for readmitida, pretende pedir aposentaria. Os valores, segundo a defesa de Cecília, não foram definidos.A Justiça negou o pedido em 2006. O advogado da jornalista, Guido Neinberg Jr., diz que o argumento foi o de que o pedido só poderia ser feito até cinco anos após a exoneração.
A defesa recorreu alegando que a Constituição garante igualdade entre homens e mulheres. Para Cecília, sua saída foi provocada pelo preconceito por ser mulher."Quando minha turma terminou o curso, foi chamada ao gabinete do Secretário-Geral. Para cada um ele cumprimentava dizendo "Parabéns, seja bem-vindo à Casa". Quando chegou a minha vez, disse "Eu sou contra mulheres na carreira"."
OUTRO LADO
A assessoria do Itamaraty disse que não comentará o processo até a decisão estar transitada em julgado.O Itamaraty confirmou a exigência de exoneração da mulher quando houvesse casamento entre diplomatas.Um decreto-lei de 1946 determinava que se o diplomata casasse com uma servidora pública, como era o caso de Cecília, ela teria que exonerar-se. Não há registro de mudança na regra até 1958, segundo o site da Câmara.Segundo a assessoria, atualmente, dois diplomatas podem se casar e marido e mulher costumam ser removidos para o mesmo local.
São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011
"Expulsa" após casar, ex-diplomata tenta voltar ao Itamaraty
Cecília Prada, 81, diz que precisou abandonar a carreira no começo, ao se casar com colega, em 1958. Na época, segundo ela, o instituto exigia que, em caso de casamento entre funcionários, a mulher pedisse exoneração
Silvia Zamboni/ Folhapress
A jornalista e ex-diplomata Cecília Prada, 81, em seu apartamento, em Campinas
LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO
Uma das primeiras mulheres a entrar no Instituto Rio Branco, a jornalista e ex-diplomata Cecília Prada, 81, tenta há dez anos na Justiça ser reintegrada ao Itamaraty. Cecília entrou no instituto em 1956, dois anos depois que o concurso passou a ser aberto a mulheres. Mas teve que abandonar a carreira em 1958, para casar com o também diplomata Sérgio Paulo Rouanet (ex-secretário de Cultura da Presidência, que deu nome à Lei Rouanet).Na época, segundo ela, o Itamaraty exigia que, nesses casos, a mulher pedisse exoneração. "Ou eu saía ou não me casava. Saí prejudicada por ser mulher." Após quinze anos, Cecília se separou. Depois, tentou voltar à carreira diplomática por um processo administrativo, mas não conseguiu.
Em 2001, ingressou na Justiça com uma ação pedindo a reintegração ou indenização.Se for readmitida, pretende pedir aposentaria. Os valores, segundo a defesa de Cecília, não foram definidos.A Justiça negou o pedido em 2006. O advogado da jornalista, Guido Neinberg Jr., diz que o argumento foi o de que o pedido só poderia ser feito até cinco anos após a exoneração.
A defesa recorreu alegando que a Constituição garante igualdade entre homens e mulheres. Para Cecília, sua saída foi provocada pelo preconceito por ser mulher."Quando minha turma terminou o curso, foi chamada ao gabinete do Secretário-Geral. Para cada um ele cumprimentava dizendo "Parabéns, seja bem-vindo à Casa". Quando chegou a minha vez, disse "Eu sou contra mulheres na carreira"."
OUTRO LADO
A assessoria do Itamaraty disse que não comentará o processo até a decisão estar transitada em julgado.O Itamaraty confirmou a exigência de exoneração da mulher quando houvesse casamento entre diplomatas.Um decreto-lei de 1946 determinava que se o diplomata casasse com uma servidora pública, como era o caso de Cecília, ela teria que exonerar-se. Não há registro de mudança na regra até 1958, segundo o site da Câmara.Segundo a assessoria, atualmente, dois diplomatas podem se casar e marido e mulher costumam ser removidos para o mesmo local.