Morre o bispo emérito de Goiás d. Tomás Balduíno
Religioso se consagrou internacionalmente como defensor dos direitos humanos por sua luta pela proteção de índios e trabalhadores rurais
03 de maio de 2014 | 12h 09
Marília Assunção - Especial para o Estado de S. Paulo
GOIÂNIA - O bispo emérito de Goiás, d. Tomás Balduíno,
morreu às 23h30 de sexta-feira, 2, em Goiânia, aos 91 anos. O religioso
estava em tratamento de complicações cardíacas e de câncer na próstata e
estava internado havia 20 dias no Hospital Neurológico.
DIDA SAMPAIO / ESTADÃO
D. Tomás, ao receber o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em dezembro de 2012
D. Tomás Balduíno é reconhecido internacionalmente por suas
contribuições sociopolíticas na defesa dos direitos humanos. Ele foi
fundador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão
Pastoral da Terra (CPT).
Em sua página na internet, neste sábado, 3, o Cimi lamentou a perda:
“Disse-nos adeus o incansável guerrilheiro das grandes causas da
humanidade”. O conselho destacou as inúmeras vezes em que o religioso
percorreu o Brasil apoiando as reivindicações dos povos indígenas em
defesa dos seus territórios e das suas formas de vida originais.
Trajetória. Nascido em Posse, no norte de Goiás,
membro da ordem dos Frades Dominicanos da Igreja Católica, formado na
França, d. Tomás promoveu intenso trabalho humanizador e foi referência
de resistência durante o regime militar no Brasil, fazendo uma defesa
radical da comunidade indígena e da reforma agrária. Durante a ditadura,
fez críticas à própria Igreja Católica e articulou com outros bispos
uma “resistência interna”, como definia.
Foi agraciado com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2012
(categoria homenagem especial). Em 2006, em Portugal, recebeu o Prêmio
de Direitos do Homem Dr. João Madeira Cardoso, da Fundação Mariana
Seixas, de Viseu, em colaboração com o Conselho Distrital de Coimbra da
Ordem dos Advogados.
Em 2008, recebeu nos Estados Unidos o prêmio Reflections of Hope, da
Oklahoma City National Memorial Foudation, como exemplo na solução das
causas da miséria pelo mundo. No mesmo ano recebeu o título de Doutor
Honoris Causa da Universidade Católica de Goiás por sua luta pela
cidadania e direitos humanos. Em 2003, recebeu a medalha do Mérito
Legislativo Pedro Ludovico Teixeira da Assembleia Legislativa do Estado
de Goiás, e o título de Cidadão Goianiense, concedido pela Câmara
Municipal de Goiânia.
Era exímio piloto de aviões de pequeno porte e conduzia ele mesmo as
aeronaves, levando ajuda às comunidades indígenas. Era mestre em
Teologia pela Saint Maximin da França, mestre em Antropologia e
Linguística Indígena pela Universidade de Brasília, e continuava na
ativa, como conselheiro permanente da CPT e padrinho honorário do Cimi.
Recentemente, quando as doenças agravaram, entre as personalidades que
telefonaram para d. Tomás esteve o presidente da Venezuela, Nicolás
Maduro.
Enterro. O corpo do bispo emérito será velado até a
manhã de domingo, 4, na Igreja São Judas Tadeu, em Goiânia. Depois será
levado para a cidade de Goiás, onde será velado e sepultado na própria
catedral.