Dilma terá que conviver com ‘volta, Lula’, até o fim da campanha, dizem analistas
- Três fatores estariam amarrando o desempenho da presidente: o fraco desempenho econômico, a falta de um legado próprio e o carisma do ex-presidente
SÃO PAULO - O “Volta, Lula” não vai acabar. Na avaliação de
cientistas políticos e analistas entrevistados ontem pelo GLOBO, o
movimento, que nasceu no PT e contaminou parte da base aliada da
presidente Dilma Rousseff, vai fazer sombra ao projeto de reeleição da
petista até às vésperas da eleição, se ela não conseguir reverter a
tendência de queda nas pesquisas.
Três fatores, segundo analistas, estariam amarrando o desempenho da presidente: o fraco desempenho econômico de seu governo, a falta de um legado próprio de sua gestão e o carisma indiscutível do ex-presidente, capaz de acalmar a base e unir a militância petista.
— Ela passou pouco mais de três anos de governo tomando medidas paliativas em quase todas as áreas. Não conseguiu pôr em prática um projeto para o país enfrentar este momento de crise — avaliou o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rudá Rocci.
A força do “Volta, Lula” fez com que a presidente reagisse esta semana. Em entrevista a editores de esportes na segunda-feira, declarou: “ninguém vai me separar do Lula nem ele vai se separar de mim”, em referência clara às investidas de aliados no ex-presidente. Para o cientista político Marco Antônio Teixeira (FGV-SP), as declarações são indícios do caminho que ela escolheu para tentar garantir sua candidatura à reeleição:
— Ao chamar para si a responsabilidade, Dilma tenta conseguir o protagonismo interno no processo (eleitoral). Se ela conseguir trazer para si essa responsabilidade, pode ser que a base se acalme e o eleitor veja nela alguém capaz de superar essa crise.
A sombra do ex-presidente não afeta só Dilma. Tanto para Rocci quanto para Marco Antônio Teixeira, não há na oposição um projeto alternativo que supra a carência e os desejos da população. E, por isso, há uma recordação do bom momento vivido por Lula nos oito anos de governo.
— O “Volta, Lula” não é um gesto (único) do PT. Ele extrapola a base do governo. Ele é puxado pelo legado imposto pela gestão do Lula, reconhecido pela população como o cara que criou o Bolsa Família, mas também pelo setor empresarial, que teve, durante sua passagem pela Presidência, um forte investimento estatal — explicou Teixeira, frisando que o presidenciável Aécio Neves (PSDB) perdeu o “timing” para ser essa voz que o eleitor procura, e que o outro oposicionista, Eduardo Campos (PSB), também terá que lidar com uma sombra:
— O Aécio só agora assume a posição de confronto com o governo. Ele poderia ter sido essa voz nos três anos de governo Dilma. Agora, pode ser que o eleitor interprete a mudança de postura como eleitoral. Já a Campos falta capilaridade política nos estados para replicar o seu discurso, e ele ainda tem que lidar com uma sombra própria (Marina Silva, sua companheira de chapa).
Para o filósofo Roberto Romano, no entanto, as motivações do crescimento do coro pedindo a volta do ex-presidente não estão claras. Ele diz que a diferença de personalidade entre Lula e Dilma pode ajudar a entender um pouco o cenário.
— As motivações imediatas ainda são obscuras. Não dá para fazer um retrato ideal ainda. Minha hipótese provisória é que a predominância do marketing no processo eleitoral fez com que a presidente esquecesse do básico, que é fazer política.
Para reforçar essa tese, Romano afirmou que Lula consegue unir e costurar alianças de grupos diferentes, como as “oligarquias tradicionais” comandadas por José Sarney e Fernando Collor, com grupos operários do ABC, por conta do seu perfil carismático. Já Dilma traz consigo o peso das marcas da luta armada e o tecnicismo burocrático da universidade, que não ecoam na maioria da sociedade.
— Dilma é uma burocrata acadêmica. Traz consigo uma visão lógica e racional, mas lhe falta intuição política. Isso é claro até dentro do PT. Ela não consegue dialogar com a militância, que teve de engoli-la por conta do Lula.
Três fatores, segundo analistas, estariam amarrando o desempenho da presidente: o fraco desempenho econômico de seu governo, a falta de um legado próprio de sua gestão e o carisma indiscutível do ex-presidente, capaz de acalmar a base e unir a militância petista.
— Ela passou pouco mais de três anos de governo tomando medidas paliativas em quase todas as áreas. Não conseguiu pôr em prática um projeto para o país enfrentar este momento de crise — avaliou o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rudá Rocci.
A força do “Volta, Lula” fez com que a presidente reagisse esta semana. Em entrevista a editores de esportes na segunda-feira, declarou: “ninguém vai me separar do Lula nem ele vai se separar de mim”, em referência clara às investidas de aliados no ex-presidente. Para o cientista político Marco Antônio Teixeira (FGV-SP), as declarações são indícios do caminho que ela escolheu para tentar garantir sua candidatura à reeleição:
— Ao chamar para si a responsabilidade, Dilma tenta conseguir o protagonismo interno no processo (eleitoral). Se ela conseguir trazer para si essa responsabilidade, pode ser que a base se acalme e o eleitor veja nela alguém capaz de superar essa crise.
A sombra do ex-presidente não afeta só Dilma. Tanto para Rocci quanto para Marco Antônio Teixeira, não há na oposição um projeto alternativo que supra a carência e os desejos da população. E, por isso, há uma recordação do bom momento vivido por Lula nos oito anos de governo.
— O “Volta, Lula” não é um gesto (único) do PT. Ele extrapola a base do governo. Ele é puxado pelo legado imposto pela gestão do Lula, reconhecido pela população como o cara que criou o Bolsa Família, mas também pelo setor empresarial, que teve, durante sua passagem pela Presidência, um forte investimento estatal — explicou Teixeira, frisando que o presidenciável Aécio Neves (PSDB) perdeu o “timing” para ser essa voz que o eleitor procura, e que o outro oposicionista, Eduardo Campos (PSB), também terá que lidar com uma sombra:
— O Aécio só agora assume a posição de confronto com o governo. Ele poderia ter sido essa voz nos três anos de governo Dilma. Agora, pode ser que o eleitor interprete a mudança de postura como eleitoral. Já a Campos falta capilaridade política nos estados para replicar o seu discurso, e ele ainda tem que lidar com uma sombra própria (Marina Silva, sua companheira de chapa).
Para o filósofo Roberto Romano, no entanto, as motivações do crescimento do coro pedindo a volta do ex-presidente não estão claras. Ele diz que a diferença de personalidade entre Lula e Dilma pode ajudar a entender um pouco o cenário.
— As motivações imediatas ainda são obscuras. Não dá para fazer um retrato ideal ainda. Minha hipótese provisória é que a predominância do marketing no processo eleitoral fez com que a presidente esquecesse do básico, que é fazer política.
Para reforçar essa tese, Romano afirmou que Lula consegue unir e costurar alianças de grupos diferentes, como as “oligarquias tradicionais” comandadas por José Sarney e Fernando Collor, com grupos operários do ABC, por conta do seu perfil carismático. Já Dilma traz consigo o peso das marcas da luta armada e o tecnicismo burocrático da universidade, que não ecoam na maioria da sociedade.
— Dilma é uma burocrata acadêmica. Traz consigo uma visão lógica e racional, mas lhe falta intuição política. Isso é claro até dentro do PT. Ela não consegue dialogar com a militância, que teve de engoli-la por conta do Lula.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/dilma-tera-que-conviver-com-volta-lula-ate-fim-da-campanha-dizem-analistas-12370985#ixzz30fApHfwY
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.