Postura, senhores!
16 de maio de 2014 | 2h 07
*Dom João de Orleans e Bragança - O Estado de S.Paulo
Passaram-se 50 anos do dia em que nos afundamos numa
ditadura. Será que aqueles que lutaram por um Brasil livre apoiariam a
podridão que vemos hoje ou se sentiriam traídos por muitos que estão no
governo? Faltam estadistas e falta postura pública, para que os eleitos
deixem de lado a luta partidária e olhem pelo País, governem para todos e
não deixem o Estado se transformar em feudo e o governo, em cabide de
empregos. É o que estamos vendo.
Muitos se conformam e fecham os olhos, achando que os grandes avanços
sociais dos últimos 20 anos permitem isso, um "rouba, mas faz"
atualizado. Quem está na vida pública, porém, deve fazê-lo por ideal.
Quem é eleito tem a obrigação de servir ao País, nunca se servir dele.
Vemos, na maioria daqueles que se dedicam à política, uma postura
absolutamente oposta àquilo de que o Brasil precisa. Não há idealismo
nem ética em muitos de nossos homens e mulheres da vida pública,
características que devem ter aqueles que, pelo voto ou por nomeação,
chegaram a uma posição em que a total transparência e a dedicação ao
País têm de ser a condição básica. Isso parece um sonho hoje.
Quando o deputado André Vargas, ex-vice presidente da Câmara dos
Deputados, tenta explicar como e por que usou um jato emprestado de um
doleiro que está preso e ainda fala, sem vergonha, que estava fazendo
contato no Ministério da Saúde para o laboratório do doleiro - e
gravações da Polícia Federal comprovam as suspeitas -, ele recebe
aplausos de seu partido, o PT, em plenário, depois do discurso. Quando
ele começa a incomodar, querem que renuncie. Não por causa dos indícios
de tráfico de influência e corrupção. Queriam a renúncia para não
atrapalhar o partido. Chegamos, assim, a mais um exemplo da decadência
abismal na política, com a arrogância e a prepotência desses inimigos do
Brasil.
Vargas e tantos outros não sabem que um homem público não pode usar
jatos emprestados, nem receber favores de empreiteiras (alguém acredita
que empreiteiras dão dinheiro a campanhas políticas por patriotismo?),
nem presentes, nem facilidade de nenhum tipo. O servidor público tem de
ser honesto e parecer honesto. Um homem público tem de limpar, primeiro,
os podres dentro de seu partido, assim terá moral e respeito para
tentar melhorar o País.
O ex-presidente Lula não poderia ter ido à casa de Paulo Maluf
aliar-se a ele por minutos na televisão, uma vez que Maluf é procurado
pela polícia em todo o mundo por peculato e evasão de divisas. Uma
mancha na biografia de Lula, triste para nós, brasileiros. "Às favas com
os escrúpulos" parece ser a palavra-chave na política.
Se os partidos soubessem que uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) deve ser sempre feita quando há indícios de fraude com o
patrimônio público, não tentariam instalar outra CPI como pressão para
que a oposição desista. O PT deveria ser o primeiro a querer uma CPI da
Petrobrás e o PSDB, o primeiro a querer a CPI do Metrô. Ambos foram
eleitos para isso. Essa seria a política correta. Mas os brasileiros
assistem de boca aberta a governo e oposição brigando pela abertura de
CPIs não para descobrir fraudes, e, sim, para derrubar o adversário. Se
fosse por patriotismo e postura pública, os primeiros a querer limpar a
casa deveriam ser os que têm um mandato para... limpar a casa. Não são
patriotas, enganam quem os elegeu.
O blocão liderado por Eduardo Cunha (PMDB) convocou, recentemente,
dez ministros para deporem na Câmara. Que ninguém pense que foi pelo bem
do Brasil ou pela moralidade nos ministérios. Não o fez antes porque
não tinha nada para pedir em troca. Eles querem mais! Temos partidos
"donos" de ministérios: o do Trabalho é do PDT, o dos Transportes é do
PR, o de Minas e Energia é de José Sarney há décadas - e o gerente é
Fernando Sarney, que tem processos e gravações com o pai de enojar os
honestos. Ambos estão envolvidos com a Polícia Federal, o Ministério
Público e o Judiciário. O Maranhão parece uma escola de especialistas em
políticas de energia pública. A cúpula do governo parece autista.
A maioria dos partidos políticos perdeu sua função. Deveriam existir
para juntar ideias, programas de governo e políticas sociais com
brasileiros idealistas. Mas se prostituíram. Vendem-se. Alguns são mesmo
de "aluguel".
Muitos brasileiros estão anestesiados com a normalidade de ler nos
jornais fatos como o de que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da
Petrobrás, que está preso, foi "indicação" de José Janene (PP). Quase
todos os cargos nas estatais e autarquias são "indicações". Não há
democracia nem moralidade quando políticos que entram na política atrás
de poder e dinheiro podem "indicar" pessoas para 20 mil cargos da
administração pública (os chamados DAS). Esses cargos têm de ser
preenchidos por técnicos concursados e político nenhum pode ter poder
nessas nomeações. Essa é uma das causas da corrupção generalizada com
"patrocinadores" e "padrinhos" nos diversos partidos da base de apoio.
Por que existem 39 ministérios? É pura e simples moeda de troca com o
que há de pior em caráter na vida pública. Vale tudo, e o que vemos é
somente a ponta do iceberg. Se isso não mudar, o Brasil não vai mudar.
Temos uma corja incrustada na política e na administração, dos
pequenos aos altos cargos públicos no governo. Acreditei que o PT iria
mudar isso. De malfeitos em malfeitos e de faxina em faxina, tudo
continua igual. As velhas e corruptas oligarquias continuam presentes e o
mais decepcionante é que o PT, que lutou e levantou a bandeira da
mudança, hoje é parceiro delas. Chamam quadrilha de "aloprados", roubo
de "malfeito", mensalão de "recursos não contabilizados". Para eles,
Sarney, Collor e Maluf têm reputação ilibada e idoneidade moral.
Desrespeitam a Constituição, fragilizam a democracia e as instituições e
desacreditam mais ainda a eles mesmos, a classe política.
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É FOTÓGRAFO E TRINETO DE DOM PEDRO II