Polêmico, d. Tomás Balduíno foi defensor incansável de índios e lavradores
03 de maio de 2014 | 13h 44
José Maria Mayrink - O Estado de S. Paulo
Teólogo, missionário, piloto de avião, defensor dos
direitos humanos, d. Tomás Balduíno, bispo emérito (aposentado) de Goiás
– cidade também chamada de Goiás Velho – foi uma das figuras mais
ativas e polêmicas da Igreja Católica no Brasil, nos últimos 50 anos.
DIDA SAMPAIO / ESTADÃO
D. Tomás, ao receber o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em dezembro de 2012
Religioso da Ordem dos Pregadores (frades dominicanos), nasceu em 31
de dezembro de 1922 na cidade de Posse, em Goiás, Estado onde sempre
viveu. Nos anos 1940, estudou Filosofia em São Paulo e Teologia na
França, cursos de formação eclesiástica que complementou com uma
pós-graduação em Antropologia e Linguística na Universidade de Brasília
(UnB).
Ordenado padre em 1948, d. Tomás foi professor de Filosofia em
Uberaba (MG), superior da Missão Dominicana e pároco em Conceição do
Araguaia (PA). Foi nomeado, em 1966, prelado coadjutor da Prelazia da
Santíssima Conceição do Araguaia e, no ano seguinte, bispo da Diocese de
Goiás.
Renunciou, por limite de idade, em 1999, mas continuou atuando na ação pastoral junto aos movimentos sociais.
D. Tomás foi cofundador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e
seu segundo presidente. Ajudou também a fundar a Comissão Pastoral da
Terra (CPT), da qual foi conselheiro permanente depois de se aposentar.
Nas duas entidades, ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), foi defensor incansável dos índios e dos lavradores,
sempre brigando pelo direito deles à posse da terra. No Centro-Oeste,
fez dupla com o bispo-prelado de São Félix do Araguaia, d. Pedro
Casaldáliga.
Piloto de avião desde 1957, d. Tomás voava num monomotor que ganhou
de amigos italianos para visitar aldeias indígenas, colônias agrícolas e
acampamentos de trabalhadores. O avião lhe dava agilidade para levar
médicos, remédios e alimentos a regiões de difícil acesso. Segundo o
testemunho de quem voou com ele, d. Tomás pilotava bem e era muito
prudente, nunca se arriscando em situações de mau tempo ou em rotas
inseguras.
D. Tomás não falava sobre problemas de saúde. Até recentemente, fazia
natação numa piscina todas as manhãs e sempre estava animado para
caminhar nas visitas às comunidades.
Reforma agrária. Os militantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganharam seu apoio e admiração, em
todas as partes do País.
"Nossa reforma agrária é ainda a dos militares", afirmou o bispo em
setembro do ano passado, três meses antes de receber uma homenagem no
Palácio do Planalto por sua luta em defesa dos direitos humanos.
Aproveitou a solenidade para cobrar da presidente Dilma Rousseff mais pressa na execução da reforma agrária.
Em janeiro deste ano, d. Tomás escreveu um artigo no qual acusava a
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da
Agricultura (CNA), de ter despejado um trabalhador em sua propriedade.
A senadora rebateu acusação e, lembrando ser católica praticante,
disse que não reconhecia no bispo o "padre Tomás" que, em sua juventude,
pregava o perdão de Deus.
Partidário da Teologia da Libertação, d. Tomás admitiu no programa
Roda Viva, da TV Cultura, que essa tendência retrocedeu durante o
pontificado de João Paulo II. Criticou a orientação do papa, que,
conforme afirmou, reprimiu os teólogos a pedido do presidente Ronald
Reagan, dos Estados Unidos.
Defensor de uma Igreja pobre, o bispo emérito de Goiás escreveu uma
carta aberta aos bispos, em julho de 2008, sugerindo que as dioceses não
construíssem catedrais suntuosas e caras, como aquela que estava sendo
erguida em Goiânia, localizada numa área de difícil acesso.
Argumentou com o exemplo da Igreja Universal do Reino de Deus, que
constrói catedrais vistosas, mas junto do povo. Depois de deixar o
governo da diocese, d. Tomás foi morar no Convento São Judas Tadeu, dos
frades dominicanos, em Goiânia.