terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma reação indignada e consistente, contra o crime dos trotes.

Concordo com o post, embora discorde do nome de "grotão", aplicado pelo meu amigo Tambosi. Para ser rigoroso, deveriamos dizer que "grotão"é a imensa caverna chamada planeta Terra, porque éticas idiotas e hediondas, ao contrário do que dizia Descartes sobre o bom senso, são as coisas melhor distribuídas no mundo. A refinada Franca as comete, a científica Alemanha idem, a Suiça idem, idem, idem Gosto de recordar a origem dos trotes universitários. Na Idadade Média, quando as primeiras universidades surgiram, elas integravam o movimento de massas que fugiam dos senhores feudais (laicos ou religiosos). A única desculpa que os servos podiam apresentar para sair dos domínios senhoriais era a religião. Donde o número enorme de "peregrinações"(Compostela, entre outras). Os que fugiam do látego dos nobres, em boa parte, não voltavam para os feudos, apesar das punições terríveis (na Inglaterra, até o começo do século 19, que saía da propriedade sem permissão, ou não voltava, era conduzido por uma chibatada a cada kilometro seguido, na volta). Toda aquela gente se concentrou nas periferias das cidades, praticando assaltos, sequestros, etc Entre os fugitivos dos feudos, encontravam-se os estudantes que povoaram as universidades. Como a maior parte deles vinha da "roça", eram tidos pelos colegas da cidade como "bichos do mato"que precisariam passar para o rol dos entes humanos (como existiu debate na Idade Média para saber se mulheres tinham alma, também muita briga ocorreu para saber se os camponeses (os cul terreux, ou bundas de terra) tinha alma e inteligência. Não acostumados aos jeitos urbanos, aqueles estudantes eram, de fato, impolidos e, também, perigosos para o comércio, etc. Daí, os trotes, violentos, para acentuar o lado "animal"(bicho...) dos recem ingressos nos campi. Desde aquela época as autoridades acadêmicas tentaram atenuar a virulência do trote. Em vão. Alternativas não faltaram. Na Espanha, em vez de trote, o candidato ( o rico ou mediano, da cidade) poderia oferecer uma tourada e um banquete para fugir das que aplicavam trotes, e demais "brincadeiras" . Temos, pois, ,mais de mil anos de preconceito social e racial resumidos nos trotes. É uma das faces mais hediondas, inventadas na Europa, de degradação alegre dos semelhantes. Em minha coluna do Correio Popular, vez por outra, escrevo catilinárias contra os trotes. Mas noto que tudo é meio inútil. Quem foi violentado uma vez, no trote, tem ganas de se "vingar", praticando atrocidades contra os que entram. É a cultura da covardia cósmica. Esta última produz os bandidos "médicos"que festejaram sua formatura, no Paraná, soltando rojões contra doentes, insultando-os, etc. No meu entender, as leis comuns deveriam ser aplicadas nos canalhas que praticam trote. Humilhar seres humanos é contra a lei, entra no crime de injúria. E as reitorias poderiam colocar suas Procuradorias Jurídicas para processar tais crimes. Lugar de bandido não é na universidade, mas na cadeia.
Roberto Romano

PS: em meu livro Lux in Tenebris, trato do assunto, com base no excepcional trabalho de Jacques Le Goff sobre a consciência da universidade medieval (18 Essais sur le Moyen Age, Paris, Gallimard). No mais, concordo com o post de Otterco em genero, número e caso. RR

Estudante entra em coma alcoólico durante trote em Leme

O Globo

SÃO PAULO - Um calouro do curso de medicina veterinária foi levado para a Santa Casa de Leme, a 189 quilômetros da capital, em estado de coma alcoólico, nesta segunda-feira. Bruno Ferreira, de 21 anos, participava de um trote aplicado por veteranos da Faculdade Anhanguera. Segundo informações de estudantes que presenciaram o trote, alguns veteranos agrediram os alunos e deram um banho nos calouros com animais mortos e estrume. Os estudantes também foram obrigados a comer ração de cachorro, nadar na lama e ingerir muitas bebidas alcoólicas.Ferreira estava desacordado e sentado em uma cadeira amarrada ao poste. Ele foi chutado, caiu no chão e bateu a cabeça. A Polícia Militar foi acionada, mas não compareceu ao local. Alguns alunos socorreram o calouro que foi levado para a Santa Casa. Ele foi medicado e permanece em observação.A Polícia Civil informou que vai investigar os fatos e procurar os autores do trote. A diretora geral do Centro Educacional Anhanguera, Viviani Gomes, informou que repudia o que aconteceu e também vai abrir um processo administrativo para averiguar o caso e identificar os autores, que deverão ser expulsos do centro.

O que mais será preciso para se proibir trotes e prender quem faz esse tipo e coisa? (Se bem que o STF concede habeas corpus e atropela todas as outras instâncias menores) Quando as instituições de ensino serão responsabilizadas por permitirem esse tipo de selvageria em suas dependências? Todo ano, em todos os estados do Brasil são registrados casos similares. Esses símios disfarçados de estudantes possuem uma truculência e violência assombrosas e os casos de trotes mais violentos são registrados, geralmente, em cursos de medicina e direito.

Depois aparecem os diretores e reitores usando o lugar comum “repudio a prática... vamos punir os responsáveis...” e etc. Mas a cada ano a selvageria se repete com a total conivência das instituições, pais, ministério público e da própria sociedade. Quantas pessoas eu já não vi dizer sobre idiotas esmolando dinheiro para bebida em semáforos: “Ah, é diversão, tem mais é que comemorar mesmo!”

Mas o pior é quando aparecem os cretinos pedindo a substituição para os tais 'trotes solidários’ como doar alimentos ou sangue. Isso é uma idiotice, ninguém deve ser coagido a fazer nada que não queira. Quer doar sangue ou mantimentos? Faça-o independente de entrar em uma faculdade. Não quer fazer nada disso, mesmo que tenha entrado em uma faculdade? Ótimo, está no seu direito, isso aqui ainda é um país livre. Ou roubando da expressão usada por Orlando Tambosi: Isso aqui ainda é um Grotão livre.