Braziuu, inferno
Silvane Sabóia, poetisa No Blog do Acir Vidal
Muitos falam que eu me envolvi muito em política. Que eu não sou como antes.Que eu deveria esquecer mais todo esse conflito.Mas como posso fazer isso? Sabe o que me leva a fazer imagens a tanto tempo? O desgosto. Mesmo antes de me envolver nos problemas políticos. Eu fazia imagens de sonhos porque não gostava do que eu via. A realidade era muito diferente, essa realidade dura que me atravessa a alma todo dia. Muitos falam que eu perdi a magia.Que eu vivo agora numa eterna agonia. Enganam-se. Hoje vivo a realidade. A toco de perto. Antes eu vivia com medo. A montanha da injustiça do nosso país era grande demais para eu escala-la. Hoje a encaro. Jogo pedras nela, grito! O medo e a covardia se foi. Nunca deixarei de fazer imagens de sonhos. Nunca! Preciso disso e muita gente também. Respiro melhor através delas. Elas me purificam e embelezam a minha alma. Nestes tempos estou mais pé no chão. Estou mais olhos no povo que sofre deste Brasil. A pobreza do meu país sempre me fez mal, principalmente aqui no Ceará. Mas eu me acomodava covardemente a isso. Sei que quase nada posso mudar com imagens de Lula e montagens de alerta. Eu sei disso. Mas faço a minha parte, e faço bem a mim mesma. Não consigo acordar bem vendo as coisas como estão. Noticiários, agressões ao meu povo através de jornais e tv do que acontece. Não consigo ter paz vendo essa gente ignorar tanta coisa. Eu já fui assim. Não sou mais. Esta luta amigos está só começando.Fico vendo tantos e-mails e debates e penso. Estamos plantando sementes. Um dia germinarão, talvez eu nem veja esta primavera de justiça, mas plantei algo.Muito dizem, volte as suas imagens e poesias Sil, pessoas que se preocupam comigo, me amam, eu sei... Mas por enquanto não posso. As vezes esse mundo cruel de corrupção me envergonha e matam a poesia em mim. Mas a magia está aqui, dentro do meu coração. Esta mesma magia que me faz morar no photoshop a procura de alguma montagem milagrosa que acorde o povo. Um dia verei de algum lugar a primavera do que fazemos agora. As sementes estão sendo plantadas por muitos. Continuem regando-as. Um dia elas crescem e nos espantarão com suas cores de paz e justiça social. Talvez então compreenderão porque me envolvi nisso. Porque deixei as imagens de sonhos. Pois diante de um sol mais justo em nosso país todas as imagens felizes serão o nosso dia a dia. E a vida mais justa aos pobres brasileiros será a minha melhor poesia. (*) Silvane Saboia, nasceu em Fortaleza (CE), é poeta & multimídia.