Para um governo que se empenha em misturar pão e circo, as comemorações do 1º de Maio cumpriram a sua parte: entre shows e sorteios, sobraram palavras de elogio ao Estado nos eventos das centrais sindicais. Justo.Em 2008, elas receberam só de imposto sindical quase R$ 150 milhões livres de qualquer fiscalização (10% do que foi descontado de forma compulsória do trabalhador) -uma inovação do lulo-getulismo.
Foi-se o tempo em que a CUT brigava para libertar o sindicalismo da tutela estatal e a Força pregava contra ideologização da pauta trabalhista pelo PT. Hoje estão unidas e satisfeitas sob o mesmo guarda-chuva, usufruindo o peleguismo de resultados. Reclamar do quê?Quem aproveitou para reclamar no 1º de Maio foi Lula, mas da "hipocrisia" dos que se levantam contra o descalabro do Legislativo. E por que decidiu comprar essa briga, desqualificando a justa indignação do público? Defesa da democracia?
Antes fosse. Lula ouviu um apelo dos amigos José Sarney e Michel Temer, segundo quem a pressão popular por compostura está deixando muita gente insatisfeita no Congresso e isso cria riscos para o Planalto. Afinal, quem quer uma CPI da Petrobras, por exemplo?Uma mão suja a outra, por assim dizer. Os eventos do 1º de Maio nos dão um retrato polaroid do lulismo.
Não se trata só de cooptação e aliciamento. Este é o governo do arrastão. De Sarney a Paulinho, do Congresso aos sindicatos, dos usineiros ("heróis nacionais") ao MST, dos banqueiros à massa miserável do Bolsa Família, dos empreiteiros (que ressuscitaram) às ONGs que beliscam as bordas do Estado -todos parecem participar da nova comunhão nacional, uma espécie de "CarnaLula" que prescinde de regras claras e tripudia da moral.
Pai dos pobres, mãe dos ricos. Só por preguiça mental ou má-fé alguém ainda chama isso de esquerda. Reinvenção do patrimonialismo com ganhos sociais, esse arremedo do getulismo tem data de vencimento e alto custo institucional. Quem é que vai pagar a conta?
FERNANDO DE BARROS E SILVA na Folha