12/05/2009 - 18h43
O que a Folha tem contra este site?
Jornal paulistano informa mal, demonstra arrogância ao ser questionado, e se recusa a corrigir os seus erros, em episódio que afronta este site e o exercício do jornalismo independente
Sylvio Costa*
De 27 de fevereiro de 2009 até hoje, o jornal Folha de S. Paulo publicou quase 20 matérias ou artigos citando este site. Em vários casos, levou à sua influente primeira página os resultados da apuração de nossos repórteres, baseando-se exclusiva ou fundamentalmente em informações que você, leitora ou leitor do Congresso em Foco, leu aqui antes. Alguns dos mais importantes, e respeitáveis, colunistas do jornal utilizaram nossas informações para fazerem análises interessantes, pertinentes. Somos, sincera e profundamente, gratos por isso. Aproveito para estender nossa gratidão a todos os colegas dos demais veículos que nos estão abrindo a porta, abrindo a porta principalmente pra força renovadora da internet.
Quem vive nosso dia-a-dia conhece bem a dimensão da batalha que travamos diariamente e, não temos vergonha de admitir, a precariedade dos nossos recursos financeiros e materiais. Embora a equipe seja pequena, o que não nos falta é gente boa, competente e, para dizer o mínimo, bem intencionada. Estamos disponíveis para qualquer crítica ou discussão. Digam onde estamos errando e tentaremos trabalhar melhor. Isso e mais as possibilidades que a internet oferece para fazer jornalismo a um custo relativamente baixo, com grande retorno de audiência e credibilidade, explicam como uma microempresa tornou-se capaz de tornar viável um projeto jornalístico independente, que foi ganhando força lentamente, numa acidentada e sofrida travessia de cinco anos.
Lamentável, mas parece que isso incomoda... e incomoda... ahn... à própria Folha?! Permito-me aqui uma liberdade. Tenta visualizar aí, amiga ou amigo: imagens de um Brasil em movimento, esperançoso, clamando por liberdade e mudanças...
Década de 1980. Ao aderir à campanha das diretas-já e adotar uma série de inovações que levaram à revisão de antigas práticas organizacionais e editoriais das redações, a Folha de S. Paulo torna-se uma referência em termos de jornalismo.
Voltamos. A conversa é de novo textual. Seguimos. E, gente, o tempo passa... Passa, e, como é notório, a credibilidade da Folha vem sendo colocada em xeque por vários fatos ou pessoas que questionam com frequencia e indignação crescentes sua conduta, seja pelos erros cometidos, seja pela resistência em reconhecê-los e corrigi-los. E nenhum outro jornal brasileiro perdeu tanta circulação nas últimas décadas, em números absolutos. Segundo levantamento recente da revista Meio & Mensagem, a Folha, que chegou a vender mais de 1 milhão de exemplares por dia, fechou o primeiro trimestre deste ano com uma circulação média diária de apenas 298.352 exemplares.
E não é que a Folha resolveu jogar lama na gente, menina? E o fez, repare só, com a sutileza própria – e, por isso mesmo, mais perversa – dos cirurgiões hábeis e dedicados. Gente acostumada com o trato da informação e perfeitamente habilitada para avaliar seus efeitos.
Edição de hoje
Se a Folha cumprisse o que prega, e reconhecesse um erro grave, capaz de abalar seriamente a reputação de empresas e a vida de pessoas, publicaria um baita “Erramos” e publicaria na edição de hoje o seguinte:
"É incorreto vincular o site Congresso em Foco, como fez a Folha em suas edições de sexta-feira e de sábado, a atividades de "assessoria de imprensa" realizadas pela Oficina da Palavra ("Escândalos no Congresso projetam site", Brasil). O Congresso em Foco é sustentado pelas receitas geradas pelo iG, portal que o hospeda, por publicidade e por projetos especiais, observando sempre a prática de estampar nas suas páginas, de modo claro, os nomes dos seus anunciantes, patrocinadores e parceiros comerciais ou institucionais. Quando tais receitas são insuficientes para pagar os custos, a diferença é coberta com os recursos próprios do abaixo assinado, seu sócio majoritário, recursos esses obtidos por meios legais, declarados à Receita Federal e perfeitamente compatíveis com a independência e credibilidade do site, que podem ser atestadas pela frequência com que ele tem abastecido o noticiário de outros veículos, incluindo a Folha.
Isso ocorre não porque o site tenha sido projetado por "escândalos", como sugere o título da reportagem de sexta-feira, mas pelos cuidados técnicos e preocupações editoriais que o tornaram uma referência confiável para acompanhar a política brasileira. O Congresso em Foco tem razão social, sede, redação, sócios e objetivos distintos dos da Oficina, que, ao contrário do que afirmou o jornal, não presta serviços de assessoria de imprensa a nenhuma das empresas apontadas pela Folha como seus clientes nessa área, a não ser ao próprio site.
Nesse caso, ela oferece colaboração gratuita, como fizeram ao longo dos últimos anos inúmeros leitores, colegas e colunistas, todos movidos pelo objetivo comum de consolidar o primeiro projeto de alcance nacional da internet brasileira com propriedade e operação inteiramente controladas por jornalistas profissionais."
Sabe por que a Folha devia dizer isso? Porque isso é verdade e porque, nas edições de sexta-feira e de sábado, ela disse outra coisa sobre o Congresso em Foco. Ela confundiu, errou, abriu espaço para se semearem inverdades a nosso respeito. Ela atingiu minha família, meus colegas, e, mais que tudo, a espontânea e sadia corrente que a internet está permitindo formar em torno deste site.
Aí, o que fez a Folha? Publicou o que reproduzi acima, e que representa exatamente o que eu havia mandado para o jornal, com a minha assinatura, e o texto que segue:
Nota da Redação - O diretor do Congresso em Foco detém 10% das ações da assessoria Oficina da Palavra; os outros 90% são de sua mulher; até 2005, ele detinha 99% da participação. As empresas funcionam em salas contíguas e compartilham serviços administrativos e de contabilidade. A lista dos clientes da assessoria foi obtida no site www.oficinadapalavra.com.
“Nota da Redação” é uma entidade tão misteriosa quanto “Da Sucursal de Brasília”, tema do qual tratarei depois. Antes, vamos entender o cenário. Leitores da internet são sofisticados o bastante para compreender. Como diria Barbosão, o novo, não o velho, realmente parece ter gente que precisa sair às ruas. A Folha simplesmente admite, de público, que considera possível publicar informações sobre uma empresa entrando no site de outra. Imaginou que poderia escrever sobre as relações comerciais do Congresso em Foco sem falar com o Congresso em Foco. Pode isso? Já pensou a gente ousar pautar alguém pra escrever sobre a vida comercial da Folha sem ouvi-la?
Logo a Folha preocupada com a minha saúde financeira! Logo ela que sabe muito bem que, admito também de público (agora posso libertar-me desse constrangimento), minha prosperidade pessoal começou em 2000, quando, na boa, ela teve de me pagar uma baba por conta de um processo trabalhista que movi contra ela.
O assunto me impunha, e me impõe, grandeza de espírito porque, por estilo e pelas preocupações naturais de quem foi assalariado na maior parte dos seus mais de 30 anos de atividade profissional, sempre procurei evitar sair espalhando por aí um fato que já considerava encerrado e que no meu entender deveria ser mantido sob reserva. Criar e manter o Congresso em Foco não teria sido possível se eu não tivesse levado a Folha à Justiça e obtido indenização bastante expressiva. Por isso, este texto vai na primeira pessoa, ora na forma de depoimento, ora na forma de relato jornalístico convencional, a razão tentando segurar a barra de um coração que neste instante chora, no avião que me traz de volta do Rio a Brasília, por mais uma iniquidade de quem se julga com direito à arrogância, ao desrespeito de garantias constitucionais, éticas e legais, apenas porque é mais forte, porque tem mais poder econômico e político.
Destaco que, em 20 anos de atividade em Brasília, passei por várias redações, empresas e instituições. Só processei a Folha, por motivos que dizem respeito unicamente a ela e a mim e que, me permitam, pretendo manter em privado.
Enfim, mais que o autor deste texto ou sua família, todos aqueles de alguma forma envolvidos na construção do Congresso em Foco – a começar pelos leitores que nos emocionam com a confiança que têm depositado em nosso trabalho – foram barbaramente atingidos pela má fase na qual se encontra a Folha. Nos últimos dias, forneci ao jornal todos os esclarecimentos e informações necessários para retificar erros flagrantes que cometeu ao se referir a este site nas edições de sexta-feira e sábado (dias 8 e 9 de maio). Resisti aos apelos por uma reação imediata, tentei acreditar até o último instante que era um “acidente de trabalho”, e que os equívocos seriam reconhecidos e reparados. Mas, hoje, pela terceira vez, o jornal troca o compromisso com o jornalismo pela veiculação de informações que podem contribuir, de modo sutil e por isso mais sinistro, para desacreditar este site, levando de roldão a agência de comunicação Oficina da Palavra, que nada tem a ver com a história.
Para entender o resto, trechos do longo texto que enviei ao jornal, na esperança de fazê-lo reparar os danos causados por duas matérias anteriores.
A matéria de sábado, 9 de maio
Na edição do último sábado (9 de maio), a Folha publicou matéria, com chamada na primeira página, tratando do uso da cota de passagens aéreas por ex-senadores. O texto e absolutamente TODAS as informações nele contidas sobre os voos dos ex-senadores – e até as respostas deles – são baseados em material apurado e publicado com exclusividade pelo Congresso em Foco, site que tenho o prazer de dirigir. O jornal dá o crédito, e nós, do Congresso em Foco, somos gratos por isso. Ao fazê-lo, e nos últimos cinco anos isso ocorreu inúmeras outras vezes, a Folha implicitamente atesta a confiabilidade e independência do nosso jornalismo.
A matéria contém, porém, uma insanidade. Sem mais nem por quê, a certa altura do texto, assinado por, ops, “Da Sucursal de Brasília”, vem o seguinte parágrafo:
“Criado em 2004, o site reúne nove jornalistas, em Brasília. Faz parte do grupo da assessoria de imprensa Oficina da Palavra, que tem como clientes a Brasil Telecom, a Eletronorte, o TCU e a Escola Superior do Ministério Público.”
Ave! Inauguramos um novo procedimento editorial. Toda vez que um veículo de comunicação (porque é isso, e apenas isso, que é o Congresso em Foco, um veículo) for citado por um furo que deu, teremos de publicar a sua, digamos, ficha comercial, suas fontes de recursos financeiros?! Imaginemos como poderia ser: a Folha revelou hoje isso, mais aquilo, e aquilo outro e, no meio da matéria, sei lá, falo com liberdade retórica, não estou preocupado em saber quem financia a Folha, um parágrafo dizendo algo como:
O jornal Folha de S. Paulo é financiado por anúncios. Mais de 70% das receitas publicitárias são de quatro clientes ou grupos de clientes: empresas do setor imobiliário, bancos, montadoras de automóveis, e o governo do estado de São Paulo.
Estranho, não? Pelo menos, jamais cogitamos aqui no site de fazer isso, e olha que citamos com frequencia matérias da Folha (sempre com crédito).
O pior é que apenas o primeiro período do parágrafo publicado, sobre a data de criação do site e o número de jornalistas, está correto. O resto é uma maluquice. A Oficina da Palavra, empresa que criei em 2000, mas que desde 2005 está sob o comando da minha mulher, Patrícia Marins, não é dona do Congresso em Foco. O Congresso em Foco não faz parte de assessoria de imprensa nenhuma. O Congresso em Foco tem como razão social outra empresa, da qual a Patrícia – sócia controladora da Oficina – não é sócia. Sou eu o sócio controlador da Caracol. Portanto, há uma questão básica, facilmente verificável por um telefonema disparado para qualquer um dos integrantes da equipe da Oficina ou do Congresso em Foco: Patrícia Marins fala pela Oficina da Palavra, eu falo pelo Congresso em Foco.
Ora, como a Folha se sente no direito de publicar algo sobre as fontes de financiamento da Oficina sem ouvir antes sua dona e porta-voz? Antes de falar comigo, o repórter conversou por telefone com Patrícia. Em nenhum momento, quis saber das relações entre a Oficina e o Congresso em Foco. Disse apenas que queria falar com o diretor do Congresso em Foco. Por que não esclareceu todas as dúvidas que tinha a respeito da Oficina?
Vejam os fatos, senhores, como eles são. Desde que conheci Patrícia, e talvez fale com alguma vaidade de marido orgulhoso da companheira que tem, mas falo principalmente para mostrar o absurdo da situação, ouvi várias pessoas (a primeira delas, antes de começarmos a namorar, ou seja, não era alguém tentando puxar o saco) se referir à minha atual mulher com elogios absolutamente rasgados à sua competência como assessora de imprensa.
Pois bem. A brilhante assessora hoje quase não faz assessoria de imprensa, para evitar fazer algo que poderia ser visto como conflituoso com o duplo relacionamento que mantenho com ela, na condição de marido e de detentor de 10% do capital da Oficina da Palavra. Como na velha imagem da mulher de César, não tentamos apenas ser honestos, nos empenhamos em parecer honestos. Por isso, o tino comercial de Patrícia, a competência e o trabalho coletivo da equipe da Oficina tornaram os treinamentos em comunicação a principal atividade da empresa.
Ao relacionar o Congresso em Foco à Oficina, da maneira que fez, a matéria da Folha pode trazer várias inquietações aos leitores do jornal que também lêem o site e aos clientes da Oficina. Ao contratar a Oficina, o cliente correrá o risco de ter algumas de suas informações estratégicas reveladas para o Congresso em Foco? Porque, afinal, se a Folha elegeu tais informações como fundamentais, é porque há de haver grande importância nisso, não é mesmo? Meu Deus, pensemos juntos: que segurança poderia ter uma empresa para contratar uma “assessoria de imprensa” que pode divulgar à revelia da contratante informações de interesse de profissionais que fazem o trabalho com a independência que fazemos no Congresso em Foco?
Patrícia me alerta que todos os contratos para qualquer serviço de comunicação prestado pela Oficina incluem cláusula de confidencialidade. O pressuposto desses contratos é a confiança entre o cliente e a contratada. De modo sutil e – quero acreditar – não intencional, o texto da Folha põe esse pressuposto em dúvida. Não percebe a Folha os efeitos do pequeno e diabólico parágrafo publicado neste sábado sobre a imagem e os interesses comerciais da Oficina da Palavra e do Congresso em Foco? É irrelevante para o jornal que eventuais prejuízos de imagem venham a abalar comercialmente a Oficina ou o Congresso em Foco?
Não me envolvo nas atividades de assessoria de imprensa da Oficina. Já atuei como assessor de imprensa, e não gostei de exercer a função. Não por preconceito, mas por inaptidão. Falta-me o talento de Patrícia e de tantos outros colegas jornalistas que utilizam as ferramentas do ofício jornalístico para melhorar o relacionamento entre fontes de informação e jornalistas de redações.
Lembro que, quando trabalhei na Folha, entre 1989 e 1992, havia no Manual de Redação algo que me soava muito negativo, e impróprio, a respeito da visão do jornal sobre o papel do assessor de imprensa. Não sou capaz de reproduzir com precisão o que era, mas lembro que, com a independência que me é própria, e que tantas vezes me custou caro, gostava de questionar aquilo, já na época. O tempo foi confirmando que minhas antigas suspeitas estavam certas: na redação ou na assessoria de imprensa, o bom jornalista pode contribuir muito para a qualidade da informação colocada à disposição da sociedade. Considero o seu papel socialmente importante.
O bom assessor sabe respeitar segredos estratégicos ou comerciais, mas não é conivente com ilegalidades. Ajuda a traduzir questões técnicas para a compreensão geral da população. Não desvia o repórter do caminho certo. Sabe respeitar, e valoriza, a exclusividade de informações obtida por um veículo. Facilita e dá agilidade à apuração. Da mesma maneira que o mau assessor pode fazer estragos nas relações entre a imprensa e as instituições, ou pessoas, assessoradas. Para fazer nosso trabalho, no Congresso em Foco, temos nos valido do relacionamento profissional e correto com incontáveis assessores de imprensa, seja de políticos, seja de diferentes corporações. Muitos são brilhantes no desempenho da função, nos ajudam inclusive a mostrar nossos limites constitucionais, legais, profissionais e éticos. Nos apresentam boas sugestões de pauta. Nos oferecem artigos de qualidade. Usamos da lealdade no trato com assessores, e raríssimas foram as vezes em que não obtivemos reciprocidade. Mas aí o problema não é da atividade de assessor, talvez seja do gênero humano. Em qualquer área ou lugar, tem gente incompetente e mal formada moralmente, o que espero sinceramente não ser o caso de nenhum dos jornalistas “da Sucursal de Brasília”, vários dos quais conheço e me conhecem, cultivando mútuos respeito e admiração, assim como ocorre com Patrícia e diversos profissionais da Oficina e do Congresso em Foco.
Quando estive à frente da então microagência Oficina da Palavra, da qual tive no passado 99% do capital, éramos fundamentalmente uma empresa de publicações (revistas, suplementos, boletins eletrônicos, folders, livros), feitas sobretudo para veículos da mídia, como Jornal do Brasil, Correio Braziliense, revista Época, e também para algumas entidades de classe e empresas privadas.
Entre a Oficina e o Congresso em Foco prevalece uma linha divisória radical: o Congresso em Foco não tem, nem jamais teve, qualquer compromisso com os clientes da Oficina. Só gente mal intencionada, ou extremamente desinformada, poderá ver qualquer sinal de que o Congresso em Foco, ou a Oficina, cruzariam os canais. Isso não acontece, podemos garantir, e quem trabalha em qualquer uma das duas empresas sabe disso. O que Patrícia e eu fazemos juntos é atuar em outra área, a de produção e gestão cultural. O Congresso em Foco não usa seu conteúdo jornalístico para a defesa de interesses dos seus anunciantes ou patrocinadores, e obviamente não usaria para fazer o mesmo com os clientes da Oficina. A Folha, ao dar tantas vezes demonstrações de crédito ao Congresso em Foco, reconhece esse fato. Sabe que pode confiar no que publicamos.
Se o objetivo da Folha era prestar um serviço ao leitor, dando um perfil do site, ela fracassou de maneira retumbante porque não cumpriu um preceito jornalístico básico – os fatos precisam ser devidamente apurados antes de serem apresentados ao público. Até para que não se invoquem interesses de outra ordem, que não os estritamente jornalísticos, como fonte de inspiração de matérias com potencial para causar danos à reputação de terceiros.
Por tudo isso, liminarmente e em caráter de urgência, dada a gravidade da questão, solicito que a Folha não repita a prática de relacionar o Congresso em Foco a atividades de assessoria de imprensa prestadas pela Oficina da Palavra aos seus clientes públicos ou privados.
A matéria de sexta, 8 de maio
No último dia 6, fui procurado por um repórter do jornal Folha de S. Paulo. Não citarei o nome porque quero crer que foi um mau momento profissional dele, que ele foi, como eu, vítima de uma cultura antidemocrática e nociva que permite a um jornalista entrevistar superficialmente uma fonte de informação, talvez para fazer de conta que ouviu de verdade “o outro lado”, partindo do princípio de que toda fonte tem algo a esconder, de que sempre “há algo por trás”, de que só é notícia “aquilo que se oculta em algum lugar”, em suma, de que todo mundo é bandido até prova em contrário.
Taí um comportamento que não aceito em relação a mim. Por duas razões. A primeira, e acho incrível eu ter de dizer isso, é que não sou bandido. A segunda é que a ordem no Congresso em Foco é dar a todas, absolutamente todas, as pessoas que sejam objeto de atenção de nossas matérias ampla liberdade de manifestação. Não acho justo eu ser tratado de outra forma por quem quer que seja, mesmo que seja por um poderoso órgão de comunicação. Não pode o repórter, ou o veículo, ignorar o contexto da notícia que apura. Não podem eles deixar de levar em conta os possíveis efeitos que a publicação dessa notícia acarretará. E não podem, principalmente se não tiverem muita convicção quanto às informações apuradas, colocar em risco questões de segurança – empresariais ou pessoais.
O repórter da Folha recebeu farto material, publicado por veículos como O Globo, Meio & Mensagem, Observatório da Imprensa e Gazeta Mercantil, mostrando quais são as fontes de financiamento do Congresso em Foco. Falei para ele que sou tímido, sou cozinheiro de redação, alguém que ainda tem um trabalho extra para explicar o que faz: sou um repórter empresário ou, sabe-se lá, empresário repórter. Algo de difícil compreensão para os não iniciados. Facilmente manipulável para quem quiser desacreditar o site ou a mim. Minha rotina de trabalho afronta velhos tabus da imprensa brasileira. Como diretor, jamais deixo de me preocupar com a questão do conteúdo jornalístico ou editorial. Adoro, e é sempre tentador para mim, acompanhar o trabalho de reportagem, sugerir títulos, escrever um editorial, pensar em novas formas de fazer o site, propor pautas etc. Ao mesmo tempo, participo pessoalmente da arrecadação de recursos para o site.
Como disse ao repórter, e o jornal não incluiu esta informação na matéria “Escândalos no Congresso projetam site”, publicada na sexta-feira, igualmente sob a assinatura “Da Sucursal de Brasília”, trabalho dentro da redação, junto com repórteres e editores. E o faço porque gosto de respirar o ar da peculiar e competente redação que montamos, e também porque realmente nada tenho a esconder. Ao contrário.
Costumamos discutir com o conjunto da equipe nossos dilemas empresariais, conflitos éticos, assim como nossos planos comerciais. A ideia é dar a todos a garantia de que trabalham em um lugar em que a preocupação com a decência profissional, individual ou coletiva, não é peça de retórica, é uma busca constante. Posto que ética é um conceito variável histórica, individual e socialmente, entendo que ele deve estar associado ao esforço incessante de abrir espaço para questionamentos morais, perguntar a quem e a quê serve cada ato que fazemos, avaliar o tratamento que dispensamos a todos com os quais nos relacionamos, demonstrar honestidade para reconhecer erros, procurando se engrandecer com o aprendizado que eles proporcionam. Às vezes sou até censurado por colegas, jovens ou veteranos, por ser “certinho”, sincero demais.
Pois bem. No dia 6, o repórter procurou a Oficina da Palavra. Além de recusar clientes, para evitar o questionamento das práticas empresariais e jornalísticas do Congresso em Foco, a Oficina presta gratuitamente serviços de assessoria de imprensa ao site. Foi essa, aliás, a única pergunta que o repórter me fez, envolvendo o nome da empresa administrada pela minha mulher. “E a assessoria de imprensa prestada pela Oficina da Palavra?”, indagou. Respondi que a Oficina faz esse trabalho de graça, informação não registrada na matéria de sexta-feira. Fomos procurados por vários colegas de outros veículos, interessados em conhecer o que é o Congresso em Foco.
Respondi a todas as perguntas sem nenhuma autocensura, expus nossa intimidade comercial e vulnerabilidades financeiras em público, talvez tenha mesmo exagerado na dose por falar demais. Por isso, tinha a tola esperança de que o repórter ficaria satisfeito com o material publicado pelos órgãos de imprensa citados e a conversa – não seria um perfil? – se fixaria no aspecto mais relevante da contribuição que suponho termos dado com o Congresso em Foco, o jeito próprio que desenvolvemos de fazer jornalismo político na internet.
Aquela quarta-feira, 6, foi mais um dos duríssimos dias que tivemos nos últimos tempos. Lembro que fui informado pela Patrícia sobre o interesse da Folha em me ouvir, para fazer um perfil sobre o site, quando eu me encontrava a caminho de uma conversa delicada com Sandro Avelar, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), uma das entidades que apoiam (inclusive financeiramente) o Prêmio Congresso em Foco, junto com a OAB, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), o Sindicato dos Jornalistas de Brasília e várias outras entidades da sociedade civil. Voltei de lá com pressa e muito estressado com certas pressões, algumas tão sórdidas que não merecem registro, de que temos sido alvo depois de iniciarmos a longa série sobre o mau uso das passagens aéreas.
Mesmo para um jornal poderoso como a Folha, não seria fácil suportar as pressões – políticas, empresariais, jurídicas – causadas pela independência com que trouxemos à luz práticas de uso do dinheiro público que, conforme o material até agora publicado por nossa equipe, alcançam perto de 400 políticos, entre parlamentares e ex-parlamentares, à direita e à esquerda, do governo e da oposição. Que levaram a Câmara e o Senado a alterarem as regras de utilização das passagens, gerando uma anunciada economia superior a R$ 25 milhões por ano. Sabemos que isso só aconteceu pela ampla repercussão que nosso trabalho obteve em praticamente toda a mídia. Ou seja, saudamos o fato como uma conquista do jornalismo independente praticado por diversos veículos, não só pelo nosso. Alguns parlamentares, porém, nos atribuem todo o peso dessa mudança, que lhes subtraiu recursos usados de diferentes formas pelos congressistas (transporte de eleitores, aliados políticos, amigos e parentes; desvio para negócios privados; venda de cotas; viagens de primeira classe, com toda a família, para Miami etc.). Pouquíssimos estavam dispostos a abrir mão da mordomia paga pelo contribuinte. E, embora sejam crescentes as manifestações de deputados e senadores em favor da nossa cobertura e da introdução de novos costumes políticos no Congresso, muitos permanecem inconformados com as restrições impostas ao uso da cota de passagens – agora restrito aos parlamentares e seus assessores, desde que justificado por necessidades de trabalho.
Não imaginei que haveria algum jornalista capaz de questionar a independência de quem age assim, sem poupar ou proteger ninguém, mas garantindo a todos ampla liberdade de defesa e manifestação. Para isso, acrescente-se, corremos várias vezes o risco de perder furos em razão da obsessão com que perseguimos a garantia de manifestação de terceiros.
Chegamos a segurar matéria boa e de impacto por duas semanas, na tentativa de garantir a personagens da notícia amplas possibilidades de esclarecerem nossos eventuais equívocos de interpretação. Sei que, entre outros méritos, a Folha introduziu de modo definitivo no jornalismo brasileiro a necessidade de ouvir “o outro lado”, ou seja, as pessoas que serão citadas em suas matérias, particularmente quando envolvidas em situações passíveis de causarem danos à sua reputação.
Não quero ser presunçoso, nem dar aula de jornalismo aos inúmeros craques que trabalham na Folha (até porque fui e sou aprendiz de vários deles), mas não me agrada a expressão “outro lado”. Nossos repórteres são orientados a compreender que não há “outro lado”. Há um lado só, o lado da informação veraz, enriquecida pela identificação das contradições próprias de qualquer fenômeno ou ato humano. Buscar o contraditório, apurar detidamente o fato com o maior número de personagens que o cercam, fazer o exercício de se colocar no lugar da fonte de informação – mesmo que estejamos falando realmente de um bandido – é parte obrigatória do processo de entendimento do “lado um”, não do lado dois, da notícia, gosto de dizer. Do único lado, portanto, capaz de justificar sua divulgação: o lado da confiabilidade da informação. Mas, no episódio que aqui relato, entrando em um terreno do qual preferia me ver afastado (somos “Congresso em Foco”, não “Imprensa em Foco”), não foi o que a Folha fez.
O repórter havia dito a Patrícia que a pauta era “da direção” e que um dos seus objetivos era mostrar quem financia o site. Que publicaria a matéria (qual matéria?) no dia seguinte, me ouvisse ou não. Ela e os colegas presentes na redação do Congresso em Foco, quando voltei da ADPF, ficaram muito preocupados com possíveis conflitos de interesse, mas não os nossos, e sim os da Folha. Por que publicar ouvindo o site ou não? Por que a Folha está interessada nas fontes de financiamento do Congresso em Foco? Será por causa do natural interesse que muitos brasileiros hoje demonstram de nos conhecer melhor? Ou haveria outras razões, ainda que sutis, de caráter comercial, empresarial, profissional ou pessoal?
Confesso que minimizei os temores dos colegas. E eles me impuseram algo que acatei a contragosto: não disse uma palavra sequer sobre um fato remoto, que ajudaria o repórter da Folha a compreender que a minha situação financeira, ou dos projetos em que me engajo, não é tema que mereça as preocupações dos amigos – ou, ora veja, da Folha! – desde 2000, quando recebi expressiva quantia resultante de um processo trabalhista que movi contra o jornal. Na verdade, até aquele momento, a maioria dos colegas do site desconhecia o fato, que procuro ocultar, por elegância, discrição ou temperamento pessoal. E, acrescento agora, também por autoproteção, por medo dos verdadeiros bandidos e também dos invejosos, sempre ocultos e traiçoeiros.
Ou seja, terminei não fazendo o que mais gostaria: iniciar a conversa dizendo que uma das fontes que financiaram o Congresso em Foco foi, de certo modo, a própria Folha. Meus colegas acharam que isso soaria ofensivo e azedaria a “entrevista”. Procurei usar de métodos mais sutis na conversa com o repórter. Disse que tinha trabalhado na Folha, que ele poderia se informar a meu respeito com colegas que foram meus contemporâneos no jornal, que o Congresso em Foco era orientado pelos mesmos princípios éticos nos campos empresarial e jornalístico... Dizia, mas ele não parecia querer ouvir. Atropelava minhas respostas quando eu tentava levar o diálogo para o território que me sinto mais capacitado para discutir, o jornalístico.
... E acrescento agora: no comercial, sou aprendiz, mas procuro fazer tudo com uma transparência e correção acompanhadas ao vivo e a cores por toda uma redação. Uma redação privilegiada, eu sei. Volto ao trecho do texto enviado à Folha...
Pronto, concluí. A pauta é “quem financia”, e o cara veio com tese pronta e só está atrás de aspas comprobatórias de sua teoria, seja ela qual for.
O que mais me deixou indignado, e confesso que realmente fiquei muito chateado com a forma imprópria com que fui abordado, foi que o repórter rejeitou todas as minhas tentativas de alertá-lo para o contexto comercial, político e pessoal que envolvia o tema. Procurei alertá-lo, inclusive por e-mail posterior ao telefonema que descrevo, sobre os riscos de segurança (empresarial, financeira e até mesmo pessoal) que uma matéria distorcida poderia nos trazer. Ora, estávamos com medo. Apreensivos com o que poderia ter acontecido na véspera.
Corto, e atualizo. O site saiu do ar duas vezes, em circunstâncias que até aquele momento não estavam integralmente esclarecidas. Agora, já estão. E, abre uma cerveja, gente, foi mesmo um problema técnico, causada por uma enorme quantidade de acessos. Os colegas do iG, sempre generosos e solidários, estão reforçando a infra-estrutura; se Deus quiser, não acontecerá mais. Volto ao texto enviado à Folha.
Não gostei da atitude do repórter e a questionei, até por verificar ali a chance de sinalizar claramente para os repórteres presentes na redação do Congresso em Foco que é aquele o jornalismo que não devemos fazer. Caramba, há semanas não falo de outra coisa a não ser o modelo empresarial e jornalístico do Congresso em Foco. Já tinha dito ao repórter que nossas fontes de financiamento são o portal iG, onde estamos desde o final de 2006, receitas publicitárias e projetos como o livro e o prêmio. Tal como informaram os veículos que citei antes.
Vejam o que a matéria afirma, em seu último parágrafo:
Ele não entra em detalhes sobre as fontes de receita. “Não é interessante nos expormos nesse (sic) momento em que estamos contrariando interesses muito fortes.”
A frase entre aspas é verdadeira, mas, assim colocada, totalmente fora de contexto, é parte de uma operação que teimo em dizer para mim que não foi uma cruel manipulação, movida por interesses mesquinhos, mas um gravíssimo erro cometido pelo estilo desrespeitoso de alguns profissionais das novas gerações. Imagino que o repórter em questão seja bem mais jovem do que eu. Tenho 47, comecei a trabalhar em redação aos 15. Cometi vários erros na profissão, brigo o tempo todo contra os meus defeitos, mas meu modelo de repórter é o clássico. Aquele que ouve, digamos, Fernandinho Beira-Mar com atenção, procurando compreender sua personalidade, seu pensamento, “pescar” ângulos diferentes para uma eventual matéria sobre o personagem e suas ações. Mesmo que fosse eu o Fernandinho Beira-Mar, cobraria esse comportamento do repórter que me procurasse. E, calma, pessoal: não sou o Beira-Mar.
Ficou claro para mim que o repórter sabia muito pouco sobre mim e sobre o Congresso em Foco e que não estava interessado em saber mais. Passei a questioná-lo com firmeza. Perguntei se devia agora me preocupar em saber quem financia a Folha. “Isso não vem ao caso”, respondeu ele. Como não vem? Imaginem se a Folha estivesse publicando com exclusividade a série sobre a farra das passagens e o Congresso em Foco elegesse como principal tema para um perfil sobre o jornal suas fontes financeiras? Alguém na Folha interpretaria tal comportamento como um erro grave, mas sem nenhuma má intenção? É o que estou tentando me convencer de que ocorreu: a pancada foi violenta, mas acidental, como uma bola que bate em lugar vulnerável do corpo de um jogador que estava na barreira durante um jogo de futebol.
Qualquer observador razoável seria capaz de avaliar que, naquele momento, minhas ponderações faziam todo sentido e somente um repórter cego e surdo – insisto, quero acreditar que por ser vítima de uma cultura nefasta, que confunde a atividade jornalística com a policial, não por motivos outros – não poderia enxergar isso.
Que jeito arrogante é esse de fazer jornalismo? Com que direito? Damos a todas as fontes a possibilidade de discutir nossos critérios de trabalho (leia mais). Por que o repórter da Folha vai nos negá-la? Tentei mostrá-lo que não estamos na internet para brincadeira, que poderiam estar em jogo, numa pauta “da direção”, outros interesses, comerciais e estratégicos. O repórter imagina que sou uma anta? Como revelar “detalhes sobre as fontes de receita” nesse contexto? Ou ele se julgou desinteressado em me ouvir exatamente porque já tinha arrancado a “declaração” que buscava? Que beleza, olha: “Não é interessante nos expormos nesse (sic) momento em que estamos contrariando interesses muito fortes.”
Não estamos contrariando interesses muito fortes? É interessante nos expor demasiadamente nessas circunstâncias? Que jornalismo pode justificar a exposição pública de vulnerabilidades num ambiente de clara ameaça à nossa segurança empresarial e pessoal? E aqui, uma vez mais, me reservo o direito de reiterar que nada tenho a esconder, mas que não vi no repórter um interlocutor confiável para abrir o coração ou nossos planos comerciais, que, tenho fé, ainda darão o que falar.
Aprendi com a leitura de Cláudio Abramo que a ética jornalística é igual a qualquer outra ética interpessoal. Falo de memória, correndo o risco de ser inexato, mas assim arquivei a ideia: para cobrar lealdade e transparência de alguém, também precisamos ser leais e transparentes. Já fiquei de cueca em público. Por que um repórter arrogante supõe ter o poder de me convencer a tirá-la usando de métodos jornalísticos que condeno?
No Congresso em Foco, damos a todos o benefício da dúvida porque essa não é uma decisão que esteja sob o nosso domínio. A presunção da inocência é princípio imperativo do Estado democrático de direito, previsto na Constituição e nas leis, e nenhum jornalista pode afrontá-lo. Representa, entendo, uma violação às garantias individuais. Foi disso que tratou o meu questionamento, de saber trabalhar na (e a) democracia. Práticas autoritárias de apuração e edição a violam, a ameaçam.
Por isso, nas reportagens mais sensíveis, sempre preferimos que “o outro lado” se manifeste por escrito. Gostamos de publicar a manifestação na íntegra, sem retoques, conservando até eventuais erros de digitação e português, tenha ela o tamanho que tiver (mesmo uma longa como esta).
Sei que um jornal às vezes não reúne as condições técnicas para seguir esse procedimento. Reitero que não quero brigar com a Folha. Não quero, nem poderia, brigar com a mídia em geral, neste momento em que colegas de praticamente todos os veículos nos tratam com grande generosidade. Tive de refrescar muito a cabeça, e conter minha profunda indignação, para perseguir o tom sóbrio e racional que espero estar deixando expresso neste texto-desabafo.
E a matéria saiu com o gravíssimo erro, o mesmo já apontado antes, de dizer que o Congresso em Foco “faz parte do grupo da assessoria de imprensa Oficina da Palavra”.
Perguntas que a Folha não respondeu
Aqui, outro corte, atualizado neste momento (terça, 12, dia do aniversário da minha mãe – beijão, linda!) para dizer que isso é o que mais nos incomoda, a todos do site:
1. Como a Folha interpretaria uma matéria do Congresso em Foco, tratando de modo incorreto, distorcido e fora de contexto as suas relações comerciais, exatamente no momento em que, ao botar a mão no vespeiro das passagens aéreas, o jornal – e não este site, como ocorreu – revelasse aspectos desconhecidos da administração dos recursos públicos, envolvendo gastos totais superiores a R$ 100 milhões por ano?
2. A Folha, e seus profissionais, fariam como estou fazendo, evitando ver fantasmas, dando ao detrator o benefício da dúvida? Ou, ao contrário, entenderiam que nosso site estaria a soldo dos políticos pegos com a mão na botija na farra das passagens aéreas?
3. Fariam a leitura desapaixonada e contida que estou fazendo mesmo se um repórter do Congresso em Foco se dirigisse aos seus diretores de maneira arrogante, preconceituosa, com opinião prévia demais e informação de menos, para questioná-los sobre suas fontes de recursos financeiros?
4. Interpretaria como um chute criminoso dos “bandidos da concorrência” ou faria como estou tentando fazer, evitaria associar a insanidade cometida a qualquer inspiração empresarial ou pessoal, vendo-a como um desacerto jornalístico não intencional?
5. Como não acredito em jornalismo isento, mas sim em jornalismo digno, que é o que os colegas do Congresso em Foco e eu tentamos fazer, sempre nos questionamos sobre os efeitos de cada reportagem que publicamos. A Folha fez esse questionamento antes de estampar em sua edição de sexta a “matéria” aqui analisada? O repórter ouviu e discutiu com seus superiores a minha tese de que nenhuma matéria, nem o maior dos furos, justifica o ato que pode botar em risco a sobrevivência ou a segurança profissional de pessoas ou empresas idôneas?
6. Não é óbvio para a Folha que, seja lá qual for a natureza das relações entre o Congresso em Foco e a agência Oficina da Palavra, ela não impede o site de ser independente e correto no trato das informações que publica?
7. A mencionada “matéria” seria publicada não fosse o Congresso em Foco um veículo em franca ascensão em termos de audiência, estrutura operacional, prestígio, credibilidade, força comercial e capacidade de dar furos?
8. Seria publicada se o Congresso em Foco tivesse atendido a acenos que já recebeu e estivesse hospedado no UOL, portal do grupo Folha?
9. Por que a Folha optou por enfatizar os laços empresariais e comerciais do Congresso em Foco, em prejuízo daquilo que, a julgar pelas manifestações de diversos veículos e jornalistas importantes (inclusive da Folha),o que mais o notabiliza, que é sua história jornalística?
10. A Folha quer ser juiz, ou fiscal, da ética e dos procedimentos comerciais do Congresso em Foco? Sem problemas: façamos a discussão com igualdade, com respeito, sem prejulgamentos e sem a recusa prévia de questionamentos em relação à Folha. Um dos princípios da ética, frisamos anteriormente, é a reciprocidade.
E aqui paro novamente de citar o que mandei para a Folha na madrugada do último domingo, estou de novo em 12 de maio, parabéns, mãe, te amo! Volto para incluir uma 11ª e saneadora possibilidade: a de não ser tudo, quem sabe...
11. Quem sabe? Quem sabe um problema de inveja profissional de colegas que se escondem sob o manto protetor “Da Sucursal de Brasília”, numa ação cuja maldade será afinal identificada pela Folha e encerrada um... “Erramos”. Pronto, Folha de S. Paulo, você ainda tem uma chance.
E encerro, pedindo desculpas a leitora leitores pelo tamanho do texto. Insisto: aos 47, me sinto com 50, 60, 150 anos, quero a companhia das velhas e belas gerações de jornalistas que acreditavam na possibilidade de fazer do jornalismo uma forma de... que coisa antiga, gente... servir à sociedade. Beijos e tchau.
* Sylvio Costa é diretor do Congresso em Foco.