sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sobre uma postagem no It´s about Nothing : sem matemática, a filosofia é apenas retórica, propaganda, crença.

Defendo, desde longa data, uma politica oposta à definida nas péssimas notícias abaixo. Em primeiro lugar, sou contrário ao ensino de filosofia e de sociologia antes da universidade. Sem domínio das matemáticas, da história, das ciências, da poesia e da literatura, chegando às artes várias, o estudante do segundo grau está sujeito ao doutrinamento ideológico ou religioso, dados como se filosofia ou sociologia fossem. Ou então, são submetidos aos manuais que engessam os saberes filosóficos e sociológicos em fórmulas, slogans, escolas da política nacional ou internacional.

Manual de filosofia é a maneira mais rápida e eficaz de imunizar os estudantes contra a filosofia (o mesmo, digo, ocorre com as aulas de religião e seus manuais, o método mais eficaz de produzir ateus, dado que banalizam as noções teológicas em fórmulas dogmáticas, sem que apareçam as cautelas dos pensadores teológicos ). Em todos os "debates" (sabemos bem como são feitos "debates" no Brasil) a que compareci, sobre a imposição da filosofia no segundo grau, argumentei que o ensino da matemática é mais importante do que a decoração de textos sobre escolas. É o caso dos emburrecedores "ismos", como em "idealismo", "ceticismo", etc . Como diz Heidegger, com plena justiça, o "ismo" não pertence ao pensamento, mas à tecnologia manipulativa e retórica que afasta o pensar. É também o caso dos enunciados postos discretamente e sem maiores justificativas a que os estudantes são submetidos. É mais certo e justo fornecer aos estudantes opostunidades para que eles desenvolvam a sua própria mente, com os saberes científicos, a imaginação e a fantasia, do que lhes aplicar a camisa de força mental de doutrinas selecionadas pelos curricula e pelos autores dos manuais (que dão muito dinheiro às editoras e aos próprios autores).

Na própria Unicamp defendi que a nota de corte do vestibular para a filosofia fosse mais rigorosa em matemática. A norma vigorou algum tempo, mas foi abolida porque "o número de candidatos diminuiu". Argumentei, sem sucesso, que é impossível o estudo filosófico sem matemática. É inimaginável ler Platão (existem estudantes que não conseguem seguir as demonstrações simples de geometria em diálogos como o Menon,o Teeteto, etc), Pascal, Descartes, Leibniz, Newton, D´Alembert, Condorcet, Hegel (basta consultar, na Grande Lógica de Hegel, os capítulos referentes à matemática), Marx, Bertrand Russel, Edmund Husserl, sem matemática. A lista dos autores que só podem ser lidos com base matemática é imensa e preenche a História da Filosofia. Fui voto vencido, mas noto, com tristeza : na exata medida em que setores como a Economia abusam de alguns ramos do saber matemático, a estatística por exemplo, transformando-os em retórica somente persuasiva, a filosofia, em seus trabalhos, passa ao largo de uma linguagem que ajuda a apurar a mente e afia análises do mundo e dos homens.

Em meu livro Silêncio e Ruído, a Sátira em Denis Diderot (link para o texto francês abaixo) apresento o pensamento das Luzes sobre a matemática e seu ensino. Ambos são valorizados ao máximo por Diderot e seus herdeiros.

E por falar no assunto, a Editora da Unicamp acaba de publicar uma obra prima de saber e informação sobre o ensino das matemáticas, segundo os filósofos dos século 18. Refiro-me ao livro de Maria Laura Magalhães Gomes : Quatro Visões Iluministas sobre a Educação Matemática (Campinas, 2009). A autora, que ensina matemática na área de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, examina com rigor e muita elegância o pensamento de Diderot, D´Alembert, Condillac e Condorcet sobre o assunto. Vale a pena a leitura deste escrito apaixonante e necessário. Escrevi a "orelha" do volume, estive na Banca de doutoramentoe, durante bom tempo, acompanhei as pesquisas da autora, uma brilhante acadêmica que honra a universidade, sobretudo na era do populismo acadêmico.

Há um belo artigo de Sérgio Rouanet, publicado pela revista Humanidades (UNB) em priscas eras. Nele, o autor defende o retorno do latim ao ensino do segundo grau, sobretudo para os que desejariam seguir a carreira das humanidades. O rigor da lingua latina ensina a pensar, e bem. Concordo com ele e penso que introduzir filosofia e sociologia no segundo grau é um desserviço às mesmas disciplinas, além de ser a introdução nas escolas, abençoada pelo Estado, do sectarismo disfarçado sob a ordem ordem especulativa . Em outros tempos eu diria que se trata de pura e simples lavagem cerebral. Mas com os corrosivos do espírito inventados nos últimos dias, mesmo os cérebros deixam de ser lavados, pois já antes são dissolvidos pelos ácidos doutrinários imperantes.

Roberto Romano


Vestibular 2010: Novo Enem não terá língua estrangeira, filosofia e sociologia

O Globo com informações da Agência UnB

RIO - A primeira edição do vestibular unificado não terá prova de língua estrangeira, sociologia e filosofia. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Reynaldo Fernandes, as matrizes para a elaboração dessas provas não estão prontas, e o prazo é insuficiente para a sua realização. A decisão vale apenas para este ano e afeta a seleção das universidades que aderirem ao novo Enem. O Inep utilizará na elaboração da primeira edição do vestibular unificado a matriz do, Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
Leia mais: UFF vai utilizar o novo Enem no vestibular 2010

- Na segunda edição, em 2010, vamos incluir as matérias - afirma Fernandes durante seminário sobre o vestibular unificado realizado na Universidade de Brasília (UnB).

Para o secretario executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, Gustavo Balduíno o fato é uma limitação, devido a importância das disciplinas nas seleções das universidades.
- No vestibular da Universidade Federal de São Carlos (UFSC), por exemplo, há seis opções - diz.

Para coordenadora de ensino e graduação da UnB, Márcia Abrahão, uma seleção para universidade sem língua inglesa representa um retrocesso.

De acordo com Márcia Abrahão, a decisão pode atrapalhar na adesão da UnB ao processo. O Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da universidade deve decidir sobre a participação da UnB no novo Enem no dia 7 de maio.
Veja também: Unirio decide usar novo Enem

A mesma opinão tem o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal, Amábile Pacios.
- Não vamos mais fazer uma seleção do mesmo nível. Estamos sucateando o processo. A qualidade da seleção sofrerá perdas - critica

Para Amábile é difícil imaginar uma prova de vestibular sem língua estrangeira, uma vez que a disciplina é obrigatória na grade das escolas.

As provas do Enem deverão, ainda, passar por pré-testes, antes da aplicação. O novo Enem deve ser realizado nos dias 3 e 4 de outubro e, mesmo diante de insistentes pedidos de reitores para adiar a data, Fernandes diz que o prazo será mantido.
- Muitas instituições utilizarão o novo Enem como primeira fase, precisaremos divulgar o resultado em tempo hábil para a segunda etapa - justifica.

A expectativa é que 4 milhões de pessoas façam o exame. Todas as redações serão corrigidas, uma vez que a prova tem o intuito de avaliar o ensino médio e não só selecionar para as universidades.

Já espereva por isso, claro! Sabia que esse 'novo vestibular' seria a pá de cal no já sucateado e combalido ensino superior nacional, agora o governo Lula (que odeia o conhecimento) acabou com pouco de excelência que existia. Realmente para quê não é? Se já não precisa saber matemática (somos um dos piores países no ranking mundial de ensino nesse quesito), português, para quê filosofia, sociologia e língua estrangeira? Só 'brasileiro' já basta não é mesmo?

Qual é a verdadeira intenção? Facilitar a entrada de qualquer um nas universidades para depois arrotar que 'nunca antes na história desse país' existiu tantas pessoas com nível superior e que 'os pobres' agora estudam onde os 'filhos dos ricos' antes estudavam. A realidade é que o esnino superior no Brasil já está desvalorizado no mercado de trabalho, agora vai virar o antigo 'segundo grau'.