quinta-feira, 11 de junho de 2009

Carta da Petrobras contra entrevista concedida por Roberto Romano ao Globo.

Sobre a entrevista que dei ao jornal O Globo, a Petrobras reagiu com a seguinte carta:

"Cartas do Leitores" edição de 11/06/2009, p. 6

´Fatos & Dados`

Em entrevista (10/06), o filósofo Roberto Romano classifica a criação do blog ´Fatos & Dados´, da Petrobras como "terrorismo de Estado", "campanha suja", "propaganda intimidatória" e "manipulação da opinião pública", além de um instrumento para intimidar meios de comunicação e Congresso Nacional. A empresa repudia tais acusações, que considera irresponsáveis e que incluem grave insinuação de caráter político, qual seja, o de terrorismo de Estado. A Petrobras respeita a liberdade de imprensa, o Legislativo e a circulação de idéias, informações e conhecimento. E, como empresa de capital aberto (não empresa pública como diz o entrevistado), com ações negociadas em bolsas no Brasil e no exterior, considera que é seu dever dar conhecimento à sociedade sobre os questionamentos que recebe e respostas e argumentos que apresenta —que, em sua maioria, não são publicados. O blog não vaza as reportagens em curso e não poderia, pois deconhece conteúdo das matérias pautadas, linha de abordagem, totalidade das informações apuradas pelo veículo, entrevistados, etc.

Lucia Mena Pimentel,
gerente de Imprensa da Petrobras
(por e mail, 10/06), Rio.

Comentários:

1)Responsável e irresponsável são termos que determinam, como lógica, os atos dos acusados ou defendidos. Eles significam que os atores respondem, ou não, pela sua atuação. Desde sempre, na minha vida pública, respondi pelos meus atos e palavras. E sempre com uma coerência lógica e moral que ninguém, por mais poderoso, pode negar. Assim, no caso da CPI da Petrobras, defendo a mesma, para que a empresa preste todos os esclarecimentos necessários aos representantes do Legislativo. Foi assim que agi nas inúmeras ocasiões em que os atuais ocupantes dos palácios e das empresas sob responsabilidade do Executivo eram os primeiros a exigir apurações rigorosas contra seus adversários políticos. Foi assim que agi, escrevi e pensei nas CPIs abortadas pelos integrantes do governo FHC, como também, antes, na CPI do governo Collor (personagem que hoje apoia seus inimigos de então). Não mudei minha posição e pensamento. Eles mudaram (sobretudo depois da Carta aos Brasileiros) e hoje lutam para que seja abortada uma CPI, e a condição do processo abortivo é assumido diretamente pelo chefe do Executivo Federal. Responsável é quem responde pelos seus atos e palavras, não deles foge, ou tenta procastinar investigações, inclusive com Blogues e outros instrumentos de intimidação.

2) Interessante a contradição: quando surgem dúvidas graves sobre o funcionamento dos elos entre a empresa e movimentos ou instituições, a Petrobras é posta pelos partidários do Executivo como "patrimônio nacional". Quando não interessa, ela volta a ser o que foi desde o governo FHC, uma empresa de capital aberto, com ações na bolsa, etc. A pergunta, para além das técnicas jurídico econômicas, é a seguinte: o capital da empresa veio de onde? Das bolsas, do paraíso, da Terra do Nunca, ou dos bolsos de todos os contribuintes nacionais? Se a resposta é a primeira, não cabe falar em "patromônio nacional" e não cabe a ira nada santa que o Blog e os militantes petistas levantam contra os que desejam investigações livres e transparentes pelo poder legislativo.

3) No mesmo passo em que a Gerente de Imprensa (um oxímoro, mas não sejamos exigentes) diz que a empresa respeita a imprensa e que nada faz que arrisque o trabalho jornalístico, a mesma Petrobras, após saraivadas de críticas (vindas inclusive dos que apoiam o governo) volta atrás e recua em sua tática (mantendo a estratégia a que se acostumou).

4) Respondi pelos meus atos e palavras desta a época da ditadura, quando fui preso no Presidio Tiradentes, submetido a tortura e a um processo truculento, do qual fui libertado graças à ação de um causídico justo e corajoso, e graças ao sustento de pessoas retas, na sociedade e na Igreja.

5) Espero que o Executivo federal recue de sua estratégia de intimidar a oposição e o próprio Congresso Nacional, antes que representantes eleitos do povo sejam obrigados a exigir, no STF, um direito límpido e claro de poder constituído, o que fiscalizar o Executivo e todas as instituições a ele conectadas, como é o caso da Petrobras.

6) Última observação: quando eu defendi a CPI do governo Collor, as CPIs contra o governo FHC (incluindo o caso da reeleição mal explicada até agora daquele governante), fui acusado de irresponsabilidade pelos que, na época, eram os pretensos donos do poder. O mesmo procedimento é usado hoje, pelos atuais ocupantes do mundo oficial. A acusação, fácil e desprovida de fundamentos, é o preço que pago por manter a espinha ereta, quando o mais tranquilo seria dobrar o joelho em obediência a decisões que não reconheço legítimas. Em entrevista ao periódico Caros Amigos, afirmo que o instrumento mais flexível do universo é a espinha dos intelectuais. Na época, as críticas mais pesadas foram dirigidas por mim aos partidários do PSDB, com aplauso dos que hoje, nos Palácios, julgam crime de lesa pátria ou lesa majestade exigir prestações de contas dos que administram a riqueza pública (e ainda é o caso da Petrobras). Pode ser que minha espinha seja quebrada pela massa dos militantes e de seus líderes. Mas ela jamais se inclinará para adular os conhecidos donos brasileiros do poder.

Roberto Romano