Terça-feira, 11 de Agosto de 2009
Collor por Marco Maciel em 1989: repetir e reelaborar
COISAS DA POLÍTICA - JORNAL DO BRASIL - 21/5/1989
Por Ricardo Noblat:
Para o Senador Marco Maciel, presidente do PFL, não há meio-termo: ou a candidatura do ex-Governador Fernando Collor de Mello à sucessão de Sarney se tornará um fenômeno eleitoral de proporções maiores que aquele registrado em 1961 com Jânio Quadros, ou resultará no blefe mais poderoso da recente história política do país. Ou uma coisa ou outra.
Assim, Collor poderá vir a ganhar a eleição já no primeiro turno. Ou chegará ao primeiro turno nas últimas colocações.
O palpite de Maciel pode fazer sentido e ter sua lógica mas, ao cabo, não passa de mero palpite. Ninguém é capaz, a essa altura, de prever o que se passará com Collor e com os demais candidatos à sucessão até novembro próximo.
A eleição — principalmente essa, tão rica em peculiaridades — é uma indecifrável caixa-preta sujeita a bruscas alterações de curso.
Mais de 80% dos eleitores que escolherão o futuro Presidente da República jamais votaram para presidente. Pouco mais de 70% dos eleitores ganham até um salário mínimo por mês.
Serão os pobres, miseráveis se preferirem, que decidirão a sorte dos candidatos. Por pobres, não votarão, necessariamente, em candidatos de esquerda. Boa parte dos ricos do Rio de Janeiro e de São Paulo votou no PT em novembro passado [eleição para prefeito e vereador].
O eleitor de novembro próximo votará, primeiro, no candidato que lhe pareça menos ou nada comprometido com o estado de aflição em que ele vive e, segundo, que lhe ofereça saídas razoáveis e factíveis para a crise econômica.
O eleitor votará em um candidato que identifique como algo de novo em relação ao que aí está.
Collor, por enquanto, parece ser esse candidato. As pesquisas mostram que as pessoas o enxergam como um político jovem, honesto, corajoso e bom administrador.
Falta-lhe o traço do estadista. Não importa às pessoas que ele tenha realizado um governo, administrativamente, medíocre em Alagoas. Elas atribuem isso ao boicote que Collor sofreu do Governo Federal. Põem a culpa em Sarney.
Alimentam uma fé, aparentemente, inabalável nas qualidades que julgam ter descoberto em Collor. O transcorrer da campanha se encarregará de provar se a fé, de fato, resistirá incólume.
"Nós, candidatos, chegaremos nus em 15 de novembro", confere o Senador Affonso Camargo, aspirante à indicação do PTB para Presidente da República. "A campanha será um verdadeiro strip-tease. Todos seremos dissecados e expostos”.
Collor não escapará às críticas justas ou injustas.
Seu principal ponto fraco é a falta de conteúdo político de qualquer natureza. Ele é vazio, não tem nada, a não ser intenções meritórias. Parece um ator que decorou sua fala e que interpreta o papel que lhe deram, ou que escolheu, de maneira convincente.Não tem biografia e não é por causa da idade que não tem. É porque nada fez de relevante até descobrir os marajás.
Não tem compromissos com coisa alguma, a não ser aqueles que a retórica da oportunidade lhe aconselha a dizer que tem.
O êxito de sua candidatura se ampara, no mínimo, em bases duvidosas. Apresenta-se como não-polítíco — mas nasceu em berço político tradicional e, primeiro como deputado federal, depois como prefeito de Maceió, pouco ou nada inovou em termos de métodos políticos.
Pede desculpa quando diz que foi enganado por assessores ao contratar mais de 5 mil funcionários públicos às vésperas de largar a prefeitura de Maceió.
Não comenta sua atuação opaca na Câmara dos Deputados entre 1983 e 1986. Naquele período, não se destacou por nada. Os anais não registram nenhum grande discurso que tenha feito.
Propôs 15 projetos de lei: onze foram arquivados, um anexado a outro e três considerados prejudicados.
Jura que só votou em Paulo Maluf para presidente por uma questão de fidelidade partidária. Maluf é padrinho do segundo casamento dele.
Collor tentou evitar que o então governador do Rio Grande do Norte, José Agripino Maia, apoiasse Tancredo Neves. Desembarcou em Natal com essa missão. Perdeu a viagem.
Pode ganhar a Presidência da República. Sem experiência, sem partido, sem densidade política.