sábado, 1 de agosto de 2009

De Adriana Vandoni, do Prosa & Política, por intermédio de um grande amigo. E as ameaças ao jornalismo seguem...

Audiência de Conciliação

(Adriana Vandoni) Ontem eu participei de uma Audiência de Conciliação na 1ª Vara Criminal de Cuiabá, no processo em que o Diretor Geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, move contra mim e pede minha prisão por crime de opinião. Para quem não sabe, a Audiência de Conciliação é uma exigência legal antes de se instaurar o processo, uma tentativa para que as partes tentem um acordo dispensando a instauração do processo. E é isso o que estávamos lá fazendo.

Logo que a audiência começou e a juíza perguntou se existia alguma proposta, Pagot de imediato disse que abria mão de pedir retratação, demonstrando sua disponibilidade em um acordo que findasse com o processo naquele momento. Numa eventual proposta de retratação, minha resposta seria não, pois se afirmo que não cometi os crimes que ele imputa a mim, não teria o que me retratar.

A audiência seguiu. Pagot se explicou sobre um processo que ele responde no ministério público federal que o acusa de dano material e moral ao Senado. Mas alertei de imediato que esse não era tema da ação e que a única vez que publiquei sobre o assunto foi a uns quatro dias atrás, depois que a Justiça Federal liberou o inteiro teor da Ação Civil Pública. E assim mesmo deixei claro no texto que o processo não tinha sido julgado.

Depois Pagot passou a reclamar da relação feita por mim (e por toda a imprensa) entre o empresário Paulo Leão e sua filha Franciele Leão, a ele (Pagot), que é amigo do pai e patrão da filha. Ainda batendo na tecla de me responsabilizar por algo escrito pelo jornalista Ely Santantonio, que eu nem conheço, Pagot disse que eu sugeri seu envolvimento no esquema de corrupção do qual é acusada a empresa do senhor Paulo Leão. O que afirmo e reafirmarei quantas vezes for necessário, não fiz. Quem fez foi a Promotora de Justiça, Dra Ana Cristina Bardusco, que em sua denúncia contra o empresário Paulo Leão, citou Pagot.

E blá, blá, blá. A proposta de uma conciliação passou a girar em torno de que eu deveria parar de falar dele de forma “jocosa”, e ele dispensaria uma “retratação”. Não entendi bem onde ele queria chegar com o “dispenso uma retratação”. Talvez quisesse “ficar de bem” comigo. Mas eu queria o lado prático disso. Minha preocupação estava no sentido prático e justo da compreensão do reclamado jeito “jocoso” de escrever sobre ele.

Mas não conseguiram chegar a um rol de palavras ou expressões que Pagot considera ofensiva à sua honra, pelo menos não que eu entendesse.

Ao longo da audiência Pagot contou seus feitos e refeitos, as casas que construiu, os estradas que abriu e pavimentou, as hidrovias que garantiu, as escolas que consertou, as professoras que valorizou e conquistou, os alunos que salvou, os acordos que selou, enfim, relatou lá todas as muito bem sucedidas e exitosas missões que recebeu ao longo de sua vida. De 2003 pra cá.

Tempo vai, tempo vem...e eu continuando sem entender o que deveria fazer para não ofender os sentimentos de Pagot. A subjetividade de questionar a forma de escrita de alguém é de uma complexidade tamanha que dificultava um entendimento prático.

Já no final surgiu a proposta de que, desta data em diante, tudo que eu escrevesse sobre Pagot ou que citasse seu nome, antes o consultasse. Ou por e-mail ou por telefone.

Bem, isso eu não poderia aceitar de forma alguma, até o próprio Pagot disse que não seria fácil o localizar, nem por telefone nem por e-mail, pois, segundo ele, às vezes passa “três dias sem abrir meu [de Pagot] site”, pois está constantemente se deslocando pelo Brasil e pelo exterior.

Mas independente da proposta em si, disse lá o que vou dizer aqui: toda essa histórica com Pagot, desde a interpelação judicial em dezembro, até hoje, me atingiu de uma forma que jamais aceitaria.

Durante a audiência Pagot citou diversas vezes minha família e o respeito que ela possui na sociedade do estado. Agradeço a sua afirmação. E é exatamente por essa credibilidade e respeito que minha família possui, que toda essa história me atingiu. Em momento algum da minha vida, vi na casa dos meus pais ou na casa de meus sogros, oficial de justiça cobrando ou intimando. Além disse, não existe qualquer fato que possa macular a integridade de ambas as famílias. E isso não é só de 2003 pra cá.

Prezo e zelo essa postura que recebi da minha família e da família do meu marido. E não suporto injustiça. Sempre tentei e continuarei assim guiando minha vida, de forma justa. Isso não quer dizer que seja imune a erros, mas quando os cometo, me retrato.

Disse à juíza, ao promotor e à Pagot, que jamais o chamei de ladrão, de corrupto ou de partícipe de esquema de corrupção. Critico, e essa é a função do jornalismo, sua atuação diante do órgão que dirige. E como homem público que ele é, precisa se acostumar a ser fiscalizado pelos órgãos competentes, cobrado pela população e criticado pela imprensa.

Não escrevo dele diferente do que escrevo de qualquer outro homem público. Tenho um perfil, como cada escritor tem o seu. A sua marca que o diferencia dos outros.

Qualquer acordo que eu aceitasse, estaria assumindo os crimes que não cometi e que Pagot imputa a mim.

Em meu nome e de minha família, quero e preciso provar que não sou o que ele me acusa de ser.

Como ele tem o direito legítimo de reclamar e me acusar, eu tenho o direto constitucional e o dever moral de defender meu nome.

Adriana Vandoni

www.prosaepolitica.com.br