(Adriana  Vandoni)  Ontem  eu participei de uma Audiência de Conciliação na 1ª Vara Criminal de Cuiabá, no  processo em que o Diretor Geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, move contra mim e  pede minha prisão por crime de opinião. Para quem não sabe, a Audiência de  Conciliação é uma exigência legal antes de se instaurar o processo, uma  tentativa para que as partes tentem um acordo dispensando a instauração do  processo. E é isso o que estávamos lá fazendo.
Logo  que a audiência começou e a juíza perguntou se existia alguma proposta, Pagot de  imediato disse que abria mão de pedir retratação, demonstrando sua  disponibilidade em um acordo que findasse com o processo naquele momento. Numa  eventual proposta de retratação, minha resposta seria não, pois se afirmo que  não cometi os crimes que ele imputa a mim, não teria o que me  retratar.
A  audiência seguiu. Pagot se explicou sobre um processo que ele responde no  ministério público federal que o acusa de dano material e moral ao Senado. Mas  alertei de imediato que esse não era tema da ação e que a única vez que  publiquei sobre o assunto foi a uns quatro dias atrás, depois que a Justiça  Federal liberou o inteiro teor da Ação Civil Pública. E assim mesmo deixei claro  no texto que o processo não tinha sido julgado. 
Depois  Pagot passou a reclamar da relação feita por mim (e por toda a imprensa) entre o  empresário Paulo Leão e sua filha Franciele Leão, a ele (Pagot), que é amigo do  pai e patrão da filha. Ainda batendo na tecla de me responsabilizar por algo  escrito pelo jornalista Ely Santantonio, que eu nem conheço, Pagot disse que eu  sugeri seu envolvimento no esquema de corrupção do qual é acusada a empresa do  senhor Paulo Leão. O que afirmo e reafirmarei quantas vezes for necessário, não  fiz. Quem fez foi a Promotora de Justiça, Dra Ana Cristina Bardusco, que em sua  denúncia contra o empresário Paulo Leão, citou Pagot.
E  blá, blá, blá. A proposta de uma conciliação passou a girar em torno de que eu  deveria parar de falar dele de forma “jocosa”, e ele dispensaria uma  “retratação”. Não entendi bem onde ele queria chegar com o “dispenso uma  retratação”. Talvez quisesse “ficar de bem” comigo. Mas eu queria o lado prático  disso. Minha preocupação estava no sentido prático e justo da compreensão do  reclamado jeito “jocoso” de escrever sobre ele.
Mas  não conseguiram chegar a um rol de palavras ou expressões que Pagot considera  ofensiva à sua honra, pelo menos não que eu entendesse.
Ao  longo da audiência Pagot contou seus feitos e refeitos, as casas que construiu,  os estradas que abriu e pavimentou, as hidrovias que garantiu, as escolas que  consertou, as professoras que valorizou e conquistou, os alunos que salvou, os  acordos que selou, enfim, relatou lá todas as muito bem sucedidas e exitosas  missões que recebeu ao longo de sua vida. De 2003 pra cá.
Tempo  vai, tempo vem...e eu continuando sem entender o que deveria fazer para não  ofender os sentimentos de Pagot. A subjetividade de questionar a forma de  escrita de alguém é de uma complexidade tamanha que dificultava um entendimento  prático.
Já  no final surgiu a proposta de que, desta data em diante, tudo que eu escrevesse  sobre Pagot ou que citasse seu nome, antes o consultasse. Ou por e-mail ou por  telefone.
Bem,  isso eu não poderia aceitar de forma alguma, até o próprio Pagot disse que não  seria fácil o localizar, nem por telefone nem por e-mail, pois, segundo ele, às  vezes passa “três dias sem abrir meu [de Pagot] site”, pois está constantemente  se deslocando pelo Brasil e pelo exterior.
Mas  independente da proposta em si, disse lá o que vou dizer aqui: toda essa  histórica com Pagot, desde a interpelação judicial em dezembro, até hoje, me  atingiu de uma forma que jamais aceitaria. 
Durante  a audiência Pagot citou diversas vezes minha família e o respeito que ela possui  na sociedade do estado. Agradeço a sua afirmação. E é exatamente por essa  credibilidade e respeito que minha família possui, que toda essa história me  atingiu. Em momento algum da minha vida, vi na casa dos meus pais ou na casa de  meus sogros, oficial de justiça cobrando ou intimando. Além disse, não existe  qualquer fato que possa macular a integridade de ambas as famílias. E isso não é  só de 2003 pra cá.
Prezo  e zelo essa postura que recebi da minha família e da família do meu marido. E  não suporto injustiça. Sempre tentei e continuarei assim guiando minha vida, de  forma justa. Isso não quer dizer que seja imune a erros, mas quando os cometo,  me retrato.
Disse  à juíza, ao promotor e à Pagot, que jamais o chamei de ladrão, de corrupto ou de  partícipe de esquema de corrupção. Critico, e essa é a função do jornalismo, sua  atuação diante do órgão que dirige. E como homem público que ele é, precisa se  acostumar a ser fiscalizado pelos órgãos competentes, cobrado pela população e  criticado pela imprensa.
Não  escrevo dele diferente do que escrevo de qualquer outro homem público. Tenho um  perfil, como cada escritor tem o seu. A sua marca que o diferencia dos outros.  
Qualquer  acordo que eu aceitasse, estaria assumindo os crimes que não cometi e que Pagot  imputa a mim.
Em  meu nome e de minha família, quero e preciso provar que não sou o que ele me  acusa de ser.
Como  ele tem o direito legítimo de reclamar e me acusar, eu tenho o direto  constitucional e o dever moral de defender meu nome.
Adriana  Vandoni