sexta-feira, 7 de agosto de 2009

E la vai coronelismo no The New York Times...é o mundo se curvando diante do Brasil!


07/08/2009

Escândalo pressiona por renúncia de líder brasileiro do Senado

The New York Times
Alexei Barrionuevo*
Em Brasília
O presidente brasileiro do Senado está sob grande pressão para deixar o cargo depois de acusações de nepotismo e corrupção que ameaçam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua reta final.

UM SENADOR SOB PRESSÃO

  • Folha Imagem

    "Eu sou vítima de uma campanha sistemática e agressiva", disse Sarney no Senado



O líder do Senado, José Sarney, é um ex-presidente que apoiou a ditadura militar e também conduziu a nação em sua transição para a democracia. Agora ele é considerado um importante aliado de Lula, que planeja aprovar uma contenciosa lei que afeta a indústria petrolífera no Congresso Nacional e também garantir um candidato que o suceda nas eleições presidenciais do ano que vem.

Nos últimos tempos, no entanto, Sarney tem sido objeto de reportagens que apontam que ele abusou de seu status de senador ao dar emprego e fazer favores para amigos e familiares. As acusações incluem favorecimento de seu neto em contratos do governo, uma conta ilegal em um banco fora do país e US$ 250 mil em dinheiro da companhia petrolífera estatal Petrobras que foram recebidos por uma fundação que leva seu nome.

Sarney, de 79 anos, recusou-se a deixar o cargo, afirmando que as acusações são falsas e exageradas. Ele também se fez surpreso com as acusações de nepotismos e favorecimento, dizendo que sua conduta não é pouco comum entre os senadores.

"Eu não favoreci meu neto ou minha neta", afirmou em discurso no Senado na última quarta-feira, com a mão tremendo como se fosse um discurso preparado. "Eu sou vítima de uma campanha sistemática e agressiva."

Acusações como as que pesam contra Sarney perturbaram o Senado em outra ocasião. Dois anos atrás, Renan Calheiros, membro do mesmo partido de Sarney, o PMDB, deixou o posto de presidente da Casa depois de um inquérito disciplinar no Conselho de Ética sobre acusações de sonegação de impostos e envolvimento na compra suspeita de uma estação de rádio.

O caso Sarney acontece em um momento difícil para Lula, que já sofreu escândalos em seu próprio partido, o PT, que forçaram membros do alto escalão a renunciar. A despeito de sua alta popularidade, Lula precisa da aliança com o PMDB para formar uma maioria governista no Senado.

O governo brasileiro está preparando uma proposta que dará à Petrobras o controle sem precedentes sobre o desenvolvimento das reservas da camada de pré-sal, que transformará o Brasil em uma potência nessa área, de acordo com uma pessoa que conhece a tal proposta. E o presidente está procurando apoio no Congresso para a candidata Dilma Roussef, ministra da Casa Civil, a quem ele escolheu para ser sua sucessora nas eleições de 2010.

Os escândalos envolvendo Sarney podem ainda complicar as investigações do Senado sobre possíveis improbidades na Petrobras, um inquérito que pode durar até 180 dias. Com aliados do governo em sua comissão, Lula esperava manter as investigações sob controle. Mas com o Senado em desordem e com denúncias envolvendo tanto Sarney quanto a Petrobras, a investigação "deve ser mais ou menos previsível", disse Erasto Almeida, analista do Grupo Eurásia e consultor político.

O conflito no Senado "está paralisando o Congresso", disse o analista político Alexandre Barros. "É muito difícil ter uma grande lei votada com tudo o que está acontecendo", avaliou.

Sarney, que se tornou presidente do Senado em fevereiro, é o último de uma geração de políticos que operaram em um antigo sistema político chamado de coronelismo, onde famílias poderosas como a dele ofereciam favores em troca de lealdade, dizem os analistas. O sistema permitiu às oligarquias agrárias dominar a política local, especialmente no meio rural do país e nas regiões Norte e Nordeste.

Sarney e sua filha Roseana atuaram no Senado juntos e são ex-governadores do Maranhão, Estado onde a família tem muitas terras e um conglomerado de mídia que controla um dos canais de televisão mais importantes da região. Neste ano, sua filha tornou-se governadora do Maranhão de novo.

"Nós estamos vivendo os últimos momentos de um cultura política que Sarney representa", afirmou Tasso Jereissati, senador do partido de oposição PSDB. Para ele, Sarney deve renunciar. "Tudo isso está vindo abaixo agora."

Alguns senadores defenderam Sarney com agressividade. Na sessão desta segunda, Fernando Collor de Mello, um ex-presidente que foi forçado a deixar o cargo por um impeachment e que agora é senador, expôs casos de corrupção de outros senadores, dizendo que eles não podiam criticar Sarney.

"Eles transformaram Sarney em um monstro", disse Romero Jucá, senador do partido de Sarney. "Ele não é um monstro."

Lula tem andado na corda bamba nos últimos dias, consentindo a defesa a Sarney e pressionando os senadores do PT a lhe darem as costas, enquanto ele mesmo se distancia da situação afirmando não ter nenhuma responsabilidade pelos problemas éticos do Senado.

Na última quarta, o Comitê de Ética do Senado votou pela derrubada de qurato das 11 acusações contra Sarney.

Um grande apoiador do golpe militar de 1964, Sarney foi governador do Maranhão nos anos 60. Depois se tornou vice-presidente em 1985, durante a transição do país para a democracia. Após a morte do presidente eleito Tancredo Neves, tornou-se presidente. Durante seu mandato, que durou até 1990, tornou-se extremamente impopular devido à crescente inflação no país. Em seguida, tornou-se senador e presidente do Senado de 2003 a 2005.

* Mery Galanternick contribuiu com reportagem do Rio de Janeiro.

Tradução: Ana Sachs