terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Por sugestão de Marta Bellini. Mas pergunto, é só em Rosarno, ou em toda a Itália, hoje fascista e contente com seus Berlusconis?


ATÉ AMANHÃ

“Nos guetos da Itália, isso não é um homem” – poema de Adriano Sofri in La Republicca de 10/1/2010. Trata-se de uma referência ao imprescindível livro de Primo Levi “È isso um Homem?” (no Brasil, editora Rocco).

Rosarno é o cu do mundo. É uma cidade localizada em uma das regiões mais pobres e violentas do mundo, a Calábria, no sul da Itália. Neste cu do mundo, controlado pela máfia local que se auto-intitula de ‘Ndrangheta, palavra de origem grega que significa “heroísmo”, os Texes Willers locais formam patrulhas de “cidadãos” que saem à noite para caçar “negros” pela cidade, visando o extermínio e a expulsão, quando a primeira alternativa não dá certo. Ontem esses italianos proclamaram admiração incondicional pelo “líder” fascista Umberto Bossi, que, atenção, não lidera essas bestas-feras do sul, pobre e atrasado, mas sim é o grande timoneiro de um partido político da região norte, riquíssima, poderosíssima e cultíssima, a parte “nobre” da Itália. A Liga Norte é o partido mantido pelos pequenos, médios e grandes empresários ricos da Itália que “deu certo” – mais uma vez se demonstra o profundo amor, carnal, visceral, a ligar o capitalismo e o fascismo. Basta lembrar o dado surpreendente de Tony Judt em seu indispensável “Pós-Guerra” (ed. Objetiva, 2008, p. 97) sobre as bombas aliadas sobre a Alemanha nazista – deixaram intocados todo o parque industrial alemão e, nos julgamentos em seguida, os empresários nazistas se safaram, afinal de contas pior que o fascismo, seria o comunismo tomar conta, não é mesmo? Ou não será uma reedição, revista e atualizada, “seven”, do “pecunia non olet”, “dinheiro não cheira”? Voltando à Itália, essa admiração do eu-Sul pelo ideal do eu-Norte se justifica. Basta pensar nas milionárias cidades do norte, cidades das grifes, cidades cheirosas, pois nestas cidades já existem patrulhas de camisas beges, cheias de adereços negros – o retorno do recalcado é implacável, não perdoa -, que todos os dias percorrem a cidade à procura dos negros clandestinos, dos negros ilegais, dos negros pedintes, dos negros estupradores, dos negros, em suma. O sul da Itália olha para esse ideal do eu com tanto amor, com tanta paixão, que na cidade de Foggia, a 380 km. de Roma, foi criada uma linha de ônibus só para imigrantes africanos, ou seja, é o novo apartheid, pós-moderno, chique, “moderno”, glamouroso, inspirado no norte, é claro. Essa Itália dá nojo. É uma Itália que desconhece completamente sua história, seus ancestrais. Desconhece que os negros de hoje foram seu avós de ontem. É uma Itália que demonstra o quanto a Europa fracassou. Essa história de comunidade européia é uma bobagem, é uma história da carochinha que só os ingênuos e bobos acreditam. A Itália fascista de Rosarno está viva e atuante. É por isso que a poesia de Adriano Sofri vai cair no vazio. Os cus do mundo não querem mais ler. Querem agir – com paus, com pedras e...bombas. É verdade: isso não é um homem. É o terrorista de amanhã.