sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Que pena, a Unicamp ainda não gerou uma identificação de políticos falsos. Mas abaixo segue uma excelente notícia.


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Técnica identifica cédulas falsas

Pesquisadores do IQ detectam falsificação
de dinheiro em até 10 segundos

JEVERSON BARBIERI

Gustavo Braga Sanvido coloca nota em sensor desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Química: trabalho contou com colaboração da PF (Foto: Antoninho Perri) Uma nova técnica denominada Easy Ambient Sonicspray Ionization (EASI), capaz de analisar qualquer tipo de superfície utilizando espectrometria de massa, é a mais nova arma no combate a falsificações, principalmente no que diz respeito a cédulas de real, dólar e euro. A técnica foi desenvolvida pelos doutorandos Gustavo Braga Sanvido, Renato Haddad, Ramon Sarabia Neto e Livia Eberlin, do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massa, do Instituto de Química (IQ). Coordenados pelo professor Marcos Eberlin, os trabalhos contaram com a colaboração dos peritos Ricardo Cosso, Denison Maia, Adriano Maldener e José Jorge Zacca, todos da Polícia Federal (PF).

A técnica identifica, por meio de análise química, as características dos compostos presentes nas cédulas, obtendo a resposta em dez segundos. “A cédula verdadeira tem como presença constante quatro íons, chamados de íons diagnósticos”, afirmou Sanvido. Se esses íons não estiverem presentes, a cédula é falsa.

Como se trata de análise de superfície, a EASI permite também que um documento falsificado seja reconhecido. Sanvido cita como exemplo um testamento, cuja última linha sempre contém uma assinatura. Se alguém adicionar uma linha a mais no documento depois de assinado, a EASI reconhece, por meio de análise da tinta, a diferença entre a caneta utilizada no documento original e a que foi usada posteriormente.

“Existem vários fatores que podem atacar a tinta original, entre os quais o oxigênio e a luz. Mesmo que a pessoa utilize uma caneta da mesma marca, isso não garante que ficará igual. A composição do corante também é diferente e, dessa maneira, fica provado que o documento foi alterado posteriormente à assinatura”, explica o pesquisador.

Existe, ainda, a possibilidade de que as linhas se cruzem no documento e, mesmo assim, é possível detectar a fraude. É feito um mapeamento de cada linha separadamente e, também, de um ponto de intersecção. Com isso, é possível determinar qual linha está por cima, ou seja, aquela que foi escrita depois.

Sensor desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Química: trabalho contou com colaboração da PF (Foto: Antoninho Perri) O trabalho, que foi realizado com a colaboração da Polícia Federal, abriu uma nova frente de trabalho para o Laboratório, que é a área forense. “Estávamos trabalhando com a questão da fraude do leite – amplamente divulgada na mídia nacional – e ao mesmo tempo pesquisando essa nova técnica, quando a Polícia Federal viu e se ofereceu para colaborar fornecendo notas falsas apreendidas para análises”, contou Sanvido.

Até então, revela o pesquisador, os testes estavam sendo realizados de forma amadora, já que as notas eram “produzidas” pelos próprios pesquisadores. As cédulas verdadeiras eram escaneadas e, além de submetidas à técnica EASI, passavam por uma análise estatística que conseguia diferenciar o tipo de impressão – laser colorida, jato de cera, jato de tinta e offset.

A técnica, de fato, comprovou sua eficiência a partir do momento que passaram a ser analisadas falsificações que tinham um grau de sofisticação mais elevado. Segundo informações da Polícia Federal, notas de R$ 1 (um real) verdadeiras são lavadas e o papel moeda é reutilizado para uma nova impressão. O pesquisador explicou que, mesmo sendo papel moeda, a análise aponta a existência de falsificação, uma vez que a análise química é feita na superfície. “Independentemente do papel em que foi feita a impressão, o resultado mostra que a tinta utilizada é diferente daquela utilizada pela Casa da Moeda”, disse Sanvido.

A mesma análise foi feita com notas de dólar e euro, comprovando que a técnica pode ser implementada com qualquer cédula. “Por uma questão de sigilo, a Casa da Moeda não revela que tipo de tinta utiliza na impressão das cédulas. No entanto, por meio das análises de notas verdadeiras, criamos um padrão”, revelou. Segundo Sanvido, o equipamento utilizado para as análises foi adquirido no mercado. Entretanto, o sensor principal foi totalmente desenvolvido pelos profissionais do IQ, sob a orientação do Laboratório Thomson.

A pesquisa resultou na produção de artigo científico que foi aceito para publicação no Journal Forensic Science. Segundo Sanvido, a opção pela publicação neste veículo deu-se em razão do público alvo. “Os interessados vão ler o artigo, abrindo uma ampla possibilidade de sermos mais citados”, argumentou. O pesquisador ressaltou ainda que, levando-se em conta o tipo de técnica utilizada, trata-se de um trabalho inédito, uma vez que não existe nada publicado na área até o momento.

Aplicação
Sanvido acredita que possa levar alguns anos para que essa técnica chegue ao usuário ou ao comerciante no Brasil, já que os equipamentos não são simples nem baratos. Segundo ele, nos Estados Unidos, equipamentos portáteis com capacidade de análise rápida e com preço reduzido estão em desenvolvimento. No entanto, o pesquisador pondera que esse é um assunto que deve ser resolvido pelo mercado. Segundo o pesquisador, o Laboratório Thomson tem como filosofia atuar em parcerias. “Procuramos trabalhar com o maior número de pessoas que tenham formações diferentes”, alegou. O Laboratório conta hoje com farmacêuticos, veterinários, biólogos e químicos em um contexto interdisciplinar que facilita enxergar globalmente os assuntos, não focando apenas na estrutura química.

Entre as várias colaborações que o Laboratório Thomson desenvolve, está a Universidade de Purdue (EUA), local onde Eberlin realizou seu pós-doutoramento com o professor Graham Cooks. Sanvido contou que o professor Cooks é responsável por desenvolver uma técnica de mapear superfície, chamada Desi. “O objetivo é o mesmo que o nosso, porém, o mecanismo é diferente”, disse.

Ademais, o grupo de Cooks desenvolveu outra técnica batizada de invisible ink, que pode ser utilizada para marcar documentos criptografados. “A pessoa recebe um documento que contém um desenho transparente, cuja composição combina três íons distintos. Como ela já sabe que cada íon tem uma cor previamente combinada, usa o computador para preencher as cores determinadas e aparece aí uma marca d´água, validando o documento original”, detalhou.

Essa técnica, de acordo com o pesquisador, foi sugerida à Polícia Federal. “A colocação de uma marca d´água como essa nas cédulas seguramente dificultaria sobremaneira a falsificação. Também acarretaria numa diminuição de notas falsas no mercado”, concluiu Sanvido.