quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Unicamp. Assessoria de Imprensa

Grupo da Unicamp, que faz trabalho de campo no Haiti, está bem

Da Redação

Página do Jornal da Unicamp de 14 de dezembro. Em destaque o professor Omar Ribeiro Thomaz

[13/1/2010] "A situação está bem complicada aqui, realmente o terremoto foi muito forte. Todo nosso grupo está bem, todos os integrantes estão agora no centro de Port-au-Prince, juntos e sem nenhum arranhão. Daniel (Daniboy)". O relato está no blog http://lacitadelle.wordpress.com/ e foi postado hoje (2:15) por integrantes de um grupo da Unicamp que se encontra no Haiti, em pesquisa de campo. Aquele país sofreu um grande terremoto nesta terça-feira. A equipe da Unicamp, conforme relatou o Jornal da Unicamp de 14 de dezembro do ano passado, viajaria ao Haiti com o objetivo de "treiná-los em situações de conflito e pós-conflito, tendo como referência um projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido naquele país nos últimos anos, numa parceria com o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)". A comitiva, um grupo de seis alunos de graduação e uma aluna de mestrado, é coordenada pelo professor Omar Ribeiro Thomaz, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.


MAIS SOBRE GRUPO NO HAITI
EPTV - Grupo da Unicamp que faz trabalhos
especiais no Haiti está bem, diz professor

Tremor de pelo menos 7 graus de magnitude
atingiu o Haiti na noite de terça-feira (12)


13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 23:48
Arquivado em: HAITI

Estamos numa casa que não foi afetada pelo terremoto. Na verdade, desde ontem passamos a maior parte do tempo no jardim da casa, e quando estamos dentro evitamos ir ao segundo andar e estamos sempre atentos aos inúmeros tremores que se sucedem. Desde ontem a população dorme nas ruas, e períodos de silêncio são entrecortados por cânticos e clamores, sobretudo após os tremores. Em frente a nossa casa, foram erguidas barraquinhas, onde dezenas de pessoas se preparam para pasar mais uma noite. Os vizinhos servem comida e água para os que se abrigam nas barracas. Há pouco tocaram a nossa campainha. Nos convidaram para dormir nas barracas, compartilhando um espaço já pequeno, e afirmando ser perigoso nossa permanência na casa. Ficaram mais tranquilos quando viram que, por trás dos muros, dormimos nos jardim.

Omar Ribeiro Thomaz



Haiti: estamos abandonados
13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 23:39
Arquivado em: HAITI

A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.

Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.

Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Otávio Calegari Jorge



Porto Príncipe após o terremoto
13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 14:56
Arquivado em: HAITI

O grupo estava dividido em dois. Uma parte tinha ido à Universidade do Estado, entrevistar um professor, a outra ficou na La Pleiade, a maior livraria de Porto Príncipe. Eu estava na livraria. De repente, foi como se uma onda passasse pelos nossos pés e tudo começou a tremer. Corremos pro meio da rua e durante mais ou menos um minuto entre gritos e coisas caindo, ficamos perto um do outro.

As pessoas começaram a levantar os braços gritando “Jesus” e “Bon Dieu”, um posto de gasolina explodiu na quadra ao lado e feridos apareciam aos montes, dentro e fora dos escombros. Caminhamos em direção à casa do Viva Rio, onde estamos hospedados. Somos cerca de 15 brasileiros na casa.

Assim, Porto Príncipe veio abaixo. A ajuda internacional fazia a propaganda de um país que caminhava para a estabilização e de uma força militar da ONU, chefiada pelo Brasil, bem sucedida e preparada para possíveis adversidades. O terremoto e os rumores que começam a chegar na casa do Viva Rio no centro, Kay Nou, passam a impressão de que a cidade está abandonada. As tropas da ONU não saíram às ruas por enquanto para atender a população haitiana, possivelmente por se concentrarem no auxílio aos seus pares. Ouvimos notícias de saques, e escutamos tiros. A sensação é de que talvez as coisas piorem. Já falamos com o exército e estamos tentando entrar em contato com a embaixada.

Provavelmente saíremos daqui em algum tipo de evacuação. Mas o que vai ficar para os haitianos é a grande questão…

Ontem dormimos no jardim da casa ao som dos cantos de pessoas que velavam seus parentes e vizinhos.

Rodrigo



13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 14:07
Arquivado em: HAITI

Porto Príncipe, quarta-feira, 13 de Janeiro 2009.

A situação está se complicando: saindo às ruas em busca de água, o pessoal viu muitas pessoas feridas na rua, mortas, casas desabadas e pessoas retirando os escombros, além de briga por comida, saques, um tiroteio, e o pior, aparentemente, tudo isso sem a presença de nenhum tanque, carro ou oficial da ONU nesses primeiros momentos de pavor a população. Apenas soubemos que as tropas estavam removendo os escombros do Hotel Montana, um dos hotéis da alta classe, onde deveria estar personalidades da ONU. Torcemos para que as tropas já presentes no Haiti, e outras que devem ser enviadas imediatamente, não demorem a agir no seio da população, orientando-a na organização do socorro, antes que tal população tenha um acúmulo ainda maior de frustração e de pânico.

Werner