As notícias abaixo não foram colhidas em sites de esquerda, do centro ou da direita. Elas foram lidas na midia, que não tem compromissos, pelo menos provados, pró ou contra o prefeito de São Paulo. Na mesma velocidade em que as verbas de propaganda aumentam, diminuem as destinadas ao plano social. Empatam os governos : o federal é imensa agência de propaganda. O municipal de São Paulo, idem. Em nosso caso, trata-se do mesmo político que, diante de cidadão indignado e honesto, gritou "vagabundo". E segue a mesma linha arrogante e impiedosa de atuação. A prefeitura só recua em seus procedimentos —indignos de uma política respeitosa dos direitos— quando a grita se eleva entre as pessoas de bem. Basta, senhores ! RR
1) O Estado de São Paulo:
Quinta-Feira, 04 de Fevereiro de 2010 |
Kassab fecha albergues e lota ruas
Filipe Vilicic
A consequência é visível: vias e praças são ocupadas por uma massa cada vez maior de moradores de rua. Segundo estimativa da Associação Viva o Centro, são 2 mil na região. "E o número tem aumentado com o fechamento dos albergues", afirma o superintendente da instituição, Marco de Almeida. Ele diz que essa população cresceu na Avenida Duque de Caxias, na Praça da República e no Largo do Arouche. O Movimento Nacional da População de Rua estima que 15 mil pessoas vivam nas vias da capital (quase 5 mil a mais que há sete anos).
Queixas semelhantes tem a diretora da Associação Paulista Viva, Marli Lemos. "Depois que encerraram os serviços dos albergues, apareceu um monte de morador de rua por aqui", reclama. "Regiões onde não havia tantos mendigos, como a Alameda Santos e o vão do Masp, agora estão lotadas."
Desde 2008, a Prefeitura desativou dois albergues no centro: o Jacareí (antigo Cirineu), com quase 400 vagas, e o Glicério (conhecido como São Francisco), com 300 leitos, segundo a Secretaria de Assistência Social (Seads). "Mas chegamos a abrigar mais de 700 pessoas", relata frei José Santos, que administrava o Albergue do Glicério. "É claro que a maioria voltou às ruas." Neste ano, a Prefeitura pretende encerrar os serviços de outros dois centros: o República Condomínio AEB, com 85 vagas, e o Pedroso, com cerca de 400.
"O governo fecha os albergues centrais e diz para irmos para outros na periferia", relata Cícero Morais. "Quando me tiraram do Glicério, me mandaram para a zona leste." Morais afirma que os moradores de rua não quiseram ficar na periferia porque lá a infraestrutura é falha. "A segurança é ruim, não tem atendimento de saúde e falta lugar para vender lixo ou papelão."
Para o psicólogo Walter Varanda, cujo doutorado analisou o morador de rua, fechar vagas no centro para estimular a ida dessa população para outros bairros é tática ineficiente. "Há uma política de higienização, em que a Prefeitura tenta tirar os sem-teto da frente do cidadão", explica. "Mas eles não aceitam se afastar e voltam para baixo de viadutos."
2) Folha de São Paulo
São Paulo, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Kassab corta merenda de crianças carentes Compra enviada a abrigos conveniados foi trocada por verba mensal de R$ 2.300 Entidades abrigam em média 20 jovens; com o valor, cada uma delas tem R$ 3,80 para fazer cinco refeições por dia
Desde o dia 1º de janeiro, a gestão Kassab não entrega merenda nas entidades que atendem crianças ou adolescentes órfãos ou em situação de risco. Em vez da compra mensal -com alimentos não perecíveis, como arroz e feijão- e uma ou duas feiras por semana, a prefeitura repassa R$ 2.289 por mês às entidades, que atendem em média 20 jovens. Com a verba, cada criança tem R$ 3,80 por dia para fazer cinco refeições. A mudança, segundo as entidades e o Ministério Público, foi imposta pela Secretaria da Assistência Social, responsável pelos convênios. "As crianças fazem cinco refeições por dia, fora os lanches. Apenas em janeiro, gastamos R$ 5.900 com os mesmos itens [que eram repassados]", diz Maria Tereza da Silva, 49, coordenadora do abrigo Madre Mazzarelo (zona norte). O corte feito pela gestão Gilberto Kassab (DEM) acontece em um momento de alta na arrecadação municipal. Ao contrário do previsto, a receita cresceu 3,5% em 2009. Na zona leste, a Casa Bakhita atende 25 crianças de zero a seis anos. O gasto no mês passado foi de R$ 4.707. "Se não fossem as doações, teria faltado comida", afirma a secretária Darcy Finzeto, 66. Segundo estimativa das entidades, os gastos de fevereiro com alimentação devem ser maiores, já que os estoques, no mês passado, ainda continham sobras de dezembro. A Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses da Infância e Juventude da capital instaurou inquérito civil para apurar os motivos da mudança. A promotora Dora Martin Strilicherk pediu à prefeitura um estudo que justifique a verba. "Esse dinheiro não dá para comprar nem um coxinha e um suco. As crianças e adolescentes que vivem em abrigos já estão vitimizados. Agora, correm o risco de passar fome", afirma. A gestão Gilberto Kassab (DEM) já tentou cortar a quantidade de alimento oferecida em creches municipais. Em setembro de 2009, a Secretaria Municipal da Educação pediu aos pais de alunos que escolhessem qual refeição sairia do cardápio: o café da manhã ou o jantar. Kassab chegou a dizer que as crianças comiam demais. Depois, voltou atrás.
A Secretaria da Assistência Social informou que vai rever o valor do repasse destinado à alimentação dos menores em abrigos conveniados. Segundo nota, já está em andamento um estudo para readequação da verba. "Tal estudo terá como base uma ampla pesquisa de mercado que culminará na atualização do valor da despesa, com efeito retroativo a 1º de janeiro", afirma a nota. A prefeitura, porém, não estipulou um prazo para a finalização do estudo e possível correção dos valores de alimentação. De acordo com a pasta, a entrega da merenda nos abrigos conveniados era feita pela Secretaria Municipal da Educação até dezembro do ano passado. "Em 2010, essa atribuição passou à Secretaria Municipal de Assistência Social. Não houve corte no orçamento." |