domingo, 7 de março de 2010

It´s about nothing.

domingo, 7 de março de 2010

What f. are you doing?




Meus finais de noite aos domingos eram preenchidos pela HBO no começo desta década com o seriado The Sopranos. Um ótimo seriado, por sinal. Para quem não teve a oportunidade de assisti-lo a trama é sobre uma pequena divisão da máfia italiana de New Jersey (USA) comandada por Tony Soprano. A série começa quando Tony comemora sua ascensão como chefe e tem um ataque de pânico, em segredo começa a fazer terapia com a psicóloga Jennifer Melfi. A série mostra como Tony e seus ‘associados’ encaram a vida e como eles e suas famílias são hipócritas em relação à vida dupla que levam. Os valores católicos e morais conflitantes com a vida de criminosos são explorados na série. Tony dá um sermão em seus filhos sobre honestidade (quando não usa a mesma tática de coerção física aplicada em seus capangas com os próprios filhos) e em seguida ordena um assassinato ou mesmo prega a santidade no lar e a unidade do matrimônio segundo os preceitos da santa igreja e em seguida sai para se encontrar com a amante russa. A mulher e os filhos não fogem a regra. Discursam sobre moral, mas valem-se da posição de família do mafioso mais perigoso da cidade para coagir pessoas próximas, sejam estes vizinhos, colegas de escola ou mesmo comerciantes. Esta tônica é seguida por cada membro da organização mafiosa e suas respectivas famílias. Quando pegos em contradição entre o discurso e a vida que levam (e os bens que usufruem da atividade criminosa), sempre possuem uma resposta pronta na ponta da língua que ora os transformam em vítimas das circunstâncias ou em uma espécie de Robin Hood modernos. Quando Tony vai ao consultório da Dra. Melfi usa tanto de seu carisma, quanto de intimidação, para enganar a si mesmo e tentar enganar a psicóloga quando precisa falar de seus 'negócios'. A psicóloga acaba simpatizando com Tony o que leva a um dilema moral torturante até o final da série, já que Jennifer sabe que Tony é um mafioso. Em momentos quando conversa com outro psicólogo, Dra. Melfi chega a usar a mesmas desculpas de Tony para defendê-lo e para justificar a permanência de Tony como paciente.

Ao ler e acompanhar o caso da Bancoop, a cerne dos esquemas petistas (existem muitos outros, é a ponta do iceberg) não consegui parar de pensar em seriados como The Sopranos ou em filmes como The Goodfellas (Os Bons Companheiros), a trama petista daria um bom enredo para filme nos moldes ou uma série de mafiosos, com todas as nuances que envolvem histórias como esta: Esquemas com empresas fantasmas para “legalizar” o negócio da máfia (em Sopranos eram: Empresa de Aterro Sanitário, restaurante, açougue, empreiteira, sindicato de construção civil e uma boate) extorsão, chantagens, mortes “misteriosas” que se parecem com acidentes envolvendo figuras chaves nos esquemas. Em meio a tudo isto sempre temos os autores e seus simpatizantes com um esquema pronto de desculpas (ora alegando perseguição – no caso de Sorpanos - por serem ítalo-americanos e se enquadrarem em um “estereótipo” calcado em filmes e literaturas, ora afirmando que máfia não existe, sendo esta um produto de Hollywood) ou mesmo se colocando como vítimas de uma perseguição, já que são filhos de imigrantes pobres que conseguiram atingir um padrão elevado de vida e despertam ciúmes da elite local que não os admite em seus bairros.
Qualquer semelhança não é mera coincidência, mas um retrato que estamos diante de uma organização criminosa estruturada nos moldes da máfia. Quando ainda o Partido e seu líder eram apenas os guardiões da ética na política (o mesmo disfarce de Tony como homem de negócios) discursavam e davam lições de moral. Quando se descobriu o que escondiam por baixo do tapete, gritavam que estavam sendo vítimas de perseguição, pois a zelite não aceitava um torneiro mecânico na presidência. Ainda agora fazem discursos sobre moral e honestidade (inclusive o Capo da família, este não cansa de dizer como devemos ver o mundo) e quando estoura mais um escândalo das atividades mafiosas da ‘famiglia’ temos o velho discurso de perseguição, vítimas de ‘golpes eleitorais’.
A militância engrossa o coro, como as famílias dos mafiosos, sabem e usufruem, mas encontram ‘desculpas’ para justificar o meio de vida da família.
Imagino o Capo passando um sermão aos seus subordinados descuidados, agora, quando estoura estas coisas. Deve ser no melhor estilo Tony Soprano, pega pelo colarinho e dispara: “What fuck are you doing?”

PS: Lamento pelo Rap no vídeo, mas foi o único que encontrei com o diálogo clássico de Tony sobre o que ele é. Jamais um rap seria postado neste blog. Afinal 'it's a metal house'.